domingo, 12 de junho de 2011
DOIS TOCOS DE VELA - Padre Zezinho
Pessoas idosas, mas cheias de luz, me encantam. Brinco, ao dizer que parecem tocos de velas grossas! Uma vez, mostrei a um casal com 60 anos de amor, um círio pascal que ardia num canto de sua casa e tinha apenas dez centímetros de cera.
-Vocês são assim, disse eu!
-Somos tocos de vela?-, riu ela, enquanto me segurava a mão.
-São, vó. Vocês foram envelhecendo graciosamente, perdendo sua cera, derretendo-se de amor pela família, mas ainda têm cera para derreter e pavio para queimar por muito tempo. A luz continua a mesma. Perderam a mocidade, mas não perderam o brilho!
-Que sabedoria!- exclamou ela. E deu-me um beijo, no que foi secundada por ele.
-Ai meus 30 anos! – brincou o velho Zezo.
O que eu disse àqueles anciãos de 77 e 80 anos, tenho repetido a muitos outros, porque lembram círios pascais. São tão doces, que põem em risco a saúde de qualquer diabético; tão iluminados, que não se percebe que estão diminuindo pela idade. O físico lhes prega peças, a memória às vezes falha, mas não a ternura e a sabedoria dos anos e de um amor dialogado.
Vô e vó, em certos lares são como tocos de vela grossa, que arderam a vida inteira. Sopraram ventos de fora, e de dentro mas a chama não apagou. Tinham como protegê-la. Houve bruxoleios e titubeios e uns pequenos qüiproquós, mas tudo foi resolvido antes que virasse tempestade. Aquelas mãos que se tocavam foram alisando também as dificuldades. Tinham porque viver e por quem viver. Quando vieram os filhos e netos, tinham ainda mais razão para viver. Outra gente bonita e até perigosamente insinuante ficou de fora daquele casamento, porque, por mais lindos que fossem aqueles olhos e aqueles corpos, em casa havia alguém que valia mais a pena. Era amor de cepa e de raiz. Não foi só obediência a Deus e à Igreja. Foi carinho mesmo!
Hoje, quando “por qualquer de repente” e qualquer “dá cá aquela palha”, lá estão eles emburrados e ameaçando terminar a relação - e os filhos, que se adaptem... - esses dois tocos de vela são um lembrete permanente aos que acham que a vida a dois só vale quando um satisfaz o outro. Esquecem que existe algo ainda mais importante, que é quando um se satisfaz com o outro, mesmo que este outro não consiga satisfazê-lo em tudo.
Crianças não nos satisfazem em tudo, mas, porque nos satisfazemos em tê-las ao redor, tudo acaba dando certo. Quando Jesus disse que deveríamos aprender com as crianças, estava falando disso (Mt 18,3).
Casais felizes não são os que conseguem tudo um do outro e, sim, os que amam o suficiente para dizerem que o que conseguem já é o bastante para uma vida inteira. De vez em quando, vale a pena refletir sobre as luzes que temos em casa! Têm mais volts e watts do que imaginamos! Padre Zezinho (19/08/2007)
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