domingo, 10 de abril de 2011

O que faremos com a boa e velha Singer?

“Ah se esta máquina falasse, quanta história teria para contar!”.


Ela chegou em casa num dos últimos dias do mês de abril ou comecinho de maio de 1949. Morávamos em Indianópolis, na Avenida Macuco. Minha irmã tinha acabado de nascer, no dia 26 de abril e eu, com quase 4 anos passava por uma crise de ciúme por conta do lindo bebê que agora roubava de mim, parte da atenção, até então exclusiva, de minha mãe.




Era sábado e meu pai levou-me para um longo e desastroso passeio de bicicleta para os lados da Vila Nova Conceição. Depois de andarmos muito, passamos sobre uma ponte e foi ali que aquilo aconteceu. Sentada no “bagageiro”, num descuido e encostei meu pé na roda em movimento. Imediatamente ele se enroscou nos raios e freou bruscamente a bicicleta ao mesmo tempo em que comecei a gritar. Os ferros haviam arrancado o couro da lateral interna do meu pé e ele sangrava abundantemente.


Meu pai tentou me acalmar e, sem alternativa levou-me de volta para casa, onde minha mãe estava no corre-corre com o bebê. Logo na entrada da sala, ali estava ela: a tão esperada máquina de costura comprada na Sears do Paraíso e que acabava de ser entregue. À vista daquela novidade até a dor diminuiu.





Quanta roupinha fiz para minhas bonecas, quando lá pelos 8 ou 9 anos já mexia na máquina. Com retalhos de helanca vindos da Fábrica de Maiôs Jantsen, que ficava no mesmo quarteirão da Fiação Campo Belo, criava sem saber os nomes, “colants”, “fusôs” e “bustiers” para minhas “filhas”. Fiz até um vestidinho para o gato e ia com ele no colo, vestido de menina, esperar minha irmã na porta do GE Mario de Andrade. Ele fazia um sucesso danado na porta daquela escola.



Nessa máquina minha mãe fazia toda nossa roupa quando crianças e depois, cada uma de nós fazia as suas. Costurei minhas roupas, no tempo em que se usavam combinação e saiotes bem rodados e engomados, de algodão. Fiz meus uniformes do magistério e boa parte de meu enxoval. Apesar de seus 62 anos, está bem conservada e cumprindo com suas funções plenamente. Já a Sears, de onde ela veio, não existe mais, deu lugar ao Shopping Paulista.



Quem será que vai ficar com a boa e velha Singer?

5 comentários:

  1. Tenho uma Pfaff Kaiserlautern, que pertenceu a minha mãe quando mocinha e também me pergunto - quem será que vai ficar com ela?
    Adoro suas crônicas e sempre que posso, passo por aqui.
    Bjs.

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  2. Obrigada, amiga! O que está esperando para fazer um blog e colocar suas histórias maravilhosas????
    Beijo
    Lidia

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  3. Lidia minha mãe tinha uma ELNA e trabalhou incansavelmente nela fazendo nossas roupas, todas lindas(as minhas e de mais 3 irmãs),depois de muitos anos quando já não existia quem arrumasse a Elna minha mãe comprou 1 Singer e nela por muitos anos, também trabalhou e muito. Essas 2 máquinas estão com minha sobrinha Mayra que faz faculdade e moda, a ELNA está guardada, mas a Singer..trabalha quando necessário.
    abraço

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  4. A Elna tem um representante na Duque de Caxias ( D. Lori), a mesma senhora que vinha em casa consertar as Elna da família há 50 anos!Quando casei ganhei de meus pais uma Singer, que logo quebrou, e, num belo dia, dei de cara com uma Elna "no estado", pela qual paguei R$60,00, com caixa e tudo. Claro que corri para a D. Loris, que deu uma azeitada nas peças (ainda usam petróleo) e a máquina funcionou maravilhosamente, até eu conseguir trava´-la, com um tecido grosso. Paciência...

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  5. Minha mãe tinha uma Pfaff idêntica à sua Singer, isso na década de 50 em Botucatu. Ela fazia vestidos de noiva e eu, pequeno, ficava sentado ao lado dela. Em 1989 ela faleceu, e a máquina foi levada para Brasilia pela minha irmã caçula. Nunca mais vi a Pfaff de minha mãe, que ela pedalava com vigor, antes dos motorzinhos elétricos...

    Camilo Roberto
    Rio Preto

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