sexta-feira, 25 de março de 2011

Ainda as flores...

Acho que é hereditário, genético, sei lá, mas, como minha mãe, me ligo muito em flores e por falar em ligar, sempre há flores relacionadas às minhas lembranças.

Tenho uma bromélia rosa com pingentes azuis projetados como se quisessem ser melhores que as pétalas. Não entenderam ainda que o conjunto harmônico é que dá a beleza perfeita à flor. Ganhei da minha filha, Maria Cristina, num dia das mães, não me lembro o ano, mas sei que faz muito tempo: meu filho Paulo estava vivo e também me dava flores.

Tive um vaso de bico-de-papagaio. A Jacira, minha amiga, que me deu. Lembro muito bem: foi num dia de agosto de 1988, logo depois que terminamos a reforma do apartamento, para tentar apagar as marcas da tristeza da perda do José Claudio. Como se fosse possível amenizar a dor da perda de um filho com a mudança do cenário. O bico-de-papagaio cresceu e mudou-se para o jardim de minha mãe, onde reinou absoluto por exatos 20 anos.

Nesse mesmo jardim, ainda existem flores que plantei quando criança, como as violetas, não as africanas, não. Aquelas azuis, modestas, dos perfumistas, que tímidas, se escondem debaixo das folhas, mas pelo perfume, sempre são encontradas e até estrelaram o filme, “La violetera” -lembram-se? Vendidas e cantadas por Sarita Montiel – “Como aves precursoras de primavera en Madrid aparecen las violeteras”. Como eu, gostam de sol e muita água e foram na infância, as escolhidas para presentear as professoras. E, como professora que fui, a cada final de ano voltava para casa carregada de flores. Demonstrações efêmeras de carinhos eternos.

Um dia fui visitar uma amiga enferma em fase terminal, a Therezinha – com Th. A casa, um antigo sobrado e acompanhando a escada do térreo ao piso superior havia uma ampla janela com vitral, diante da qual desciam como cascata, as folhas de uma samambaia cujo vaso pendia do teto. Samambaia de metro. Nunca mais vi outra com folhas tão longas. Nunca mais vi a minha amiga, mas toda vez que olho para uma samambaia de metro, lembro dela, da casa, da excepcional planta. E lá se vão quase quarenta anos!

Samambaia me lembra Xaxim, os meus xaxins, hoje mais altos que eu, eram apenas mudinhas quando os recolhi dos destroços da abertura da Rodovia Mogi-Bertioga, lá bem no topo da serra, de onde, num tempo em que eu era feliz, podia ver o mar acompanhada da algazarra dos filhos à minha volta.

Com as rosas não tenho afinidade, são exuberantes, mas têm espinhos.

Para terminar, alguma coisa acontece no meu quintal: as Damas da Noite, as preferidas da minha mãe, estão na quarta florada de dezembro para cá. Nada usual, geralmente têm duas floradas nesta época. Será que tentam me dizer alguma coisa?

Um comentário:

  1. Lídia já lhe escrevi por e-mail sobre seu interessante blog. Escrevi também novamente um comentário que excedeu o número de caracteres permitidos, e para não perdê-lo mais uma vez, publiquei-o no Recanto de Letras para onde escrevo.

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