segunda-feira, 30 de maio de 2011

Enquanto aguardava uma consulta, li esta singela estoria

Um senhor já de idade, que se dizia descrente, foi ter com um famoso monge para ver se ele resolvia seus problemas de fé.

O monge conversava com outra pessoa, mas, ao ver o velhinho chegar, correu sorridente a dar-lhe uma cadeira para se sentar. Acabada a conversa, a outra pessoa despediu-se e o monge dirigiu-se ao velhinho e começou uma intensa conversa com ele sobre fé.

O velhinho de descrente que era torou-se crente e confiante nos ensinamentos do monge.


Ao ver a mudança, um discípulo do monge, que tudo presenciara, intrigado perguntou ao velhinho:

- Diga-me: qual foi o argumento que o convenceu?

Ao que ele respondeu:

- Foi o gesto de me trazer a cadeira para me sentar.

Esta pequena história me lembrou que não importa a fé quando não é acompanhada de ações. É coisa morta.

Estela Casagrande - Jornal Cruzeiro - Foto: http://dripedroso.blogspot.com

sábado, 28 de maio de 2011

TROPAEOLUM OU NASTURTIUM?

Depois de longa procura e muita preguiça de ir ao CEASA, finalmente encontrei, se não mudas, pelo menos sementes da tão desejada e necessitada Capuchinha, mas no pacote não está escrito Tropaeolum, assim pintou uma dúvida.

Quando trabalhei numa empresa de alimentação, via constantemente pratos decorados com essa flor comestível e a proprietária comprava a minha conhecida Capuchinha ou Chagas, como Nasturtium. Ao escolhê-la para titular o blog, pesquisei e encontrei Tropaeolum Majus. Sentia algo estranho, não me era familiar...

Hoje voltei à internet e, se o dicionário era “o pai dos burros”, acho que ela é “a mãe”, lá encontrei a solução do enigma: Tropaeolum ou Narturtium? O último é o nosso conhecido agrião, usado na culinária e na fitoterapia e, como se lê na Wikipedia: “ as chagas, do gênero Tropaeolum, da família Tropaeolaceae estão relacionadas ao Nasturtium pelo sabor picante das folhas, que lhes empresta o nome.”

Tudo esclarecido, só resta esperar que as sementes germinem para degustar uma saladinha de Nasturtium, ops! Tropaelum majus.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Vocação - Profissão - Missão...

Morei na Avenida Macuco até os quatro anos e meio. Não sei como começou, mas o que lembro é que o senhor Mário, um de nossos senhorios, que eu chamava de vovô, me perguntava o que eu queria ser quando crescesse e sempre respondia: “professora”. Fico a imaginar de onde tirava essa afirmação.

O vovô Mário era professor aposentado e pastor metodista. Teria ele me influencida com suas histórias? Ou seria minha mãe, com o prazer que demonstrava ao me ensinar as primeiras letras enquanto realizava as tarefas domésticas? Quiça a professora da Escolinha “Yara Maria” (nem sei como lembro esse nome!), por onde passei pouquíssimo tempo, mas o suficiente para, aos quatro anos surpreendê-la com a afirmação categórica de que a vitamina da maçã estava na casca, quando gentilmente ofereceu-se para descascar a fruta que levava de lanche.

Pedro Nava esreveu em Balão Cativo: “é impossível restaurar o passado em estado de pureza. Basta que ele tenha existido para que a memória o corrompa com lembranças superpostas”, assim, escrevo o quê e como me vem à memória, sem a preocupação da averiguação de verdade absoluta, mas o fato é que eu realmente queria ser professora e sabia o que era ser professora: ter uma lousa, giz e alguém à frente para ensinar, fosse o que fosse. Vacação, talvez...


Sempre fui muito boa aluna, num tempo em que se rotulavam as crianças (com a melhor das intenções), sempre estive na seção A, com medalhas e fitas verdes amarelas no peito e, citada como exemplo pelos professores. Ia para a esola com prazer, amava e respeitava meus mestres e curtia muito as amigas, mas para dizer a verdade, não gostava muito de estudar, apenas tinha um objetivo claro à frente e para atigí-lo todos os esforças eram apenas circunstâncias transitórias.

Aos catorze anos preparei em um mês, minha irmã para o exame de admissão ao ginásio. Ela passou bem classificada. Considerado um grande feito pelos meus professores, mas nada demais ante a inteligência privilegiada da mana que hoje é cientista. Mas amei cada minuto de aula que ministrei àquela pobre criatura de 10 anos que submissa satisfazia minha gana de torturá-la com enormes quantidades de tarefas que ela cumpria docilmente. Foi minha primeira aluna e daí nasceu a idéia de preparar outras crianças para o exame de admissão e dar aulas particulares para obter recursos financeiros para ajudar nos estudos, no enxoval...

Aos dezessete anos, antes de me formar, assumi uma classe do Curso de Alfabetização de Adultos, que funcionava na igreja Sagrado Coração de Jesus. Uma primeira série composta de esforçados trabalhadores que à noite tentavam reuperar o tempo e os conhecimentos não adquiridos na infância. Uma experiência única e gratificante.


Minha formatura no Curso de Formação de Professores Primários foi em 19 de dezembro de 1964, no Instituto de Educação Professor Alberto Conte, uma instituição modelo do ensino oficial do Estado de São Paulo. Finalmente era professora com diploma e anel e mister se fazia conseguir uma classe para exercer a tão sonhada profissão/missão.

terça-feira, 24 de maio de 2011

O PÃO DA PAZ

(Recebi esta receita por email, há tempos. Guardei e de repente eis que a encontro oportunamente para compartilhar neste espaço. Bom apetite!)

Ingredientes:

250g de equilíbrio
50g de dignidade
22,5g ou 1 e meia de tablete de fermento de amor
2 xícaras (chá) de desprendimento
5 colheres de sopa de respeito
8 xícaras (chá) de harmonia
5 doses de paciência
2 pitadas de entendimento

Modo de preparo:
Escolha e lave o equilíbrio e reserve.

Misture levemente o amor com as 2 xícaras de desprendimento, cubra com um pano branco e deixe descansar em um lugar morno para crescer bastante, longe das correntes de ódio e dos ventos da discórdia.

Adicione o respeito, a dignidade, as doses de paciência e as pitadas de entendimento.

Adicione metade da harmonia e todo o equilíbrio reservado.

Misture calmamente todos os ingredientes e amasse suavemente com as mãos sobre uma superfície polvilhada com o restante da harmonia.

Sove delicadamente a massa, incorporando sem pressa todos os elementos da receita.

Procure deixar a massa macia, divida-a em três tiras compridas (do presente,passado e futuro), forme uma trança e una as extremidades, fazendo um círculo,simbolizando a roda da vida, sem começo nem fim.

Deixe a massa crescer em lugar abrigado até dobrar ou triplicar de tamanho.

Quanto mais tempo você deixar essa massa descansando, mais ele crescerá e resultará num pão delicioso.

Pré-aqueça o forno do coração em temperatura moderada, coloque delicadamente seu pão para assar.

Em pouquíssimo tempo, você terá o pão da paz.

Reparta-o em pedaços e compartilhe com todos.

Esse pão alimenta milhares de pessoas e conforta o espírito.

Braga, Paulo Araújo de Almeida
Pão da Paz: 194 receitas de pão de países membros da ONU
Paulo Braga - São Paulo: Bocato Editores: Gourmet Brasil:Editora Senac, São Paulo, 2005

segunda-feira, 23 de maio de 2011

“Uma família como as outras...”


Há bom tempo, por indicação do amigo Juliano Spyer, um gênio da internet, li o livro “Baú de Ossos” de Pedro Nava. Li não. Devorei o volumoso exemplar que até me tirava o sono de tão interessante e rico literariamente. Na mesma ocasião, enquanto organizava fotos antigas, deparei-me com esta em especial, datada de 1909, da família do meu bisavô João Walder Sobrinho, avô paterno de meu pai, e impossível foi não associá-la à leitura e viajar nos paralelos.

Olhava para esses rostos e encontrava neles um pouco de cada um de nós desta família. Meu pai lembra muito meu avô, eu também, porém me vejo também na expressão de desalento de minha bisavó. Minha irmã Sid tem os olhos azuis da tia avó Frene (Verônica) que cheguei a conhecer, alguns de meus netos bem como dois de meus filhos e eu na infância carregamos os cabelos loiros dessas crianças da foto, mortas algumas, bem como o pai numa epidemia de tifo em Piracicaba, no primeiro quarto do século.

Meu temperamento curto e grosso, meu caráter rígido e seco, meu gosto pelas artes, repetem meu avô aí retratado e meu pai ainda por aqui. Outras peculiaridades me remetem ao outro ramo da árvore genealógica, o ramo materno, a teimosia e a persistência dos hispânicos, por exemplo, e me vejo composta dos pedaços de cada uma dessas pessoas concluindo que nada mais sou do que um mosaico da memória viva de todas elas, vivendo em um novo tempo e nesta cidade, escolhida por elas, para serem continuadas.

Por tudo isso, localizei trechos do livro em questão e os junto à foto.

“... Gosto de saber, na minha hora de bom e de mau, na de digno ou indigno, nobre ou ignóbil, bravo ou covarde, veraz ou mentiroso, audaz ou fugitivo, circunspecto ou leviano, puro ou imundo, arrogante ou humilde, saudável ou doente – quem sou eu. Quem é que está na minha mão, na minha cara, no meu coração, no meu gesto, na minha palavra; quem é que me envulta e grita estou aqui de novo, meu filho! Meu neto! Você não me conheceu porque estive escondido cem, duzentos, trezentos anos...”.

“... Poeticamente, a genealogia é oportunidade de exploração no tempo. Nada de novo sobre a face do corpo. Nem dentro dele. Esse riso, esse jeitão, esse cacoete, esse timbre de voz, esse olhar, esse choro, essa asma, essa urticária, esse artritismo, esse estupor, essa uremia – são nossos e eternos, são deles e eternos. Vêm de trás e vão marcando uma longa cadeia de misérias. São sempre iguais e emergem das balizas trágicas do nascimento, do casamento, do amor, do ódio, da renúncia, da velhice e da morte. Meu, teu, seu, nosso, vosso, deles, delas. Eu, tu ele, nós, vós, eles. Entre dois nadas os pronomes dançam. Ah! Dançam em vão... Assim como é, racialmente, minha gente é o retrato da formação dos outros grupos familiares do país. Com todos os defeitos. Com todas as qualidades...”.

“... Uma família como as outras...”.

E parodiando o autor:

Pois é... Eu sou uma pobre mulher paulistana do Caminho Novo, das Paragens dos Campos de Piratininga.

Obs.: Na foto estão meus bisavós paternos, 11 de seus 12 filhos, sendo que a 12ª, Ruth, ainda se esconde no ventre de dona Maricota, como dá para perceber pelo estilo de seu vestido. Meu avô, com 15 anos então, é o primeiro no alto à esquerda.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O HOMEM TORNA-SE TUDO OU NADA, CONFORME A EDUCAÇÃO QUE RECEBE

TESE DE MESTRADO NA USP

Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da "invisibilidade pública". Ele comprovou que, em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira mera sombra social.

"Fingi ser gari por um mês e vivi como um ser invisível"
O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou um mês como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali,constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são "seres invisíveis, sem nome". Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa. Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida:

"Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência", explica o pesquisador.

O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano.

"Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão", diz.

"No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, algunsse aproximavam para ensinar o serviço.

Um deles foi até o latão de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro.

Eu nunca apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse: E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu bebi. Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar."

O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?

"Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central... Aí eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar, não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado."

E depois de um mês trabalhando como gari? Isso mudou?

"Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão."

E quando você volta para casa, para seu mundo real?

"Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador. Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossem uma "COISA"."

*Ser IGNORADO é uma das piores sensações que existem na vida!

Autor: Plínio Delphino, Diário de São Paulo.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Duas Marias e um cafezinho

Estive fora alguns dias. Perdi a festa do dia das mães na paróquia, deixei de ganhar uma rosa de presente do Mambo, perdi o brechó da paróquia – o melhor de todos segundo minha amiga Socorro – e perdi minha querida tia Mariazinha que faleceu no dia 4 de maio, exatos três meses do falecimento de minha mãe. Coincidência? Acho que não.

A tia Mariazinha era a esposa do tio João, irmão de minha mãe. As duas sempre foram muito amigas e enquanto pode minha mãe a visitava amiúde. Dizia: “Hoje vou tomar um cafezinho com a Mariazinha” e lá ia ela para os altos do Jardim Miriam. Muito simples, sem pais, criada pelos avós, essa tia querida sempre nos recebia com seu delicioso café com bolo.

Bem idosa, beirando os 90, já perdeu o esposo e os dois filhos homens, restando-lhe a única filha mulher, minha comadre, madrinha do meu filho mais velho. Nos últimos tempos, bem debilitada contava com os cuidados da nora, pessoa que combina com o nome, Flor, que a tratava com dedicação e carinho como nunca vi.

Deixa muitas saudades e uma linda família que perpetuará seu nome às novas gerações.

Quando soube de seu tranquilo passamento, a única coisa que me veio à cabeça foi: “Agora as duas Marias estão tomando cafezinho juntas na Casa do Pai”.

Da esquerda para a direita: eu, minha mãe, tia Mariazinha e Benedito o filho mais velho, em foto que deve ser de 1947, tirada em frente à casa dela, na Vila Indiana.
Quem se lembra da Vila Indiana, a vila dos operários da Fiação Indiana que ficava em parte onde hoje está o Shoping Ibirapuera?

domingo, 1 de maio de 2011

No cemitério de Santo Amaro


Estivemos ontem, 30 de abril, meu pai 91 anos, o senhor Geraldo 79 anos, amigo há mais de meio século, e eu visitando o Cemitério de Santo Amaro. Sempre nessas ocasiões além da visita ao túmulo de meus avós paternos, fazemos um giro por lá para rever a última morada de pessoas queridas e de antigos conhecidos.

Sob o sol da gloriosa manhã daquele sábado, tive a capacidade de perder os dois idosos por lá. Como disse minha irmã: a culpa foi minha, pois quem mandou deixar que os dois seguissem em direções opostas?


Corria aflita entre as sepulturas em sua maioria altas,nada via, nada ouvia. Os poucos funcionários a serviço davam informações desencontradas.

Cansada e lembrando que íamos sair pelo portão principal, dirigi-me para lá e, alívio! Lá estavam os dois velhinhos sentadinhos um ao lado do outro, como dois garotinhos bem comportados, à minha espera. Só me restou rir e pensar com meus botões: nesses casos dever-se-ia implantar-lhes chips localizadores.

Já que resolvi fazer constar a aventura e para homenagear a inteligência dos que ousarem me ler, incluo fotos de esculturas de Julio Guerra que se encontram naquela necrópole, para que aqueles que ainda não conhecem, constatem a genialidade desse artista santamarense, autor da polêmica estátua do Borba Gato da Avenida Santo Amaro. Pelo menos não será de todo em vão o tempo gasto por aqui.