sexta-feira, 6 de julho de 2012

FUÇANDO NO BAÚ - I

"Nada como um dia depois do outro..."

Quarta-feira, 12 de abril de 2006. Lá pelas 13h30min, saio com algumas tarefas para cumprir. Coisa de umas duas horas e estaria de volta. Demorei mais de 8 horas e só resolvi dois assuntos, mas em compensação tenho uma novela para contar. Claro que será em capítulos. 

Embarco em um ônibus na Vicente Rao e desço na Brigadeiro Luiz Antonio, para dali seguir a pé até ao Banespa da Tutóia. Entre o ponto e o banco, 5 quarteirões, acontecem dois encontros inesperados. 

O primeiro no portão da casa de dona Maria Angélica, mais de 80 anos. Ela espera o rapaz que vem auferir o consumo da água, para “conferir” seu trabalho. Paro. Somos conhecidas há muitos anos.  Cumprimentos calorosos, relatórios sobre como estão os velhos  moradores da Rua Álvaro de Menezes - dona Dilma morreu, faz uns seis meses – e sobre o mais importante: o bingo da igreja do SSMO. Sacramento. Ah! Dona Maria Angélica é viciada nesses bingos da igreja, não perdia um até que machucou o joelho e precisou fazer repouso. “Mas logo fico boa e volto a participar”, comenta animada enquanto sigo meu caminho. 

Atravesso a rua e encontro a Dora e a filha. Essa Dora, a melhor amiga da “outra”, sempre que me encontrava, media-me dos pés à cabeça e com o nariz torcido suspirava: “Você está tão magra! O que aconteceu?”. Justo eu que não mudo de peso há pelo menos 25 anos! Naquela época, meados da década de 90 ela já estava com seus 60 anos. Estudava psicologia e tinha essa filha com 15 ou 16 anos. Diziam as más línguas, que ela estudava para conseguir um marido, visto que era viúva. Encontrava-me com ela quase todas as tardes quando retornava do trabalho e passava no supermercado Yayá para pegar o pão. 

 Nesse dia estranhei. Ela me olhava como se não estivesse me vendo, através de mim. Cumprimentei e beijei as duas e logo percebi que ela não estava nada bem. Aí, a filha, que sempre foi muito direta, soltou a pérola: "Mãe, não tá lembrando dela? É a Lidia, a ex-mulher do xyz, “aquele”, da Geny. Lembra?”. “Ah... é mesmo...”, balbuciou inexpressivamente. 

Eu não sabia se ria do “feeling” da menina, que sempre foi meio brucutu, ou se chorava por causa do estado lastimável daquela que vivia me encolhendo. Despedi-me com os beijinhos de praxe e segui lembrando da avó de uma amiga que dizia: “Nada como um dia depois do outro”.

Foto: Rua Tutóia, lado ímpar, esquina com Manoel da Nóbrega - 1986

4 comentários:

  1. existem situações que só rindo mesmo para q o momento valha a pena ou o melhor é chorar?!
    abraço

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    1. Pois é Marcia, há tempo para chorar, assim que as coisas acontecem e ainda não as processamos e tempo para rir, quando o Mestre Tempo já nos fez entender que elas não eram tão importantes assim. Beijo

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  2. é isso aí, nada como um dia apos o outro e a foto sensacional.
    Bjs
    esther

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