quinta-feira, 27 de outubro de 2011


Rogério Brandão
Médico oncologista clinico
Recife /2009


Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei meus primeiros passos como profissional. Comecei a freqüentar a enfermaria infantil e apaixonei-me pela oncopediatria. Vivenciei os dramas dos meus pacientes, crianças vítimas inocentes do câncer. Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a me acovardar ao ver o sofrimento das crianças. Até o dia em que um anjo passou por mim!

Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada por dois longos anos de tratamentos diversos, manipulações, injeções e todos os desconfortos trazidos pelos programas de químios e radioterapias. Mas nunca vi o pequeno anjo fraquejar. Vi-a chorar muitas vezes; também vi medo em seus olhinhos; porém, isso é humano!

Um dia, cheguei ao hospital cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. A resposta que recebi, ainda hoje, não consigo contar sem vivenciar profunda emoção.

" - Tio, disse-me ela, às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondido nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade. Mas, eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida!"

Indaguei:
- E o que morte representa para você, minha querida?
" - Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e, no outro dia, acordamos em nossa própria cama, não é?"
(Lembrei das minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos, com elas, eu procedia exatamente assim.)
- É isso mesmo.

"- Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!"

Não sabia o que dizer. Chocado com a maturidade com que o sofrimento acelerou, a visão e a espiritualidade daquela criança.

"- E minha mãe vai ficar com saudades, emendou ela."

Emocionado, contendo uma lágrima e um soluço, perguntei:

- E o que saudade significa para você, minha querida?

- Saudade é o amor que fica!

Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um a dar uma definição melhor, mais direta e simples para a palavra saudade: é o amor que fica!

Meu anjinho já se foi, há longos anos. Mas, deixou-me uma grande lição que ajudou a melhorar a minha vida, a tentar ser mais humano e carinhoso com meus doentes, a repensar meus valores.

Obrigado anjinho, pela vida bonita que teve, pelas lições que me ensinaste, pela ajuda que me deste.

Que bom que existe saudade!
O amor que ficou é eterno.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Pensando alto...


Às vezes,
minha avó me convidava
para acompanhá-la
ao centro da cidade
para efetuar o pagamento
da conta de energia elétrica,
no prédio da Light,
na Praça Ramos de Azevedo.

No trajeto entre o Brooklin e o centro, observava sem muito entender, as diferenças entre os bairros. No início da viagem, amplos casarões das famílias americanas, depois, na altura do Campo Belo, casas em estilo "enxaimel", na Avenida dos Eucaliptos, que resistiram ao tempo até o presente, quando em nome do prgresso, que não tem MEMÓRIA, foram demolidas; mais adiante, na Avenida Rodrigues Alves e a Vila Mariana, sobrados geminados, ajardinados e com muros baixos.



Próximo do centro, vias estreitas, casas construídas rente à rua e movimento de veículos. Eu achava muito tristes aquelas casas sem jardim com janelas envelhecidas debruçadas sobre a rua.

O ponto alto do passeio se dava quando após pagar a conta da energia elétrica, minha avó me levava para dar uma voltinha dentro da loja Mappin – que deslumbramento poder desfrutar da visão de todos aqueles artigos coloridos, impecavelmente organizados nas brilhantes vitrines! Entrávamos no elevador e na inocência dos meus 5, 6 anos, o dia estava completo e perfeito.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Sobre bondes e futebol

Com toda essa euforia por causa do Pan e das últimas decisões sobre a Copa de 2014, me reportei às copas passadas, suas alegrias e tristezas e em especial, a um incidente, ocorrido quando da primeira que acompanhei, em 1958, quando um bonde estragou a alegria de nossa família, por ocasião da vitória de nossa seleção contra a Suécia no jogo final daquela Copa do Mundo.

Ouvíamos o jogo pelas ondas oscilantes da Rádio Bandeirantes, na voz inconfundível de Edson Leite, sentados à soleira da porta da cozinha enquanto as mães preparavam o almoço daquele inesquecível domingo. O Brasil ganhava e a tensão contagiava a todos com a iminência da conquista da tão sonhada “Jules Rimet”.

Nos minutos finais, um barulho de ferros e pedras sendo arrastados espalhou-se pelo ar misturando-se com o farfalhar da folhagem das árvores, agitadas pelo vento fortíssimo daquela manhã e abafando por alguns segundos a voz do radialista. Seguiu-se um baque surdo e todos dirigimos nossa atenção para os lados da linha do bonde, onde podíamos observar uma nuvem de poeira que se elevava do chão. Algo grave havia acontecido.


Bonde da linha Praça João Mendes - Santo Amaro

O rádio foi deixado de lado, falando sozinho. Os homens correram e nós, crianças, ficamos junto à cerca de arame farpado, curiosas e desapontadas por não poder acompanhá-los e ver o ocorrido.


A cerca de arame farpado

Um rapaz, que pescava no Córrego do Cordeiro, debaixo da ponte da linha do bonde, saiu inadvertidamente do mato e atravessou os trilhos sem perceber o bonde que se aproximava. Sem o que fazer, o motorneiro atento tocou o sino e baixou o limpa-trilhos, evitando com isso uma tragédia maior, não conseguindo, no entanto evitar o choque do veículo com a cabeça do garoto, que mesmo bastante machucado sobreviveu e recuperou-se com a colocação de uma prótese craniana, conforme soubemos tempo depois.

O que não pode ser substituído, porém, foi o final da transmissão do jogo com a consagração do Brasil como Campeão Mundial de Futebol pela primeira vez. Tudo por “culpa” de um bonde! Mas em compensação, devo confessar que foi um bonde que me levou à Praça da Bandeira, num sábado nublado e frio de julho de 1958, onde pude com milhares de outros paulistanos, receber com orgulho a nossa gloriosa seleção.


Úlimo bonde em 1968

Em meio a um espetáculo pirotécnico grandioso, com canhões que lançavam aos céus bólidos que explodiam e liberavam enormes bandeiras que coalhavam o seu daquele
entardecer garoento, com seu verde e amarelo, tive o privilégio de ver Pelé, revelação daquela copa, ao lado de seus companheiros de time sobre o carro dos bombeiros e me emocionei, com o capitão Bellini erguendo orgulhoso, a reluzente taça Jules Rimet.

Capa da revista “JÁ”, suplemento do Diário Popular, edição de domingo, 17 de maio de 1998, que coincidentemente tem como destaques os bondes e as Copas do Mundo.

domingo, 16 de outubro de 2011

Professora substituta até que...

Enquanto professora substituta lecionei em diversas escolas de emergência. A última delas foi em 1970 no Jardim São Bernardo, bairro em formação à época, situado no trajeto da Estrada de Parelheiros, logo depois da Vila de São José. Dependia de duas conduções, um ônibus até a Rua Comendador Flaquer em Santo Amaro e outro com destino a Parelheiros.

Grávida de meu segundo filho, desembarcava na estrada, em meio à mata. Atravessava e dava início à subida de 4 km de morros por uma estrada de terra que serpenteava entre chácaras e sítios, a maioria deles de famílias alemãs, remanescentes dos colonizadores daquelas paragens.

Era comum avistar fumaça saída da chaminé de fornos de barro construídos naqueles quintais e às vezes em meio ao mato o cheiro de pão assando assanhava o apetite e aguçava a curiosidade de saber como viveriam aquelas famílias tão afastadas dos centros urbanizados e tão auto-suficientes. Não tinham filhos na escola pública local.

No topo da subida erguia-se a escola. Uma construção de madeira, muito bem feita: três salas de aula, instalações sanitárias e uma espécie de copa, onde tomávamos o cafezinho oferecido diariamente por uma das mães.

Éramos três professoras a lecionar ali no período da tarde. Na ida íamos cada uma por si, vindas de diferentes bairros. Na volta descíamos aqueles morros juntas, batendo papo e o caminho ficava mais curto.

Certa feita armou-se um temporal sobre a região e choveu a tarde toda. Naquele dia, ao descermos o morro, vimos que tudo estava alagado. Não se conseguia localizar por onde passava a estrada e até onde a vista alcançava era só água impedindo-nos de chegar ao ponto do ônibus.

Já começava a escurecer e o medo começou a tomar conta da gente. Resolvemos voltar em direção à escola e pedir abrigo em uma das casas de alunos. Mas e nossos parentes, como avisá-los? Não havia linha telefônica.

Lembramos então, que um pouco antes dali, na descida do morro, passava a estrada de ferro que ia em direção a Engenheiro Marsilac. Fomos até ela e andando em direção a Santo Amaro, pelos dormentes, em meio ao mato, estudando a cada instante por onde escapar se aparecesse um trem, chegamos à Vila de São José, um centro urbano já bem estruturado naquela época e dali alcançamos a estrada e tudo deu certo.

Aprendemos uma lição: prestar atenção ao tempo, se o céu escurecia ameaçando chuva forte chamávamos uma das mães para que ficasse com as crianças pequenas, dispensávamos os que iam e vinham sozinhos e corríamos morro abaixo para chegar primeiro que as águas.

Conhecemos os moradores da região e logo conseguimos carona na volta para casa, dois dias por semana, com um casal de nisseis chacareiros, que levavam brócolis para a CEAGESP. Nesses dias, lá íamos nós, na parte de trás da Kombi, sentadas sobre os sacos. Não era confortável, nem o aroma agradável, mas em compensação chegávamos muito mais cedo em casa nesses dias.

Fiquei nessa escola, até o nascimento de meu filho. Depois disso só voltei a lecionar em 1971, quando aprovada no concurso, me efetivei e escolhi classe em Mogi das Cruzes e lá, foram 15 anos de histórias...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O harém

Em 1965 iniciei oficialmente minha carreira no magistério, digo oficialmente, pois a partir daí comecei a receber salário. Foi no Bairro do Rio Bonito, em uma escola de emergência, que funcionava em um barracão de madeira, alugado por nós, professoras dos três períodos e compartilhava o terreno com quatro casas, distantes umas das outras, de cinco cômodos cada, bem conservadas, com varanda e jardins floridos todas elas.

A propriedade, situada na Estrada do Rio Bonito parecia uma antiga chácara, com árvores frutíferas, plantas ornamentais, hortaliças diversas, galinhas e patos soltos e criação de abelhas (africanas) para a produção de mel, e lá pelos fundos, um resto de mata nativa.


A sala de aula. Minha irmã com alguns dos meus alunos em foto tirada por mim

Ali, entre aves e cachorros brincavam alegremente doze crianças, tez morena clara, cabelos loiros, às vezes lisos outras encaracolados, com idades variando entre 12 e 2 anos, irmãos por parte de pai ou sobrinhos desses.

Não me lembro o nome de ninguém, nem do proprietário, nem de nenhuma de suas duas esposas, nem da ex que morava na casa maior e de arquitetura mais elaborada e que tinha dois filhos moços, um solteiro em casa e outro, casado e morador também daquele quintal com a esposa e três filhos – os sobrinhos das outras crianças.

O velho, vou chamar assim o senhorio, um homem de seus sessenta anos ou pouco mais, magro, enrugado, vestia ternos escuros e surrados, camisa branca, gravata e chapéu. Estava sempre por perto, como a marcar o seu território.

Dormia alternativamente com uma das duas atuais e exceto a ex, que vivia reclusa, todos ali se relacionavam harmoniosamente, sendo isto visível nas expressões satisfeitas daquelas jovens e belas mulheres e na eletrizante alegria daquelas crianças simples, mas bem cuidadas. Os que estudavam conosco, ao todo oito, eram bons alunos, inteligentes, interessados e educados.

Não raro, viam-se as duas atuais e a nora batendo bons papos em meio à correria da criançada.

De vez em quando, o velho aparecia na porta da sala de aula, guarda-chuva enganchado no braço, tirava o chapéu, fazia uma reverência e, falando muito baixo, como era de seu feitio, indicava para qual das mulheres deveria ser pago o aluguel daquela vez e explicava que iria estar fora por alguns dias, tratando de seus “negócios” lá para os lados da Guarapiranga e que qualquer problema enquanto estivesse fora, deveria ser tratado com a ex, que ele tratava por dona mais o nome.

Essa, bem mais velha que as outras que deveriam ter a idade dos filhos dela, era uma mulher morena, cabelos escuros e compridos, presos em um “pirote”, é assim que se fala na minha família, no topo da cabeça, que lhe dava um aspecto de mais velha. Usava roupas escuras, só falava o estritamente necessário e tinha no olhar a expressão amarga de mágoas recolhidas.

Estive naquele lugar do dia 14 de fevereiro a 14 de dezembro, todos os dias letivos daquele ano de 1965. Nunca ouvi ou vi brigas, gritarias ou qualquer coisa que fosse que denotasse ali alguma desavença. Nunca soube quais eram os “negócios” do velho, mas com certeza eram rendosos e bastantes para manter com fartura e conforto, quatro famílias.


Em passeio ao Zoológico de São Paulo, dois alunos da mesma turma e eu.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Qualquer semelhança com pessoas e fatos reais é a mais pura verdade

Finalzinho de maio ou início de junho de 2010...

Segunda feira. Pescaria. É... Levantar cedo apesar do frio. Encarar o trânsito apesar do rush. Entre ida e volta três longas horas. Muito a fazer, o tempo correndo. A 25 de março me espera. Espera e sabe quanto a detesto. Lá vou eu. Afinal, 51 toalhas não são feitas da noite para o dia, sequer decidi o tecido e faltam poucos dias para o grande evento.

O dia está quente e acreditando na meteorologista estou agasalhada. Entro e saio das lojas, atenta por onde ando. Costumo me perder por ali. O sol, a multidão, a falta da quantidade necessária do tecido (ah, já decidi: será Oxford, prático, fino e barato), o pânico que começa a tomar conta de mim, somados à menopausa, me fazem esquentar. Esquentar muito!

Depois de mais de hora de espera, arrastada de um lado para o outro pela multidão, à beira do balcão de ofertas do “Oxford”, 1,50m de largura, R$ 3,99 o metro - uma pechincha – a quantidade necessária do tecido chega, pago a fatura e constato que, embora deva fazê-lo, não consigo tirar do chão os pacotes. Arrasto-os até a rua e coloco eu mesma, no porta malas do taxi providencialmente parado bem ali e com um motorista nada gentil.

O trânsito colabora e antes da 13h almoço. Começo a cortar as toalhas. Passa o Jornal Hoje, o Vídeo Show, a Sinhá Moça e a sessão da tarde. Faço uma pausa para o jantar e vamos lá: a Missa da Rede Vida e a Novena do Divino Pai Eterno. Acabei: 51 toalhas cortadas e ainda são 20h e 30min. Um montão de coisa pra fazer, mas afinal, a noite é uma criança.

Terça feira. Exame do pai com a fonoaudióloga às 9h, na Brigadeiro Luis Antonio. Fácil. Às seis e trinta toca o despertador. Só garantia, já estava acordada. Acordada mas a preguiça me segura na cama como se o corpo pesasse uma tonelada. Tudo dói: o que já doía e algumas dores novas. Arrasto-me à cozinha para fazer o café. Cadê a água? Paciência... Vou até o poço e a bomba, solidária recusa-se a acordar. Consigo. Agora tem que esperar o ar sair do cano, mas sei que uma hora a água chega. Café feito, a secretária a postos com o pão fresco e... Ei-la em busca do banheiro de cima, pois o de baixo está ENTUPIDO. Ainda bem que é cedo e posso resolver o problema com calma, tomar o café, aprontar-me.

Tudo posto, o pai ainda deve alimentar o gato, os peixes e bater papo com a secretária. Vamos, vamos... Verifico como de costume a água do carro e completo o pouquinho que falta. Antes de ir para o consultório devo passar pela igreja e deixar um material de minha responsabilidade.

Agora estou em cima da hora e sei que duas pessoas foram atropeladas na Avenida Ibirapuera. Não devo ir por lá. Fácil, vou pela parte de baixo do bairro, fácil, fácil. Na primeira virada, uma feira livre. Esqueci! É terça feira! Volto e vejo que a Avenida Santo Amaro está parada. Agora é rezar para que as atropeladas já tenham sido removidas e ir pela Ibirapuera mesmo. Deu certo. Às 8h e 55min adentro o consultório e trinta e cinco minutos depois, saímos e parece que o dia vai render.

Largo o carro com o pai numa travessinha, ao lado Hospital Brigadeiro e corro ao laboratório para pegar resultados de exames. A atendente, gripada, economiza a garganta e grunhe algumas palavras, entre elas entendo que devo esperar a minha vez. Vez que demorou mais de meia hora. Corro de volta ao carro. Agora é só voltar e começar a costurar as 51 toalhas. É cedo e devo deixar o pai no barbeiro. Tudo vai dar certo.

Na Arapanés, quase esquina com a Cotovia, um barulho vindo das entranhas do KA-rrinho me faz direcioná-lo para a direita, o suficiente para ocupar metade de cada faixa e ele morre. Morre de uma vez. Carros, ônibus, caminhões, motoristas estressados que pelo jeito que reagiam, nunca viram nem imaginaram que aquilo poderia acontecer. Não sei de onde, aparece um senhor, ou melhor, um anjo que empurra o veículo, fazendo com que eu consiga virar na Cotovia e seguir em frente devido ao declive do local. Sumiu. Nem pude agradecer.

Aciono o seguro e em menos de 10 minutos ali está o mecânico gentil que já me atendeu em outra ocasião. Nada pode fazer. É caso de guincho, mas não tem problema, a oficina é perto. Devo me comunicar com a seguradora novamente e, entre ônibus, caminhões e aviões, falo sem saber se sou ouvida, até o fim dos créditos. Agora é apostar na sorte. Sorte que logo se manifesta por meio de um torpedo, avisando que o guincho está a caminho e se encontra na Avenida Mil Oitocentos e Vinte e Dois, no bairro do Ipiranga. Glória a Deus! Afinal, ainda são apenas 11h. (Isto rendeu outra história...)

No bar onde acomodei o pai, enquanto vou ao Pão de Açúcar recarregar o celular, o proprietário consulta todos os presentes acerca da nota de 50 que ele deu para pagar o copinho de água que pediu. Com toda razão, com esse derrame de notas falsas que tem por aí, bem podia ser um velhinho querendo dar o golpe. Com o carro quebrado, parado na porta do estabelecimento...

Tudo resolvido, finalmente às 14h sento-me ao computador para fazer os relatórios para a reunião da noite à qual não compareci, por cansaço, claro, mas para a qual levei o material até a igreja, à tarde, aproveitando para fazer Cooper, passar no mercado e na farmácia.

Quarta feira. Logo cedo instalo a máquina de costura no quarto dos fundos. Mais espaço, mais ar. Manhã toda costurando. Veja o lado bom: não fiz o almoço e o serviço rendeu: 12 das 51 toalhas estão prontas e passadas. Um bom começo.

Quinta feira. Costuro, lavo roupa, faço um pouco de jardinagem, preparo o almoço. Recebo a notícia de que a tia Mariazinha não está nada bem, entre a retomada da costura e a visita do seu Geraldo. Urge que façamos essa visita hoje. Amanhã pode ser tarde. Orquestro com a Maria o andamento da situação e depois de um cafezinho com pães doces com recheio de goiabada (freezer é pra essas coisas!), preparamos a mãe, chamamos o taxi e num piscar de olhos estamos no Jardim Miriam, ao lado do leito da enferma. O taxista propôs desligar o taxímetro e esperar para trazer-nos de volta. Bom.

Toda a família por lá. A situação não está nada bem e a mãe, sem reconhecer nenhum dos presentes, chama a tia de “senhora” e trata-a como se desmemoriada fosse ela e, nos 45 minutos que se seguem, alterna críticas à quantidade de cobertas que estão sobre ela e as apresentações de si mesma e da minha pessoa para a coitada da velhinha que lúcida e surda não entendia nada e já se mostrava irritada. Seria cômico se não fosse trágico, mas mesmo assim e apesar de tudo, rimos muito.

Afinal, o que é a vida senão uma grande tragicomédia da qual não sairemos vivos mesmo?

FIM

*As 51 toalhas foram feitas e fazem sucesso.

*O gato chama Azambuja e está cada dia mais folgado.

*O peixe-fêmea já morreu.

*O KA-rrinho já era!

*Meu pai vive, continua pescando e atormentando todo mundo.

*Minha mãe e a tia Mariazinha faleceram.

*Eu continuo correndo como cachorro que quer pegar o rabo

sábado, 1 de outubro de 2011

De volta ao Museu do Ipiranga

Com direito a companhia dos netos e moldura de arco íris






Um dos meus lugares favoritos para uma tarde cultural em Sampa. Localizar-se na maquete da cidade de São Paulo como era em 1840 é sempre interessante. Inimaginável a cidade como tal.