"Há no Japão um grupo de 200 aposentados, em sua maioria engenheiros, que se oferece para substituir trabalhadores mais jovens num perigoso trabalho: a manutenção da usina nuclear de Fukushima, que foi seriamente afetada pelo grande terremoto de três meses atrás. Os reparos envolvem altos níveis de radioatividade cancerígena.
Em entrevista à BBC, o voluntário Yasuteru Yamada, que tem 72 anos e negocia com o reticente governo japonês e a companhia, usa uma lógica tão simples quanto assombrosa.
"Em média, devo viver mais uns 15 anos. Já um câncer vindo da radiação levaria de 20 a 30 anos para surgir. Logo, nós que somos mais velhos temos menos risco de desenvolver câncer", afirma Yamada.
É arrepiante.
Na contramão do individualismo atual - e lidando de uma maneira absolutamente realista em relação à vida e à morte -, sexagenários e septuagenários querem dar uma última contribuição: ser úteis em seus últimos anos e permitir que alguns jovens possam chegar às idades deles com saúde e disposição semelhantes.
O que mais impressiona em toda a história é a matemática da vida: a morte não é para eles um problema a ser solucionado - ou talvez corrigido, pela hipótese mística da vida eterna que medicina e biologia tentam encampar e da qual as revistas de boa saúde tentam nos convencer; a morte é, de fato, a constante da equação.
Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo...mas posso fazer alguma coisa. Por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso.”