domingo, 24 de abril de 2011

Foi num domingo de Páscoa

Logo que nos mudamos para a Vila Carmen, estava por aqui um cachorro, Dique, que tomou conta da obra, durante a construção da casa. Era um viralata padrão, preto com algumas manchas brancas, muito bravo e por isso vivia preso, o que o deixava cada vez mais bravo.

Odiava todo e qualquer ser vivo que não fosse gente. Diziam que quando pequeno, galinhas e patos roubavam-lhe a comida e quando reagia caíam de bicadas em cima dele. Era um caso para terapia animal ou para o “encantador de cães”.


Se escapava era certo matar alguma galinha, nossa ou da vizinhança. Certa vez atacou o carneiro que o vizinho criava para o Natal, quer dizer, comeu sua fatia adiantado.


No quintal, além das galinhas, tínhamos lebres. Ganhamos um casal e num instante era um rebanho. Viviam num cercado onde de vez em quando de dentro de um buraco que aparecia como por mágica, saíam fofos filhotinhos.


Certo domingo de Páscoa, lá pela década de 50, após festejar os ovinhos de chocolate encontrados nos ninhos preparados na véspera – acreditávamos em Coelho da Páscoa – fomos como de costume para o quintal. A cena era chocante: uma das lebres, um macho, jazia estraçalhado bem em frente à porta da cozinha. Foi a gota d´água para meu avô sacrificar o cachorro. Não sei o que mais nos chocou, se a morte do coelho ou a do cachorro, que apesar de tudo amávamos.


Imagino que para o meu avô, legítimo descendente de suiços, “justo sem miseriórdia”, como me definiu um terapeuta, foi extremamente difícil tomar aquela atitude, e ainda me lembro dele calado, expressão dura na face, enquanto enterrava o pobre animal.

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