A escada rolante vomita gente em
profusão na já abarrotada plataforma da estação Sé, do Metropolitano de São Paulo.
As pessoas se comprimem, como se aquela composição que estava para chegar
representasse a última esperança de cada um.
Nos rostos contraídos pelo frio
da noite que lentamente envolve a cidade, adivinha-se a história de cada vida
que ali deságua como a compor o delta de um caudaloso rio.
O cansaço e o desalento impressos
nas faces sofridas do trabalhador, que depois de um longo e exaustivo dia de
labuta, leva para o aconchego desconfortável do lar uma única certeza: mais uma
vez enfrentará os que o aguardam de mãos quase vazias. Alguns, cheirando a álcool,
expressam em seus semblantes maltratados, já terem extrapolado os limites da
resistência.
Jovens estudantes, retornando ou
se dirigindo às escolas. Uns bem apessoados e confiantes, sorrindo com suas
belas jaquetas e seus tênis de marca; outros, já marcados pela curta e sofrida
existência, tentando manter viva a chama da esperança que um diploma pode
significar. Todos igualmente com um futuro a construir.
Alguns executivos, raros, tensos,
engravatados e empacotados em seus ternos, aguardam o trem com ar de
superioridade, como se não fizessem parte daquele contexto. Simplesmente estão
não são personagens desse cenário.
Correndo aqui e ali, algumas
crianças de rua, poucas, nessa bem vigiada estação, mas que não escapa aos
furtos de oportunidade. Indesejáveis, sujas e esfarrapadas, brincam de brincar,
com sacos plásticos lambuzadas de cola de sapateiro bem seguros nas mãos. Chagas
abertas da sociedade.
A composição chega e como
autômatos, todos seguem num sentido único, com movimentos uniformes e
coordenados. São bailarinos de uma coreografia urbana, que dura alguns
segundos. Ao abrirem-se as portas já não
são mais pessoas que a compõem, mas uma manada desordenada que se comprime,
acotovela-se, atropela-se. Irracionais, aglutinados, solitários na mesquinhez
ávida da busca do melhor lugar.
O trem parte carregando em seu
ventre o vômito das escadas rolantes que será distribuído pelos vários pontos
da cidade deixando atrás de si a certeza de que, para muitos, a vida nada mais
é do que um imenso e triste trem, onde todos e cada um buscam seu espaço,
juntos, mas não solitários, atropelando-se uns aos outros, e por mais que
tentem e lutem, muitas vezes não chegam a lugar nenhum a não ser a Estação
Morte.