sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Música sob a minha janela

Outra lembrança marcante de natais de um passado mais recente transporta-me a 1984, quando decididos a retornar a capital por força do trabalho, iniciamos a busca por um imóvel onde coubesse a família e que coubesse no orçamento familiar. Uma combinação nem sempre fácil de alcançar. Mas para cá viemos, e dá-lhe busca!

Estávamos nesse afã, quando em certo sábado do mês de dezembro, depois de visitar alguns imóveis fomos parar em um restaurante na Alameda Santos esquina com Joaquim Eugenio de Lima. Ficava no térreo de um edifício residencial e oferecia boa comida por bom preço.

Almoçávamos meu marido e eu, quando o alegre som de uma banda vai crescendo e invadindo o ambiente. Quatro senhores idosos, com seus instrumentos reluzentes, dos quais me lembro do trombone, do pistão de vara e da marcação de um bumbo, passavam de mesa em mesa, entoavam tradicionais canções natalinas com animação e após os aplausos e alguns trocados lá se foram pela rua sumindo aos poucos junto com sua música.

Depois que nos mudamos, por muitos finais de ano os vi passarem pelas ruas do Paraíso e muitas vezes, fiquei debruçada na janela do apartamento, onde coube a família e que coube no orçamento familiar, apreciando aquele concerto singelo.

Já acostumados, paravam sob minha janela tocando até que lhes jogava uma “caixinha”. Tornaram-se para mim os anjos da anunciação da chegada da até então, mais esperada festa do ano.

Tempos depois, cuidava de meus pais já há algum tempo, portanto foi após 2004, passando pela região do Paraíso, deparei-me com um deles, mal conseguindo suportar o peso do instrumento, tirando acordes tristes como ele mesmo, cambaleando em meio ao corre das gentes, no anoitecer de sexta feira, molhada pelas lágrimas frias da natureza que por certo como eu chorava diante da melancólica figura do músico solitário.


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