Acho que foi em 59 ou 60, eu ainda cursava o antigo ginásio.
Começo de ano não aparecia aluno particular, uma dureza!
Decidi ganhar um dinheirinho, colocando em prática habilidades latentes.
Uma amiga sabia fazer uns sapatos de napa, tipo mocassim. Aprendi e fiz uma para mim. Uma delícia para andar! Foi aí que tive a grande idéia: vamos fazer sociedade e vender sapatilhas para o pessoal pular carnaval. Ela topou.
Para começar compramos meio metro de napa preta e fizemos 4 pares com numeração variada. Recortava-se com o molde correspondente ao número – a diferença de um número para outro era exatamente 1 cm no molde. Fazíamos furos com um furador que meu pai fez e costurávamos com cordonê. Para costurar a bainha lateral e firmar no pé, passávamos um cordão de sapateiro do calcanhar para frente que era arrematado com um laço sobre o peito do pé. Colocávamos as palmilhas e ele tomava forma.
Vendemos para os amigos. Animada, mais eu do que ela, cuja situação da família era um pouco melhor que a nossa, lá fui eu de loja em loja de calçados do Brooklin, tinha umas 3 ou 4, com uma amostra, oferecer nosso produto.
Havia uma casa de calçados esportivos, bem pop, que vendia chinelos, congas, alpargatas, na Joaquim Nabuco.
O dono era um rapaz árabe. Ele se animou e encomendou 50 pares. Várias cores e tamanhos. Faltava pouco para o carnaval, foi uma correria, mas entregamos em tempo e ele pagou à vista. Deu para o material escolar básico daquele ano.
Mas o pior aconteceu: ele não vendeu as sapatilhas de números grandes e elas ficaram expostas na vitrine quase toda a quaresma. Cada vez que passava lá, parecia-me que elas estavam maiores. Morríamos de vergonha!
Vergonha que durou um ano mais ou menos.
No ano seguinte, aproveitando as aulas de Trabalhas Manuais da dona Nadir, no Alberto Conte, foi por ocasião da quaresma que decidi tentar novamente me dar bem.
Desta vez, fazia coelhinhos utilizando esponja de lavar a louça, que naquele tempo era uma espuma de nylon simples, quadrada, medindo uns 7 cm de lado e sem a parte verde e abrasiva que tem hoje. Comprava aos montes no Peg-Pag.
De posse de um pequeno molde feito em cartolina, desenhava na esponja com caneta esferográfica, esculpia com tesoura o coelhinho, colocava olhos de botões vermelhos, bigodes de piaçava, nariz e bocas pintados com guache e uma fitinha com laço no pescoço. Ficava perfeito.
Era coelho azul, rosa, amarelo, verde, mas o que tinha mais saída era o branco. Gastava mais ou menos o correspondente a uns R$ 0,60 hoje e vendia pelo que seria R$ 2,00 até com cartãozinho de Boa Páscoa.
Vendia tanto que tinha calos nas mãos de esculpir coelhos. Ensinei minha irmã e uma prima a fazê-los e dava uma porcentagem para elas.
Quem quiser aprender é só acompanhar as imagens.
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