sábado, 12 de abril de 2014

ANOTAÇÕES



06/04 – Enquanto o táxi avança na escuridão da noite, tento dissipar a névoa do tempo em busca da lembrança de bons momentos vividos por aqui. A família, raramente reunida para férias, as crianças, meu pai, certa vez tido por meu amante... Foi engraçado ver o desconforto, para não dizer a maldade, de pessoas que conheciam meu marido, aqui me viam com esse outro homem e davam asas à imaginação. Não julgueis...
Naquele tempo não estranhava o fato de nunca contar com a companhia de meu esposo em nossas férias. Ele trabalhava muito... “Você não soube me amar, você não soube me amar...” berrava o Evandro Mesquita, naquelas noites de janeiro. Início dos anos 80, eu era tola e não entendia...
A última vez que aqui estive foi em 1992 – julho. Uma semana de solidão, chuva e frio. Frio na alma pela percepção de que começava a perder meu filho caçula e meu grito de socorro ecoava em vão resvalando em interesses então desconhecidos. Tola, tola, tola!

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07/04 - Hoje conheci a Jaqueline e sua garça, ambas estagnadas. Ela mãe solteira e como a garça, dependente do pai pescador. Garças me encantam, talvez por que houve um tempo em que era chamada de “minha garça”. Com esta, a da Jaqueline, aprendi que elas, as garças, prezam a higiene. Pega o peixe, voa em direção à poça d´água, lava-o, come e volta para tentar um bis. Pena que hoje a pesca não foi boa.



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08/04 – Sigo a rota dos pescadores. As boias alinhadas perpendicularmente à praia demarcam os caminhos das redes. De repente, centenas de biguás sobrevoam a área em busca da pesca fácil. O horizonte torna-se sinuoso e dinâmico ao mergulho alternado dos grupos de aves.

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09/04 – Às vezes, apesar dos meus braços perfeitos, me atrapalho ao executar tarefas simples, como servir-me do café. À minha frente, no buffet, o rapaz com um braço só, serve-se com desenvoltura das iguarias da mesa enquanto conversa animadamente com a esposa. Foi um acidente e levou-lhe o ombro também.

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10/04 – Devia ter dado atenção àquele velhinho tímido e simpático que puxou conversa na sala de jogos. Pelo pouco que disse, talvez fosse um caso clássico de escuta solidária. Quem sabe o encontro de novo...

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11/04 – Mala pronta, hora da avaliação. Estar entre estranhos pode ser uma situação de solidão comunitária ou um rico garimpo de riquezas escondidas à espera da bateia, neste caso eu e aquelas, a Zulma, a Miriam, a Roseli e a Nilva, joias raras, que adornaram minha passagem por aqui e, espero não se percam no afã da rotina da volta ao lar...


Roseli, Nilva e Miriam. A Zulma não gosta de ser fotografada, 
mas sua imagem está gravada no meu coração.

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