segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Qualquer semelhança com pessoas e fatos reais é a mais pura verdade

Finalzinho de maio ou início de junho de 2010...

Segunda feira. Pescaria. É... Levantar cedo apesar do frio. Encarar o trânsito apesar do rush. Entre ida e volta três longas horas. Muito a fazer, o tempo correndo. A 25 de março me espera. Espera e sabe quanto a detesto. Lá vou eu. Afinal, 51 toalhas não são feitas da noite para o dia, sequer decidi o tecido e faltam poucos dias para o grande evento.

O dia está quente e acreditando na meteorologista estou agasalhada. Entro e saio das lojas, atenta por onde ando. Costumo me perder por ali. O sol, a multidão, a falta da quantidade necessária do tecido (ah, já decidi: será Oxford, prático, fino e barato), o pânico que começa a tomar conta de mim, somados à menopausa, me fazem esquentar. Esquentar muito!

Depois de mais de hora de espera, arrastada de um lado para o outro pela multidão, à beira do balcão de ofertas do “Oxford”, 1,50m de largura, R$ 3,99 o metro - uma pechincha – a quantidade necessária do tecido chega, pago a fatura e constato que, embora deva fazê-lo, não consigo tirar do chão os pacotes. Arrasto-os até a rua e coloco eu mesma, no porta malas do taxi providencialmente parado bem ali e com um motorista nada gentil.

O trânsito colabora e antes da 13h almoço. Começo a cortar as toalhas. Passa o Jornal Hoje, o Vídeo Show, a Sinhá Moça e a sessão da tarde. Faço uma pausa para o jantar e vamos lá: a Missa da Rede Vida e a Novena do Divino Pai Eterno. Acabei: 51 toalhas cortadas e ainda são 20h e 30min. Um montão de coisa pra fazer, mas afinal, a noite é uma criança.

Terça feira. Exame do pai com a fonoaudióloga às 9h, na Brigadeiro Luis Antonio. Fácil. Às seis e trinta toca o despertador. Só garantia, já estava acordada. Acordada mas a preguiça me segura na cama como se o corpo pesasse uma tonelada. Tudo dói: o que já doía e algumas dores novas. Arrasto-me à cozinha para fazer o café. Cadê a água? Paciência... Vou até o poço e a bomba, solidária recusa-se a acordar. Consigo. Agora tem que esperar o ar sair do cano, mas sei que uma hora a água chega. Café feito, a secretária a postos com o pão fresco e... Ei-la em busca do banheiro de cima, pois o de baixo está ENTUPIDO. Ainda bem que é cedo e posso resolver o problema com calma, tomar o café, aprontar-me.

Tudo posto, o pai ainda deve alimentar o gato, os peixes e bater papo com a secretária. Vamos, vamos... Verifico como de costume a água do carro e completo o pouquinho que falta. Antes de ir para o consultório devo passar pela igreja e deixar um material de minha responsabilidade.

Agora estou em cima da hora e sei que duas pessoas foram atropeladas na Avenida Ibirapuera. Não devo ir por lá. Fácil, vou pela parte de baixo do bairro, fácil, fácil. Na primeira virada, uma feira livre. Esqueci! É terça feira! Volto e vejo que a Avenida Santo Amaro está parada. Agora é rezar para que as atropeladas já tenham sido removidas e ir pela Ibirapuera mesmo. Deu certo. Às 8h e 55min adentro o consultório e trinta e cinco minutos depois, saímos e parece que o dia vai render.

Largo o carro com o pai numa travessinha, ao lado Hospital Brigadeiro e corro ao laboratório para pegar resultados de exames. A atendente, gripada, economiza a garganta e grunhe algumas palavras, entre elas entendo que devo esperar a minha vez. Vez que demorou mais de meia hora. Corro de volta ao carro. Agora é só voltar e começar a costurar as 51 toalhas. É cedo e devo deixar o pai no barbeiro. Tudo vai dar certo.

Na Arapanés, quase esquina com a Cotovia, um barulho vindo das entranhas do KA-rrinho me faz direcioná-lo para a direita, o suficiente para ocupar metade de cada faixa e ele morre. Morre de uma vez. Carros, ônibus, caminhões, motoristas estressados que pelo jeito que reagiam, nunca viram nem imaginaram que aquilo poderia acontecer. Não sei de onde, aparece um senhor, ou melhor, um anjo que empurra o veículo, fazendo com que eu consiga virar na Cotovia e seguir em frente devido ao declive do local. Sumiu. Nem pude agradecer.

Aciono o seguro e em menos de 10 minutos ali está o mecânico gentil que já me atendeu em outra ocasião. Nada pode fazer. É caso de guincho, mas não tem problema, a oficina é perto. Devo me comunicar com a seguradora novamente e, entre ônibus, caminhões e aviões, falo sem saber se sou ouvida, até o fim dos créditos. Agora é apostar na sorte. Sorte que logo se manifesta por meio de um torpedo, avisando que o guincho está a caminho e se encontra na Avenida Mil Oitocentos e Vinte e Dois, no bairro do Ipiranga. Glória a Deus! Afinal, ainda são apenas 11h. (Isto rendeu outra história...)

No bar onde acomodei o pai, enquanto vou ao Pão de Açúcar recarregar o celular, o proprietário consulta todos os presentes acerca da nota de 50 que ele deu para pagar o copinho de água que pediu. Com toda razão, com esse derrame de notas falsas que tem por aí, bem podia ser um velhinho querendo dar o golpe. Com o carro quebrado, parado na porta do estabelecimento...

Tudo resolvido, finalmente às 14h sento-me ao computador para fazer os relatórios para a reunião da noite à qual não compareci, por cansaço, claro, mas para a qual levei o material até a igreja, à tarde, aproveitando para fazer Cooper, passar no mercado e na farmácia.

Quarta feira. Logo cedo instalo a máquina de costura no quarto dos fundos. Mais espaço, mais ar. Manhã toda costurando. Veja o lado bom: não fiz o almoço e o serviço rendeu: 12 das 51 toalhas estão prontas e passadas. Um bom começo.

Quinta feira. Costuro, lavo roupa, faço um pouco de jardinagem, preparo o almoço. Recebo a notícia de que a tia Mariazinha não está nada bem, entre a retomada da costura e a visita do seu Geraldo. Urge que façamos essa visita hoje. Amanhã pode ser tarde. Orquestro com a Maria o andamento da situação e depois de um cafezinho com pães doces com recheio de goiabada (freezer é pra essas coisas!), preparamos a mãe, chamamos o taxi e num piscar de olhos estamos no Jardim Miriam, ao lado do leito da enferma. O taxista propôs desligar o taxímetro e esperar para trazer-nos de volta. Bom.

Toda a família por lá. A situação não está nada bem e a mãe, sem reconhecer nenhum dos presentes, chama a tia de “senhora” e trata-a como se desmemoriada fosse ela e, nos 45 minutos que se seguem, alterna críticas à quantidade de cobertas que estão sobre ela e as apresentações de si mesma e da minha pessoa para a coitada da velhinha que lúcida e surda não entendia nada e já se mostrava irritada. Seria cômico se não fosse trágico, mas mesmo assim e apesar de tudo, rimos muito.

Afinal, o que é a vida senão uma grande tragicomédia da qual não sairemos vivos mesmo?

FIM

*As 51 toalhas foram feitas e fazem sucesso.

*O gato chama Azambuja e está cada dia mais folgado.

*O peixe-fêmea já morreu.

*O KA-rrinho já era!

*Meu pai vive, continua pescando e atormentando todo mundo.

*Minha mãe e a tia Mariazinha faleceram.

*Eu continuo correndo como cachorro que quer pegar o rabo

Um comentário:

Obrigada pela visita. E por favor, deixe seu nome para que possa agradecer individualmente.