sexta-feira, 8 de abril de 2011

Um velho cartaz



No subtítulo deste blog defini meu intuito, mas nunca imaginei ir tão ao fundo do baú como nestes últimos dias.

Minha mãe amorosa e sentimental, sempre guardou tudo. Por issos e por aquilos ela acumulava lembrancinhas de casamentos, batizados, aniversários diversos; papéis e laçarotes dos presente que ganhava, envelopinhos; quinquilharias do tipo: “estive em... e lembrei-me de você”; presentes que ganhou pelos dias das mães, dos tempos de nossa infância, acho que ainda estão todos aqui.

Era dela, devia ser respeitado e não questionado, mesmo quando já não tinha consciência de seus guardados. De tudo, as únicas coisas de que não esqueceu foram, a coleção de moedas, uma preciosidade e a sala de jantar com o jogo completo de cristal para bebidas, ambos adquiridos da tia Ruth, irmã do meu avô paterno.

Nesta semana, em mais uma de minhas arrumações, encontrei entre os velhos papéis de presente, cujo calhamaço nunca abri nestes mais de seis anos que aqui estou, um cartaz onde se lê um trecho de "El Viejo y la Vida" de Enrico Carta, que, no momento e condições em que me encontro, colocou-me em xeque. Parei o que fazia, aliás, nem lembro mais porque fui mexer naqueles papéis, num profundo exame de consciência, muito apropriado neste tempo quaresmal, e, humana como sou, relacionei mais alguns pecados para expor ao confessor.

Não sei de quem ela ganhou o cartaz, que está um pouco amassado e vou transformar em quadro. Vou perguntar às minhas irmãs, só sei que o achado caiu em minhas mãos no momento certo, em tempo de refletir sobre minha conduta, como cuidadora que ainda sou, do meu pai, com seus noventa e um anos e um temperamento extremamente complicado.

Obrigada mãe, por guardar tudo!

"El Viejo y la Vida"

Enrico Carta

Benditos aquellos que comprenden

que mis manos tiemblan y mi caminar es cansino!

Benditos aquellos que hablan en voz alta

para no subrayar que mi oido es duro.

Bendito el que no hace pesar mi torpeza en la mesa.

Bendito quien no me hace faltar

su sonrisa o una palabra gentil.

Benditos aquellos que me escuchan

cuando tal vez estoy repitiendo cosas ya dichas

o no me canso de volver a contar los hechos

de mi lejana juventud.

Bendito quien me demuestra afecto y me respeta.

Bendito quien quita las espinas de mi camino

hacia la casa del Padre.

Benditos aquellos cuya bondad hacia mi,

me hace pensar en el buen Dios.

Cuando pase el umbral de la vida sin fin,

me recordaré de ellos ante el Señor.

3 comentários:

  1. Vim da Missa a pouco. O Evangelho é de João, 11 que trata da ressurreição de Lázaro. 1º Jesus demonstra sua humanidade, chora, se compadece, é sensivel; 2 Usa de pedagogia, deseja a participação dos que estão proximos, pede para eles desatarem as faixas do morto; e 3º Já aqui trata da ressurreição plena, dos que já vivenciam-na, dependendo de seu compromisso e qualidade de vida. Quem crê, acredita na ressurreição ja vive vida plena, sem a paresia, que é a plenitude absoluta, na eternidade.
    Não se culpe, gostei do cartaz e do poema do Enrico Carta,"Bem aventura é aquele que faz, apesar de minha falta de jeito na mesa.."
    Seu pai, e o temperamento? Reze uma Ave Maria, bem devagarinho . Tudo vai passar.Perdão por ser longo.Clesio de Luca

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  2. Que bonito, Lídia! Eu tb guardo lembrancinhas, coisinhas e fitinhas. Guardei roupinhas de quando minha filha era bebê e que hoje, aos 34 anos, usou na Alice, minha netinha de quase dois meses. Uma das mantas usou na maternidade. As enfermeiras adoraram! Algumas pessoas dizem que essas preciosidades são "tranqueiras". Acho que, pelo contrário, constroem nossas histórias pessoais, nossos repertórios de vida, recapitulam e recordam momentos de nossa existência. Uns felizes, outros nem tanto mas, momentos, sempre. Bjs pra vc.

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  3. Muito lindas as palavras desta postagem. Tocantes. Também guardo "bugigangas" e nunca me perguntei porquê. As menores coisas se tornam importantes: moedas antigas, fotos, fitinhas, xícaras recebidas de presente, caneta e chaveirinho recebidos como presente, canecos especiais, recortes de jornal, bilhetinhos, desenhos das netinhas, alicatinhos e tesourinhas da mamãe... Tenho até uma bússola de agrimensor e um antigo radinho de pilha (que ainda funciona). Por que será que essas coisinhas são tão importantes para nós? Por que?? Quem esplica isso? Freud é que não é!

    Camilo Roberto C. F. Costa

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