Enquanto professora substituta lecionei em diversas escolas de emergência. A última delas foi em 1970 no Jardim São Bernardo, bairro em formação à época, situado no trajeto da Estrada de Parelheiros, logo depois da Vila de São José. Dependia de duas conduções, um ônibus até a Rua Comendador Flaquer em Santo Amaro e outro com destino a Parelheiros.
Grávida de meu segundo filho, desembarcava na estrada, em meio à mata. Atravessava e dava início à subida de 4 km de morros por uma estrada de terra que serpenteava entre chácaras e sítios, a maioria deles de famílias alemãs, remanescentes dos colonizadores daquelas paragens.
Era comum avistar fumaça saída da chaminé de fornos de barro construídos naqueles quintais e às vezes em meio ao mato o cheiro de pão assando assanhava o apetite e aguçava a curiosidade de saber como viveriam aquelas famílias tão afastadas dos centros urbanizados e tão auto-suficientes. Não tinham filhos na escola pública local.
No topo da subida erguia-se a escola. Uma construção de madeira, muito bem feita: três salas de aula, instalações sanitárias e uma espécie de copa, onde tomávamos o cafezinho oferecido diariamente por uma das mães.
Éramos três professoras a lecionar ali no período da tarde. Na ida íamos cada uma por si, vindas de diferentes bairros. Na volta descíamos aqueles morros juntas, batendo papo e o caminho ficava mais curto.
Certa feita armou-se um temporal sobre a região e choveu a tarde toda. Naquele dia, ao descermos o morro, vimos que tudo estava alagado. Não se conseguia localizar por onde passava a estrada e até onde a vista alcançava era só água impedindo-nos de chegar ao ponto do ônibus.
Já começava a escurecer e o medo começou a tomar conta da gente. Resolvemos voltar em direção à escola e pedir abrigo em uma das casas de alunos. Mas e nossos parentes, como avisá-los? Não havia linha telefônica.
Lembramos então, que um pouco antes dali, na descida do morro, passava a estrada de ferro que ia em direção a Engenheiro Marsilac. Fomos até ela e andando em direção a Santo Amaro, pelos dormentes, em meio ao mato, estudando a cada instante por onde escapar se aparecesse um trem, chegamos à Vila de São José, um centro urbano já bem estruturado naquela época e dali alcançamos a estrada e tudo deu certo.
Aprendemos uma lição: prestar atenção ao tempo, se o céu escurecia ameaçando chuva forte chamávamos uma das mães para que ficasse com as crianças pequenas, dispensávamos os que iam e vinham sozinhos e corríamos morro abaixo para chegar primeiro que as águas.
Conhecemos os moradores da região e logo conseguimos carona na volta para casa, dois dias por semana, com um casal de nisseis chacareiros, que levavam brócolis para a CEAGESP. Nesses dias, lá íamos nós, na parte de trás da Kombi, sentadas sobre os sacos. Não era confortável, nem o aroma agradável, mas em compensação chegávamos muito mais cedo em casa nesses dias.
Fiquei nessa escola, até o nascimento de meu filho. Depois disso só voltei a lecionar em 1971, quando aprovada no concurso, me efetivei e escolhi classe em Mogi das Cruzes e lá, foram 15 anos de histórias...
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