sexta-feira, 1 de abril de 2011

Peixe fora d’água

Preciso ir a Natal – RN, visitar meus netos que há muito não vejo. Mais uma vez irei enfrentar o sufoco do pânico de entrar em um avião. Não adianta, não consigo superar. E mais uma vez sai lá do fundo do baú, as peripécias da primeira viagem aérea, quando,em agosto de 1988, ganhamos, meu marido e eu, uma estadia de 7 dias, com tudo pago no Clube Mediterranée de Itaparica, BA.



Marinheira de primeira viagem guardava as imagens das revistas antigas, quando ainda lia revistas, onde nas propagandas das companhias aéreas ou em reportagens, apareciam mulheres chiquérrimas, de chapéu e luvas. Também minhas primas, da família de um comandante, eram pessoas muito finas que se vestiam nos melhores ateliês de São Paulo.



Assim, lá fui eu, num vôo para Salvador – o avião, não sei o modelo, mas era da Trans Brasil e não muito grande – numa manhã de calor extremo, toda vestida de seda, com direito a meias e sapatos altíssimos (ainda os usava naquela época). Logo ao me acomodar pude perceber que era um peixe fora d’água.



Encolhida na poltrona, suando frio de pavor, com a cabeça a aumentar e diminuir de volume a cada oscilação do vôo, via circular pelo corredor, depois do lanche servido, homens, mulheres e crianças de bermudas, calças jeans, camisetas, tops, tênis e até havaianas. Não só circulavam pelo avião, dando-me a impressão de que faziam a aeronave trepidar, como deixavam pelo chão copos descartáveis e guardanapos de papel, que ao chegarmos a Salvador sentíamo-nos como num final de feira.




No aeroporto, GOs nos aguardavam com bandeirolas com nosso nome e a indicação do veículo para seguir até a balsa. A balsa. Aí a coisa ficou cômica, para não dizer trágica. Éramos um pequeno grupo, nós os únicos brasileiros mais alguns franceses e americanos muito brancos, que se protegiam do sol escaldante do meio dia. Também eu, era confundida com eles e a eles me reunia na busca de uma sombra, vestida com estava.



Naquela imensa balsa, lotada de nativos em busca do sonhado final de semana na ilha - era sábado - nosso grupo de branquelos vestidos inadequadamente destacava-se em meio à multidão de corpos negros, sarados, com sungas, biquínis e fio dental. Eles viajavam em alegres grupos, batucando, tocando berimbaus, cantando e dançando e é claro, de vez em quando davam uma olhadinha matreira para o nosso lado, imaginando, sabe-se lá, de qual planeta teriam saído aqueles ETs.



Foi muito bom conhecer a Bahia, visitar Salvador, o Pelourinho, as belas praias e especialmente a Ilha de Itaparica com o magnífico clube da rede Mediterranée e seus GOs, sempre atentos e prestativos, empenhados em nos fazer felizes naquele cenário paradisíaco, mas voltei daquelas férias me perguntando de onde havia tirado a idéia, de que nos dias atuais, haveria glamour num vôo econômico que cruza os céus deste “patropi”.

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