terça-feira, 28 de outubro de 2014

28 de outubro – Dia de São Judas Tadeu


A data me remete à década de 50, não sei ao certo o ano, sei que algumas crianças no bairro ficaram com hepatite, entre elas, minha irmã e o filho caçula da família vizinha e amiga. Ficaram abatidos e até com a parte branca dos olhos, amarela.

Minha irmã recuperou-se rápido, não sei qual o tratamento, só lembro que ela devia fazer repouso. 

Toninho, o menino vizinho, teve complicações sérias, foi hospitalizado e um dia, soubemos que estava muito mal, com o fígado aumentado (lembro-me dessas palavras que me impressionaram) e que segundo os médicos não sobreviveria àquela noite. A tristeza era grande, os adultos choravam e nós crianças estávamos impressionadas com as conversas veladas. Meu pai foi para o hospital, para se solidarizar com os vizinhos, naquele momento de dor. 

A família era muito devota de São Judas Tadeu e foi naqueles dias que pela primeira vez ouvi sobre o santo, em fazer promessas e acender velas em sua intenção. Não tive dúvidas, fiz minha primeira promessa: se o Toninho sobrevivesse, compraria uma vela do tamanho dele e acenderia na igreja de São Judas. 

No hospital, dona Meireles, a mãe do menino , como todos os parentes próximo, também fez a sua promessa e na manhã seguinte, ao retornar para casa, meu pai disse que inexplicavelmente, na madrugada, quando todos esperavam o desfecho fatal, Toninho apresentou uma melhora e a febre cedeu para alívio de todos. 

De volta para casa, continuou o com o repouso e o tratamento por longo período de tempo. Muitas vezes acompanhei minha mãe, quando ia à casa dele para aplicar injeção. E, além de cumprir a minha promessa, fiz parte da promessa de dona Meireles, que era realizar a Primeira Comunhão do Toninho, na Igreja de São Judas e, como era fora de época, fui encarregada de ministrar-lhe as aulas de catecismo e acompanhá-lo naquele dia de muita alegria para todos.

Desde então, neste dia, lembro desse fato e agradeço ao bom santo, que foi apóstolo de Jesus, aquela graça e outras tantas alcançadas.

domingo, 19 de outubro de 2014

Obsessão por janelas e portas abertas

Janelas obstruídas pelo medo, como nossas vidas.






Uma casa, uma janela, um gato chamado Chico...



De dentro da Igreja Matriz de Santana - Itanhaém



Na antiga Câmara Municipal e Cadeia de Itanhaém


Ambas no interior do Convento N Sra da Conceição 

 Itanhaém



quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Apego... Desapego...

De repente, os anos passam e você descobre que para viver não necessita – como os índios – mais do que vinte utensílios e o pior, ao cuidar do espólio doméstico e pessoal dos que se foram, você se dá conta do desgaste emocional e do trabalho que dá olhar item por item e decidir qual será o fim de cada um.

Tendo feito essa travessia por quatro vezes, espero sinceramente não ocupar aqueles que se incumbirão de mim no pós mortem, mais do que naquilo que se fizer necessário burocraticamente, mesmo porque, meu pensar é que para depois de mortos, devemos nos esforçar em deixar apenas boas recordações e quem sabe, por um breve período de tempo, um pouco de saudade. Mas a questão aqui é outra. 

Para mim, existe uma escala de apego às coisas de quem se foi. Aos poucos me livro delas, mas tem aquelas, das quais parece que jamais conseguirei me separar, mas o dia delas também chega e outras que guardarei para sempre. 

Com relação aos pertences dos meus pais já progredi bastante nos caminhos do desapego e, interessante é que ao mexer em suas coisas, acho caixinhas, potinhos, envelopes e gavetinhas, com quinquilharias, lembrancinhas e objetos de uso diário que de repente adquirem significados e, embora completamente inúteis, se estiveram por ali durante tantos anos, sinto que preciso preservá-los. 

Foi então que, organizando gavetas, caixinhas e potinhos, lembrei-me de um trabalho que vi certa vez e acho que encontrei a solução estética para os objetos do meu apego irracional. Reunidos num só lugar, devidamente tratados, serão “eternos enquanto eu dure”.

Denominei a primeira obra de “Lembranças” e à sua visão remeto-me a momentos daqueles que ela representa.

domingo, 5 de outubro de 2014

Uma cidade com memória



Quando meus filhos eram pequenos, às vezes, nas férias, íamos à praia, geralmente no litoral sul de São Paulo: Solemar, Mongaguá e Itanhaém, onde não retornava há mais de vinte anos. 




Como sou sócia da AFPESP, me propus a conhecer as colônias de férias que ela disponibiliza e no início do mês de setembro estive na unidade de Itanhaém, que já foi colônia de férias do extinto banco Mercantil, ficou abandonada por várias décadas, foi comprada e reformada pela Associação dos Funcionários Públicos e inaugurada há apenas dois anos. 

Tudo novo, bem cuidado. Atendimento de primeira. 


Foi estranho percorrer aqueles caminhos conhecidos e que eu acreditava estivessem mudados, deteriorados pelo progresso. Não. Itanhaém, onde a verticalização é proibida, o trânsito controlado pelo bom senso, sem nenhum semáforo, permanece uma cidade encantadora, preservada, com seu centro histórico muito bem cuidado e as praias limpas. Uma cidade com memória. 













Revisitei todos os lugares por onde passei com meus filhos e um pouco mais. Até achei a Sorveteria Samambaia, aonde íamos nos finais de tarde e meu pai, como ele mesmo dizia, completava uma caipirinha, tomando sorvete de limão após o aperitivo de pinga.