domingo, 29 de março de 2020

Costurando lembranças

Sempre que preciso costurar peças repetidas, sento à maquina e lembro de um episódio da infância. Mas estes dias, fazendo inúmeras peças iguais, máscaras para doação - as lembranças vieram mais completas e até deu vontade de escrever. 

Minha mãe costumava visitar uma tia que morava na Avenida Ceci, Indianópolis. Tia Izabel, irmã da minha avó espanhola, casada com tio Manoel, português e mãe de muitos filhos, Maria, Dolores, Mercedes, Antonia, Toninho e Neusa, esta, a caçula, mais ou menos da minha idade.

Naquele dia fomos à casa da tia Izabel porque o Tio Manoel havia sido operado, coisa grave, segundo ouvi. Não sei ao certo minha idade naquela época, mas era bem pequena, pois brinquei de fazer comidinhas com a Neusa. Num fogãozinho de brinquedo, a álcool (que temeridade!), usando latinhas, 
refogamos couve picada com alho, cozinhamos arroz e depois comemos. Uma delícia!

A tia manteve-se o tempo todo sentada à uma máquina de costura trabalhando e conversando com minha mãe. Era costura de "carregação", lembro bem da palavra, não a conhecia. Pegava de uma confecção as peças cortadas, as costurava e depois enviava a quem faria o acabamento.


O que me chamou a atenção foram as peças em questão: eram mangas  de casaquinhos de flanela de bebê. Ela as fechava. Colocava uma após a outra, sem dar espaço nem cortar a linha, de modo que pareciam bandeirinhas de festa junina. 


A máquina de costura estava colocada no meio do cômodo, assim, dava pra ver as manguinhas descerem sucessivamente e formarem uma pilha no chão em frente. Era para não gastar muita linha, explicou ela para minha mãe, admirada com a destreza da tia.

Não sei porque essas lembranças permanecem. Nada de especial, nem bonito, nem feio, nem alegre ou triste, mas permanecem e também eu, que tive que economizar linha, fiz as minhas bandeirinhas com as máscaras, conforme a lição                                              aprendida com a tia Izabel.

segunda-feira, 23 de março de 2020

PERU - Compilado de Viagem XVI - The end

Encerro  o relato da aventura no Peru, dizendo que foi pouco. Fiz uma das rotas disponíveis. Muitas outras existem: dos vulcões, do Vale do Colca, etc... mas tudo valeu a pena. Recomendo àqueles que gostam de arqueologia, história, arte, natureza e mistério, que se aventurem pelo menos uma vez na vida pelos caminhos do Peru.

Fiz um breve resumo com os  locais onde estive, distâncias, altitudes, transportes, acomodações, só para proporcionar uma visão geral e, quem sabe, animá-los a realizar seu sonho de visitar a Cidade Sagrada dos Incas. Informo de antemão que não busquei luxo, glamour, vida noturna, compras, alta gastronomia (pelo contrário, na maioria das vezes providenciei minhas refeições com ingredientes adquiridos nos comércios locais). Procurei conhecimento e interação com as civilizações pré colombianas.

Foi corrido, a maioria dos translados foi à noite, em ônibus regulares de linha,  com uma coberta e banheiro. O pior trajeto foi Arequipa / Puno, devido à diferença rápida de altitude. Passei muito mal na chegada. 

Como fui só e usufruí de certo conforto, o custo foi relativamente alto. Mas indo em dupla fica mais em conta  e, para quem não faz questão de se hospedar em Hostel, o custo cai bem mais.

Meu Roteiro

09 - 10/06/2016 -  São Paulo / Lima -  Aéreo - Hotel Casa Andina Miraflores - Centro

                                        Foto da galeria desta acomodação
Foto da internet

11/06/2016 - Lima / Paracas  (260 km - Nível do Mar) - Transporte:  Paracas Premium Service (VAN) - Hotel San Agustin Paracas





12/06/2016 - Paracas / Nazca (212 km - Altitude 520 m) - Bus Cruzero (Ônibus de linha regular) - Hotel Casa Andina Nazca





13/06/2016 - Naska / Arequipa (568 km - Altitude 2335 m) - Bus Cruzero - Hotel Casa Andina Arequipa Jerusalém


                                                                       Foto da internet

15/06/2016 - Arequipa / Puno - (293 km - Altitude 3827 m) - Bus Cruzero - Hotel La Hacienda Puno





                                                                    Foto da internet

16/06/2016 - Puno / Cusco - (386 km  - Altitude 3399 m) - Bus Cruzero - Hotel Taypikala




                                                                      Foto da internet

19/06/2016 - Machu Picchu (Ida e volta)

20/06/2016 - Cusco / Lima / São Paulo - Aéreo com conexão

* Algumas fotos de hotéis busquei na internet. Dificilmente lembro de fotografar hotéis.
* O Hotel Taypikala em Cusco tem quartos em andares separados para "Classe A" e "Classe Econômica" - onde fiquei, esta fica logo à direita no térreo com as janelas para a rua. À esquerda ficam os restaurantes e lojas. No corredor circulam muitos mochileiros(as) jovens, alegres. Mas as áreas comuns são comuns e o tratamento único. Esta foi apenas uma observação. 

Visão Geral do trajeto




domingo, 22 de março de 2020

PERU - Compilado de Viagem XV - Acabou-se o que era doce!

20 de junho de 2016 - Quando decidi fazer essa viagem, queria fazê-la no inverno. Sabia que andaria muito e sinto-me melhor no frio do que no calor, mas, com o clima desértico das regiões que percorri, o tiro saiu pela culatra. Fazia muito frio - 1°C ou 2°C - do anoitecer ao amanhecer e a temperatura chegava a 30°C/32°C durante o dia, quando se realizam os passeios. Isso em nada atrapalhou minha aventura, acertei em cheio na escolha do mês - junho. 

Coincidência ou feliz providência, sem o saber, estive no Peru no mês das festas da colheita. Festas que duram o mês inteiro e, em quase todos os lugares que passei, pude assistir diferentes desfiles, apresentações folclóricas, expressões  da alegria e gratidão desse povo, que preserva suas tradições na íntegra e as deixam como legado às novas gerações.

Neste último dia, dia livre, embarque para Lima com conexão para Guarulhos agendado para o final da tarde, levantei bem cedo e decidi explorar um pouco mais o centro de Cusco. Bingo! Toda Plaza de Armas cercada, arquibancadas montadas, palanque com as mais altas autoridades locais. Uma pequena multidão já se reunia ali, enquanto pessoas com trajes típicos corriam de um lado para o outro, para os últimos preparativos do grande desfile da Universidad Nacional de San Antonio Abad, de Cusco. 









Bandeira de Cusco hasteada, hino nacional executado, e lá vem na linha de frente a turma da reitoria. Tanto estes, como o corpo docente de cada faculdade se apresentavam vestidos de preto, com botas e chapéu de feltro e ponchos típicos da tecelagem local. 



Após a passagem da direção e do corpo docente de cada faculdade, um grupo de alunos apresentava de forma simbólica, elementos que representavam seu curso. Em seguida os demais alunos e por último um grupo de algum vilarejo longínquo dos Andes, com seus trajes típicos expressando a fartura das colheitas.  Uma diversidade de grupos e tanta  riqueza de detalhes que só as fotos podem mostrar.






















Após o desfile, almocei e segui para o hotel. A hora de voltar chegava .

PERU - Compilado de Viagem XIV - Machu Picchu finalmente!

19 de junho de 2016 - É chegado o momento que deveria ser o ápice desta viagem, seu motivo principal e único, meu presente de aniversário: ir a Machu Picchu. Mas agora que o sonho se torna realidade, fica difícil afirmar com certeza, quando e onde foi o ápice desta aventura. Acho que estes transcorridos 9 dias foram ao todo e cada um em si ápice, presente, aventura. E ainda terei mais um dia.

Quando finalmente fechei este pacote para o Mundo Inca, trazia expectativas, emoções, ansiedade, temores. Hoje, depois de escalar todos os degraus da Cidade Sagrada tenho a certeza de que tudo, absolutamente tudo, superou em muito minhas expectativas e me surpreendeu sobremaneira.

Às 6h, com a temperatura em 2ºC, embarcamos em Cuzco,  no trem panorâmico que nos levou a Águas Calientes. Apesar da agitação que nos dominava, acomodamo-nos confortavelmente, quatro em cada mesa, forrada com toalhas de tapeçaria regional e desfrutamos de um café da manhã peruano. Havia também physalis, dispostos em um palito de churrasco, mas fiquei tão encantada que os devorei antes da foto.





Acompanhando o curso do Rio Urubamba, pelo Vale Sagrado, através das amplas janelas laterais e superiores do trem, nosso olhar absorvia deslumbrado, os cenários que se alternavam pelo caminho. Vilarejos, plantações, os Andes, ah, os Andes! Variando de cor de acordo com o tipo de rocha, ou exibindo seus cumes nevados e me fazendo cada vez mais, me planejar para tocar a neve. Mas isso é outra história.



























À medida que avançávamos em direção ao sul, a paisagem muda rapidamente e, de repente, não eram rochas, ou aridez que se via, mas sim, a exuberância da mata, com o verde que se tornava cada vez mais denso. Estávamos na Amazônia peruana - Águas Calientes, onde rapidamente seguimos a guia para embarcar no ônibus que nos levaria à base de Machu Picchu. Ônibus esse, pequeno, como nossos alternativos por aqui. E velho, muito velho.






A estrada de terra que conduz à Cidade Sagrada é estreita, ladeada por precipicios de um lado, em todos os 400m de subida em que contorna a montanha. A passagem de veículos em sentidos opostos só é possível em determinados pontos do caminho. Ao entrarmos no parque, vendo o Rio Urubamba como um filete d`água lá embaixo, cheguei a perguntar a mim mesma, o que é que eu estava fazendo ali?.




Há 2.430 m de altitude e 30ºC de temperatura, carregando a mochila com toda a roupa tirada pelo caminho,  subir os infindáveis e irregulares degraus que levam ao ponto ideal para observar toda a área de Machu Picchu, não é uma tarefa fácil. Mas devagar, em silêncio e boa respiração até eu cheguei lá. E então, sentei no chão e pedi à guia: " faça uma foto, pois ninguém vai acreditar".




E com fotos, muitas fotos, encerro este dia. Palavras são inúteis nestas ocasiões.


















* Em todo solo sagrado no Peru os degraus são irregulares para que as pessoas olhem para o chão e não para os deuses.

* As construções se diferenciam conforme a finalidade : de uso humano com pedras irregulares e rústicas, dedicado ao divino com pedras de formas definidas e sempre polidas.