segunda-feira, 23 de maio de 2011

“Uma família como as outras...”


Há bom tempo, por indicação do amigo Juliano Spyer, um gênio da internet, li o livro “Baú de Ossos” de Pedro Nava. Li não. Devorei o volumoso exemplar que até me tirava o sono de tão interessante e rico literariamente. Na mesma ocasião, enquanto organizava fotos antigas, deparei-me com esta em especial, datada de 1909, da família do meu bisavô João Walder Sobrinho, avô paterno de meu pai, e impossível foi não associá-la à leitura e viajar nos paralelos.

Olhava para esses rostos e encontrava neles um pouco de cada um de nós desta família. Meu pai lembra muito meu avô, eu também, porém me vejo também na expressão de desalento de minha bisavó. Minha irmã Sid tem os olhos azuis da tia avó Frene (Verônica) que cheguei a conhecer, alguns de meus netos bem como dois de meus filhos e eu na infância carregamos os cabelos loiros dessas crianças da foto, mortas algumas, bem como o pai numa epidemia de tifo em Piracicaba, no primeiro quarto do século.

Meu temperamento curto e grosso, meu caráter rígido e seco, meu gosto pelas artes, repetem meu avô aí retratado e meu pai ainda por aqui. Outras peculiaridades me remetem ao outro ramo da árvore genealógica, o ramo materno, a teimosia e a persistência dos hispânicos, por exemplo, e me vejo composta dos pedaços de cada uma dessas pessoas concluindo que nada mais sou do que um mosaico da memória viva de todas elas, vivendo em um novo tempo e nesta cidade, escolhida por elas, para serem continuadas.

Por tudo isso, localizei trechos do livro em questão e os junto à foto.

“... Gosto de saber, na minha hora de bom e de mau, na de digno ou indigno, nobre ou ignóbil, bravo ou covarde, veraz ou mentiroso, audaz ou fugitivo, circunspecto ou leviano, puro ou imundo, arrogante ou humilde, saudável ou doente – quem sou eu. Quem é que está na minha mão, na minha cara, no meu coração, no meu gesto, na minha palavra; quem é que me envulta e grita estou aqui de novo, meu filho! Meu neto! Você não me conheceu porque estive escondido cem, duzentos, trezentos anos...”.

“... Poeticamente, a genealogia é oportunidade de exploração no tempo. Nada de novo sobre a face do corpo. Nem dentro dele. Esse riso, esse jeitão, esse cacoete, esse timbre de voz, esse olhar, esse choro, essa asma, essa urticária, esse artritismo, esse estupor, essa uremia – são nossos e eternos, são deles e eternos. Vêm de trás e vão marcando uma longa cadeia de misérias. São sempre iguais e emergem das balizas trágicas do nascimento, do casamento, do amor, do ódio, da renúncia, da velhice e da morte. Meu, teu, seu, nosso, vosso, deles, delas. Eu, tu ele, nós, vós, eles. Entre dois nadas os pronomes dançam. Ah! Dançam em vão... Assim como é, racialmente, minha gente é o retrato da formação dos outros grupos familiares do país. Com todos os defeitos. Com todas as qualidades...”.

“... Uma família como as outras...”.

E parodiando o autor:

Pois é... Eu sou uma pobre mulher paulistana do Caminho Novo, das Paragens dos Campos de Piratininga.

Obs.: Na foto estão meus bisavós paternos, 11 de seus 12 filhos, sendo que a 12ª, Ruth, ainda se esconde no ventre de dona Maricota, como dá para perceber pelo estilo de seu vestido. Meu avô, com 15 anos então, é o primeiro no alto à esquerda.

3 comentários:

  1. Minha mãe tem a mesma foto colocada na parede, no fim do corredor, como a senhora já deve ter reparado. Ao olha-la durante a tarde com o sol do quarto iluminando-a, causa, mesmo naqueles que não conheceram os andares de cima da genealogia, a verdadeira sensação de família. Ao olha-la pela noite deve-se tomar cuidado para não confudir com a Família Adams e perder o sono.
    Lindo Texto.

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  2. Artur! Esse é o meu neto zoador!! Só você pra me fazer rir a esta hora, no dia em que fiquei sem minha querida secretária, que pensou que era passarinho, voou escada abaixo,está toda remendada no hospital e rindo da própria desgraça - uma sábia mulher!
    Beijos 1000

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  3. Olá Lidia, Me chamo Rafael e sou descendente dos Walder, sou bisneto de sua Tia-avó Maria Helena Walder (Irmã da Verônica), se possível entre em contato comigo para trocarmos informações e boa histórias! - email: rizzi92@gmail.com

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