Encerramos nesta semana o Mês da Bíblia e no afã da vivência deste momento litúrgico, lembranças da infância emergem e se faz necessário que as registre.
Talvez por que meu avô paterno (o materno faleceu antes do meu nascimento) tenha sido uma figura marcante na minha infância e, talvez por que a imagem que tenho dele é sempre a do Dia do Senhor – terno escuro, camisa branca, gravata, botas de meio cano, chapéu, Bíblia na mão, talvez por isso, e por admirá-lo tanto, o livro sagrado sempre teve significado especial para mim.
Aprendi a ler aos quatro anos e entre os 8 e 12, “devorei” os livros da biblioteca do Grupo Escolar Mario de Andrade. Nessa época, todos os dias, abria a Bíblia do meu pai e lia trechos do Velho Testamento. Desconhecia o significado de muitas palavras, mas me lembro de que entendia as narrativas, como histórias daquelas pessoas. Impressionavam-me particularmente as histórias de Sansão e Dalila; a vida de José e o reencontro com os irmãos no Egito; Moisés e as pragas; e, não sei por que, talvez pela originalidade do nome, o rei Nabucodonosor.
Uma história marcou-me para sempre e ainda me lembro de quando a li pela primeira vez, tinha nove anos e frequentava a catequese para a Primeira Eucaristia, na Paróquia S C de Jesus. A narrativa sobre os gêmeos Esaú e Jacó, filhos de Isaac, netos de Abraão. O primeiro era o primogênito. Foi aí que aprendi o significado da palavra. Mas, se eram gêmeos, como Esaú podia ser o primogênito? O importante é que estava escrito na Bíblia e, portanto, era verdade: Esaú era o primogênito e trocou sua primogenitura com Jacó, por um prato de lentilhas.
É por isso, pelas lentilhas, que nunca esqueci esse trecho. Lentilhas são um de meus pratos favoritos e sou a primogênita, portanto toda vez que minha mãe fazia essa iguaria, eu brincava com minhas irmãs, propondo-lhes a troca de suas porções pela minha primogenitura, como fizeram “Esaú e Jacó”.
Seja pelas histórias, ou pela figura do meu avô, só sei que a Bíblia esteve presente na minha infância e mesmo sem entender fui me familiarizando com aqueles textos, me deixando seduzir por aquilo que entendia e me apaixonando pelas coisas do alto.
Foto: Meus avós Luiz Walder (65) e Deolinda do Amaral Walder (62) em trajes de "Dia do Senhor"
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