De repente, os anos passam e você descobre que para viver não necessita – como os índios – mais do que vinte utensílios e o pior, ao cuidar do espólio doméstico e pessoal dos que se foram, você se dá conta do desgaste emocional e do trabalho que dá olhar item por item e decidir qual será o fim de cada um.
Tendo feito essa travessia por quatro vezes, espero sinceramente não ocupar aqueles que se incumbirão de mim no pós mortem, mais do que naquilo que se fizer necessário burocraticamente, mesmo porque, meu pensar é que para depois de mortos, devemos nos esforçar em deixar apenas boas recordações e quem sabe, por um breve período de tempo, um pouco de saudade. Mas a questão aqui é outra.
Para mim, existe uma escala de apego às coisas de quem se foi. Aos poucos me livro delas, mas tem aquelas, das quais parece que jamais conseguirei me separar, mas o dia delas também chega e outras que guardarei para sempre.
Com relação aos pertences dos meus pais já progredi bastante nos caminhos do desapego e, interessante é que ao mexer em suas coisas, acho caixinhas, potinhos, envelopes e gavetinhas, com quinquilharias, lembrancinhas e objetos de uso diário que de repente adquirem significados e, embora completamente inúteis, se estiveram por ali durante tantos anos, sinto que preciso preservá-los.
Foi então que, organizando gavetas, caixinhas e potinhos, lembrei-me de um trabalho que vi certa vez e acho que encontrei a solução estética para os objetos do meu apego irracional. Reunidos num só lugar, devidamente tratados, serão “eternos enquanto eu dure”.
Denominei a primeira obra de “Lembranças” e à sua visão remeto-me a momentos daqueles que ela representa.
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