Enquanto tomava o merecido banho após a lida, lembrei-me dos primeiros dias do meu retorno à casa paterna, em 2004 e de um texto que publiquei naquela época.
“Meia noite. Pausa para os comerciais. Cenas finais do filme “O preço de um resgate”, com Mel Gibson, surpreendentes para quem visse pela primeira vez. Um OVNI cruza o ar pelo corredor na penumbra, passando pela porta do quarto.
- Será um pássaro? Um avião? Ou o Superman?
Acho que vi um passarinho, mas se eu disser isso à luz do dia, dirão que enlouqueci. Poderia ser uma mariposa – com dois palmos de envergadura?!
No café da manhã comento com meu pai, que me olha condescendente, sorri meio de lado e não diz nada. Por certo tem medo de magoar a filha que a essa altura já julga senil.
Uma semana depois, três horas da madrugada. Os mosquitos com sua serenata não me deixam dormir. Acho que a Prefeitura não está cuidando bem da minha Vila Carmen.
Acendo as luzes e saio à caça das infernais criaturinhas. No corredor, com a luz ainda apagada, avisto um vulto pendente do forro de madeira.
- O que será?
Na véspera fiz faxina e aquilo não estava lá.
Sem muito entusiasmo acendo a lâmpada e aí tudo se explica: alçando um belo e artístico vôo, um genuíno descendente do Conde Drácula passa por mim, dá uma voltinha bem direcionada e sai pela janela do banheiro, que jamais, em hipótese alguma, será aberta.
Suspiro aliviada, o OVNI estava identificado.
Cruzes! Estacas! Muito alho!”
Depois disso, aprendi a conviver com os morcegos que aparecem após o escurecer, alimentam~se com as frutas do quintal e nos assustam com seus voos rasantes, de uma precisão admirável, visto sua navegação ser totalmente orientada por radares.