domingo, 28 de outubro de 2012

Agora somos verdadeiramente órfâs


Meu pai faleceu sábado, dia 27 de outubro, depois de 88 dias nas garras de uma complicação pulmonar contra a qual lutou bravamente até a exaustão, quando seu coração de 92 anos, 9 meses e 22 dias não resistiu mais.

Homem rude e simples, temperamento forte herdado dos ancestrais germânicos e coração generoso onde circulava o sangue lusitano, viveu para o trabalho e a família e entre acertos e erros, apesar das dificuldades financeiras advindas de sua condição de operário metalúrgico criou e formou as três filhas até o ponto de alçarem voo com as próprias asas. 

Entre o trabalho assalariado até a aposentadoria e mais os anos de serviços prestados como consertador de fogões, chegou trabalhando ativamente até os 84 anos, quando um AVC lhe impôs o primeiro limite e ele descobriu que nem sempre estaria no comando das rédeas da vida. O primeiro baque. 

Nos oito anos que se seguiram tentou diuturnamente provar que não era um inútil, como na verdade se sentia, e sempre estava à cata se serviços, nem sempre condizentes com sua situação frágil. 
Superou um carcinoma no maxilar em 1991 e suportou durante os últimos quatro anos a lancinante dor da degeneração do nervo trigêmeo e até o último momento de consciência não aceitou a cruel, porém natural realidade da decrepitude. 

Não tinha escola mas não lhe faltavam conhecimentos, não tinha religião, mas acreditava em uma força superior acima de todas as coisas. Amava e respeitava profundamente a natureza. Gostava de pescar, ouvir valsas vienenses e tocar sua gaita alemã, que o acompanhou na internação, divertindo aqueles que o assistiam. 

Seu desgosto na vida, foi não ter tido um filho homem, mas não perdia a chance de dizer que suas filhas eram as melhores do mundo. 

Suas últimas palavras dirigidas a mim no leito de morte foram: “me dá um gole de água mãezinha”, gole tornado em gotas, que não saciou sua sede, mas aliviou meu coração ao vê-lo confundir-me com a figura de “mãe”, bem como minha mãe o fez em seus últimos anos. 

Agora somos órfãs, como disse minha querida irmã Sid diante daquele corpo à nossa frente, pela primeira vez em nossas vidas, totalmente em estado de repouso. 

Que a luz perpétua brilhe sobre o senhor, meu pai e que Deus lhe dê a paz que tanto buscou nesta vida terrena. 


Walter Walder:  05/01/1920 - 27/10/2012

Não encontramos palavras para agradecer a todos que nos confortaram durante este período difícil de nossas vidas e àqueles que o farão ao se inteirarem do ocorrido. Só Deus poderá recompensá-los.

2 comentários:

  1. Lídia,
    DEUS lhe dará forças suficientes !!!
    Meus sentimentos.
    bjs no fundo do seu coração
    com carinho
    Rosaly

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  2. Perder a mãe, perder o pai é perder o chão, o rumo ...o sentido.
    Minha amiga o bonito de tudo é você com certeza ter sido uma filha e tanto, ali firme com o seu pai, uma vida toda.
    Abraço forte

    Marcia Ovando

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