segunda-feira, 4 de maio de 2020

Não Vomite. Basta eu!



"Velho que não tem dor já morreu, só precisa enterrar"
"Seu" Paulo, um velhinho boa gente demais e cheio de dores.

Segunda feira, 9 de março, 10h

Acordo depois de poucas horas de sono e sinto-me mal, muito mal. Sem forças para ficar em pé. Vomito há quase 20h e a desidratação já me pega. Achava que fosse como outras indisposições estomacais, que já-já ia passar. Mas não. E agora? Chamar as irmãs? Os primos? Sei lá o que tenho. É bom ficarem longe.  Uma ambulância.  Razoável, profissional. Como meu convênio anda mal das pernas, não paguei a mensalidade dando um tempo pra decidir se cancelo ou não. Entreguei nas mãos de Deus e pedi uma resposta. "Ó Senhor, não precisava ser tão direto!". Não posso recorrer a ele, ao convênio. A solução: SAMU.

24 hours earlier...

Domingo, 8 de março, Dia da Mulher. Missa. Almoço. Uma árvore que cresce sem pedir permissão e no outono soltará as folhas que irão entupir a calha. Poda! Já o fiz tantas vezes nestes 16 anos que aqui estou... Mas desta vez será de forma mais radical, que dure. Feito! Resta ensacar. O céu se fecha, venta e alguns pingos anunciam o que virá depois. Acelero o trabalho. Os espinhos não perdoam. Pronto. Banho, chá com biscoitos e geléia de mirtilio da amiga Rosa. Um filme. Descanso... SQN.

Segunda feira, 9 de março, 14h

192: Boa tarde. Emergência. Com quem eu falo?
Identifico-me, explico a situação e peço ajuda.
192: Tem febre? Tosse? Dor? Falta de ar?
- Não. Não. Não. Não. Vômito há quase 24h, diarréia. Não posso mais ficar em pé.
192: Sua solicitação está registrada. No momento todos os nossos veículos estão na rua. Assim que houver disponibilidade enviaremos um.

Segunda feira, 9 de março, 16h

Ligo para o SAMU.
192 - Já pedimos o veículo, aguarde.

Segunda feira, 9 de março, 18:30h

O celular toca.
192: Boa tarde (boa? Pra quem?!). Sou a doutora (...) de Emergências do SAMU. O que está acontecendo AGORA, dona Lidiaaaa? (???? Ela me conhece???)
- Como já relatei ao atendente, estou ... - Ela interrompe:
192: É que a senhora sempre liga solicitando resgate... (tá explicado o AGORA!)
Interrompo a interlocutora (ou seria interloucotora?). "Nunca chamei o SAMU, é a primeira..."
192: Ah, sim, sim, devo ter confundido com outra pessoa... Vou providenciar o pedido de uma unidade de atendimento. Mas deve demorar, pois virá de outro distrito.

"VOU PROVIDENCIAR O PEDIDO..."

Segunda feira, 9 de março, quase 20h

Chega o veículo providenciado. O primo atende, a meu pedido por telefone, pois deveria deixar a casa aberta e os medicamentos que tomo à vista. Atendentes impecáveis. Fazem a primeira triagem in loco e outra no percurso. Sinais vitais. Glicemia. Alergias. Etc. Etc. Debuto no SAMU e faço minha primeira experiência como paciente de ambulância.

Começa o embate de para onde vão me levar. Tem que ser hospital público. Peço o hospital a que tenho direito. É o mais próximo, mas está fora da rota. Help me! Levam para outro, dentro das minhas preferências. Meno male.

Idosa, necessito de acompanhante. O primo - anjo da guarda, angustiado me acompanha.

No hospital...

Sala de enfermagem semi vazia. Dois jovens em poltronas de atendimento, um rapaz e uma moça, um de cada lado, e um idoso em maca, todos recebendo soro. Dois enfermeiros, duas enfermeiras, um médico e um segurança que entra e sai, todos sem máscaras nem luvas, circulam por ali. Conversam, riem, tomam cafezinho.

Colocada também numa poltrona de atendimento (desnivelada, o que causa muito desconforto), sou atendida por uma enfermeira sem expressão facial, slowmotion, que enquanto coloca o acesso, faz as perguntas de praxe e confere os sinais vitais. Do meu lado esquerdo, o jovem, de alta, cansa de esperar e retira a parafernália da veia e deixa pendendo, balançando no suporte e pingando sangue. Levanta e dirige-se à saída. Um enfermeiro o barra. “Como?! Não pode fazer isso!!”.  Ri e faz tchau pra ele.

O cartaz enorme na parede avisa: "Proibido o uso de celular nesta área". Mas todos, eu disse TODOS, o utilizam. Afinal, regras foram feitas para serem quebradas.

Aparece um médico. As mesmas perguntas...

Explico tudo de novo, embora já esteja explicado na ficha que veio com o SAMU e naquela preenchida pela enfermeira slowmotion. Acrescento aí, que achava (ó pecado mortal! Paciente não é pra achar nada!), sim, achava que estava envenenada, ou melhor, intoxicada pelo veneno da  planta que havia podado, pois seu gosto não saía da boca e seu odor emanava de tudo o que saía de dentro de mim.

Nesse momento, meu primo, calado até então, tira do bolso um guardanapo com as folhas da planta em questão, que pegara caso fosse necessário - havia contado a ele, o que pensava. Mostra ao médico. Este nem olha. "Não sou botânico. Não entendo de plantas." E acho ( olha eu achando de novo...), acho que não entende nem de medicina, depois explico.

O primo sai, deve esperar lá fora.

São quase 22h e a coluna agora dói. Me conseguiram finalmente uma dor. A slowmotion entrega um frasco para eu colher urina. Só o frasco, sem o material protocolar de higiene íntima.  "Onde fica o banheiro", pergunto. "Segue por ali" - aponta para o lado do idoso, "entra naquela enfermaria e lá no fundo tem um sanitário".

Na enfermaria, uma única paciente, uma senhora idosa. Cumpro o rito e saio achando (achando de novo?!) que aquilo tudo não está certo. Não sabem o que tenho e não sei o que ela tem, e me mandam passar por dentro da enfermaria onde ela está e usar o mesmo sanitário...

Na volta, a slowmotion colhe sangue para exames e em seguida, coloca uma embalagem de soro no equipo e, enquanto regula o gotejar da medicação, pergunta se tenho alergia por algum medicamento. De novo?!! Já havia respondido a isso 4 vezes. "Sim, tenho alergia por Flagil, Ampicilina e Plasil". Ainda bem que perguntou!

Num solavanco, deixa por um segundo de ser slow e desconecta o recipiente com a medicação que adentrava o sagrado templo do meu corpo, como diz uma amiga. "Plasil?! - Foi o que o doutor prescreveu: Plasil, Dipirona e..." . Não lembro o outro.  Tá explicado porque acho que ELE não entende nem de medicina?
"Mudou o plantão e o outro plantonista ainda não chegou, quando chegar, fala com a senhora". Explica a slowmotion assustada enquanto despeja o conteúdo da bolsa na pia e descarta a embalagem.

A jovem do meu lado direito termina de ser medicada e é liberada. O idoso da maca, senil, ora clama pelo Senhor dos céus, ora chama a polícia aos gritos. Aí me deu saudades do meu pai, que quando internado, também chamava a polícia, mas que diferença!  A este senhor ninguém dava atenção, parecia invisível, enquanto o meu pai era muito bem acolhido com brincadeiras por parte dos enfermeiros do Hospital Santa Rita. Deus os abençoe, como disse minha mãe em suas últimas palavras. Lá pelas 23h alguém vem pegar aquele pobre senhor.

Chega o doutor plantonista. Jovem, pinta de galã. Beija a enfermeira jovem, loira e eficiente na organização dos kits de enfermagem (mas slowmotion também). Deve ser por causa do protocolo. RSRS. Rindo para não chorar.

Uma equipe do SAMU entra com um paciente que é levado para uma sala. Um dos socorristas subtrai um punhado de luvas de uma caixa sobre o balcão e as coloca no bolso. Que situação! O segurança entra e sai o tempo todo. Haja café!

Médico: O que está acontecendo com a senhora?
Faz as mesmas perguntas. Pô, pra que serve a ficha? Ninguém lê? Lembro da minha irmã, de uma certa enfermeira que tentou matá-la com corticóide e da saga do Atenolol. Mas aí é outra história.

"Deus me deu pernas compridas, nenhuma preguiça e muita paciência" - desculpe Chico, pela adaptação, mas foi do que lembrei agora. Parecia um rosário, repete, repete, repete. Medicamento prescrito. "Agora tem que esperar a equipe que está entrando no plantão para preparar o que foi prescrito".

ESPERAR, o verbo mais conjugado naquela enfermaria slowmotion, onde, por incrível que pareça, àquela hora, eu reinava como única e absoluta paciente, já meio impaciente e invisível para aqueles cansados profissionais da saúde que se preparavam ostensivamente para a troca iminente do plantão.

Medicação colocada. Uns 40 minutos para correr. Resta ESPERAR que venham retirar a parafernália. Esperar, esperar. Afora a dor lombar que aumentou, dos sintomas trazidos me sinto melhor. Lembro do impaciente rapaz que se auto atendeu. Que tentação...

Terça feira, 10 de março 01h

Lar doce lar. Finalmente. Por enquanto...  Cansada, em jejum, medicada, durmo por muitas horas. Agora devo me hidratar e tentar me alimentar. Limpeza da casa, na medida das minhas forças, e descarte de toalhas, panos, tapetes, enfim de tudo que participou do espetáculo da véspera e antevéspera. Chá, torradas e soro caseiro. E esse cheiro da bendita planta que não sai da casa, ou será do meu nariz?  Como num mantra, repito: "Sou forte, saudável... Acho que estou quase curada". SQN.

Quarta feira, 11 de março

Um dia inteiro de recolhimento, descanso, abstinência, jejum, dieta líquida. Muito pertinente, é quaresma! E o cheiro continua... Não posso nem olhar para a planta que dá náuseas...

Quinta feira, 12 de março

Levanto animada - mental e espiritualmente - porque o estômago incomoda, as pernas fraquejam. "É assim mesmo", tento me convencer. "Vai passar, reage. Você já passou por isso. Força na peruca, se arruma, toma café e vai à luta. Hoje é dia de fazer o que você gosta - remexer no brechó". 

Gatorade em punho, lá vou eu, agora com novas responsabilidades, diminuir e organizar o brechó, hoje de portas fechadas para balanço. Somos apenas três pessoas. Muito trabalho.

Mas, como alegria de pobre dura pouco, as entranhas começaram a se rebelar e a distância entre o brechó e o banheiro da igreja quase não foi suficiente. Necessário se faz ir para casa, pegar documentos, chamar o UBER - não dá pra dirigir assim - e rumar ao pronto socorro do Hospital do Servidor, onde deveria ser bem atendida. DEVERIA.

Às 10h e 40, adentro o recinto do cadastro do IAMSPE. Um átrio, tipo anfiteatro, onde o atendimento começa.  L-O-T-A-D-O. Lembrei que já se cogitava sobre a chegada do COVID 19 e que uma pessoa já havia morrido em São Paulo vítima dele.  Não tinha escolha. Era o que tinha para o momento. Então: seja o que Deus quiser.

Quando alguém tossia, todos se entreolhavam. Uns mudavam de lugar, os que estavam em pé, as cadeiras estavam todas ocupadas e percebi que conforto e comodidade contam mais que  segurança, para certas pessoas que não desgrudam de seus assentos, nem para ceder lugar aos que mais necessitam.

Encostei em uma parede debaixo de um monitor, de frente para o outro. Foi o mais isolado que consegui. Os bips se sucediam, mas meu número não aparecia. Quase 2 horas depois sou chamada para o cadastro e outro tanto depois para a triagem. O movimento era atípico, informou uma atendente, e apenas um ou outro profissional por ali estava de máscara.

Movimento atípico também, da parte dos profissionais. Grupos de residentes novos circulavam pelos corredores e eram apresentados aos consultórios. Uma movimentação não usual. Um rito de preparação para o que estava por vir.

De vez em quando a Aurizete e a Celeny, amigas do brechó ou o padre me enviavam uma mensagem pra saber como eu estava. Se já havia sido atendida... Se precisasse de alguma coisa era só gritar... Depois de algumas horas, até eles desistiram. Eu não.

É bom esclarecer que não procurei minhas irmãs pois com certeza iriam comigo ao hospital, não haveria negociação e, a essas alturas, a última coisa que eu queria era ter que me preocupar com a saúde de outros. Já bastava o mal estar.

Depois da triagem fui encaminhada para as salas de espera dos consultórios, dois espaços. Salas só no nome. Corredores, com cadeiras nas laterais, apinhados de doentes e uns poucos acompanhantes, no meio dos quais passavam cadeiras de rodas e macas com pacientes em situação de mais urgência, que sumiam depois da barreira dos seguranças.

Quando cheguei, uma mulher insultava aos gritos uma jovem residente, com cara de paisagem, e um homem velho, que me pareceu não muito lúcido, acompanhado de outro homem velho, tossia escandalosa e propositalmente enquanto circulava em meio às pessoas. O mais lúcido punha-lhe a máscara, mas durava pouco.

Serventes promoviam a duvidosa limpeza dos banheiros e do chão, onde resíduos fisiológicos eram deixados pelas macas.

Acomodei-me em um canto, abaixada como os caipiras fazem, depois de mais de quatro horas em pé. Dali observava o comportamento estranho e às vezes surreal desses, que chamamos de humanos. Quando alguém tossia, um movimento disfarçado se fazia, pra lá ou pra cá. Mas as distâncias continuavam as mesmas - menos de 50 cm entre uns e outros. Jovens, sentados, absortos em seus celulares se faziam de cegos ante aos inúmeros idosos em pé que se apoiavam na parede, em bengalas, andadores ou acompanhantes. Grupos de pessoas, que devido à longa espera se tornaram "amigas", partilhavam lanches nada saudáveis, comprados pelos acompanhantes nas barracas do entorno do hospital, e, como é de se esperar, a farofada se espalhava pelo chão. Nem eu, que estava em jejum há 4 dias comeria aquelas guloseimas.

Finalmente fui chamada. Ali é pelo nome. Consultório 16. Chego à porta, peço licença. Ninguém responde. Entro. Pergunto se devo fechar ou deixar aberta a porta. "Fechada!". Sento-me sem ser convidada. A pessoa na minha frente não tira os olhos do computador. Homem, jovem, sem mais descrições para não comprometer, não me olha, só pergunta o que está acontecendo. O diálogo, se é que se pode chamar assim, foi surreal e inócuo.

- Desde de domingo estou vomitando...
- Sei, mas o que está acontecendo agora?
- Estou com diarréia, vomitando, com queimação...
- Tem febre? Onde dói?
- Não dói, é só queimação e vômito...
- Perguntei onde dói.
(Por que eles sempre acham que velho tem que ter dor? E se não tiver algum problema?)
- É queimação...
- Onde? Onde?
- No estômago...
- Perguntei onde, mostra com a mão!

(Agora, bem e de bom humor, fico me imaginando a mostrar o estômago com a mão. Deveria enfiar a mão goela abaixo? Porque não pensei nisso naquela hora?)

Levei a mão à altura da cintura. Continuando sem me olhar ele fez a prescrição dos medicamentos e me dispensou sem mais palavras. Dirigi-me à enfermaria, já sabia o procedimento seguinte, entreguei a ficha e toca esperar. Aqui a sala é menos cheia. Quase todos conseguem sentar e finalmente o fiz.

Não demorou muito e fui chamada. Na sala de medicação, dez cadeiras que se via e algumas por trás de biombos, afastadas. Todas ocupadas. Três enfermeiras e um enfermeiro corriam de um lado para outro, dando o melhor de si no atendimento àquela gente. Que contraste com o slowmotion de dias atrás. Tinham expressão em suas faces cansadas e sem máscaras. Via-se o sofrimento da profissional que não conseguia "pegar" a veia daquele senhor que faz hemodiálise e ainda a consola, dizendo que "é assim mesmo, sempre custa". A senhora de meia idade que acompanha a mãe durante a inalação, linda, de cabelos brancos assumidos, conversa solidariamente com velhinhas que estão sós, inclusive comigo, velhinha, mas só por opção, é bom deixar claro novamente, pois julgamentos são muito fáceis de fazer.

Avisei que não tinha pressa, que estava me sentindo melhor. Que cuidassem dos mais sofridos. E como os via ali.

Enquanto isso, a TV que reinava em dupla face no centro do ambiente transmitia o Brasil Urgente, onde o Datena se esgoelava na descrição de uma ocorrência, onde a polícia havia encontrado diversos corpos em adiantado estado de decomposição, desovados num terreno em meio a um matagal. Putz! Nada mais pertinente. Todos ali já estavam quase em estado de decomposição depois de tantas horas de espera. Ainda bem que tenho dentes, posso rir.

Chega a medicação. Conforme o protocolo a enfermeira confirma meu nome e data de nascimento na etiqueta do frasco e explica o conteúdo: solução de soro e sódio a 9%, um analgésico, um antitérmico, um anti-inflamatório e um antiemético. Putz de novo!!! Não tenho febre nem dor, mas insistem em que eu tenha. Não tomo anti-inflamatórios por princípio. O que fazer? Comento com a enfermeira e ela informa gentilmente,que poderia cancelar a medicação e me levar de volta a outra consulta. Dúvida: correr o risco ou esperar mais quatro horas?  Optei pela primeira opção, não sem perguntar todos os nomes e sobrenomes dos medicamentos que faziam parte daquele coquetel. Vai que tem um Plasil por ali...

Enquanto o soro corria, quer dizer, gotejava, continuei observando cada uma daquelas pessoas. Ninguém olhava para a TV. Alguns cochilavam, outros conversavam. E os profissionais se desdobravam. Elogiei a enfermeira que me atendeu e perguntei se tinha idéia de quantas pessoas atendia por turno. "Não tenho idéia e nem quero saber, para não desanimar". Ela ainda não desanimou, acredito ainda na humanidade.

Soro acabado, sou reencaminhada à sala de espera para o retorno à consulta, retirada do acesso e alta. Maravilha! Ledo engano, 19h, mudança de plantão. Como tudo tem seu lado bom, vou esperar muito, mas pelo menos não vou olhar na cara daquele ser arrogante, que queria que eu mostrasse o estômago pra ele.

Muitos estavam ali na mesma situação, penso que a maioria. Impacientes, cochilando, reclamando, alheios a tudo em suas cadeiras de rodas abençoados pela senilidade, mas todos com o adereço do acesso no braço e profundas olheiras de fome. Até eu que nunca tive olheiras, desta vez consegui as minhas.

Lá pelas 20 horas, uma jovem e simpática residente me chama, pergunta como estou, tenta justificar muito sem graça e sem sucesso, a medicação que me foi aplicada (ou devo dizer impingida?). Prescreve um remédio para náuseas, se as tiver,  e outro para DOR, caso eu precise. É incrível, eles não se conformam que eu não tenha dores.

Às 21 horas e pouco, chego em casa. Sem náuseas, uma sensação boa de bem estar, mas, meio dia de hospital, em pé a maior parte do tempo, num jejum de 4 dias e tentando escapar do virus da vez, deixa qualquer um fora do eixo, e eu não sou diferente. Tomei o meu chá de camomila com torradas, me dei um belo banho e não me lembro como cheguei até a cama, só sei que na sexta feira acordei depois das 10h, novinha em folha. Só as pernas insistiam em não me aguentar, mas já cuidei disso com muita proteína e exercícios.

Nos dias que se seguiram as notícias sobre o COVID 19 se sucederam e com elas o isolamento social se impôs. Em quarentena voluntária, fazia a contagem regressiva dos 14 dias que me separariam da visita ao hospital, "sem medo, nem dó, nem drama", afinal:

"Que sera, sera
Whatever will be, will be
The future's not ours to see
Que sera, sera
What Will be, Will be".

Grande Doris Day!

Reflexões sobre o episódio:

1               1 - Preciso rever meus conceitos sobre onde morar.

     a - Não consegui subir por mim mesma a rampa de casa para acessar a ambulância;
     b - Não conseguia descer as escadas para fazer um chá. Quando, por fim,  me arrastei para baixo, quase não conseguia subir as escadas;

2 – Devo lavar imediatamente a louça após o uso. Cai de cara numa pia cheia de louça suja e engordurei os cabelos (fato que não aconteceria com a minha irmã nem com a minha nora, pois jamais morreriam deixando louça suja na pia).

    3 - Devo usar sempre roupas com bolsos para carregar o celular.

    4 - Preciso compartilhar a chave de casa com o vizinho. Vai quê...

    5 - Pelo sim , pelo não (por que a gente fala isso?) paguei o plano de saúde. Vou dar um tempo mais.

   6 - E, por último e principalmente, tenho que mandar cortar aquela bendita árvore “espinhuda”, que parece que ri de mim o tempo todo.






Um comentário:

  1. Quando cheguei na parte do Hospital dos Servidores Públicos, pensei o que já estava ruim vai ficar pior. Nunca nem entrei nesse hospital, mas conheço a fama.

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