domingo, 13 de novembro de 2011

UM GESTO SOLITÁRIO

5 de junho de 1988. Tarde gelada e molhada – o segundo dos dias mais tristes de minha vida. Velório do Hospital Alemão Osvaldo Cruz, Paraíso. Meu filho José Cláudio, 18 anos, velado, em caixão lacrado coberto de flores brancas, após acidente de moto.

Querido, reunia ali para o último adeus, uma legião de parentes, amigos de escola, igreja, trabalho, de São Paulo e outros tantos vindos de Mogi das Cruzes. Jovens que eu conhecia e outros desconhecidos, que se solidarizavam com nossa dor.

Logo após a cerimônia religiosa, uma mulher cabisbaixa caminha lentamente em meio às pessoas em direção à urna fúnebre, faz uma prece silenciosa e num gesto ritual, deposita ali um botão de rosa vermelha. Depois vem em minha direção, pede desculpas por estar ali, apresenta-me os pêsames e diz que tinha de vir, pois sempre foi tratada com muito respeito pelo meu filho, que conversavam muito no trabalho dele, que ele era bom e não discriminava as pessoas. Abraçou-me e sumiu.

Sem entender, indaguei aos mais próximos sobre quem era ela. Constrangido, um rapaz, colega de trabalho do meu filho, explica que era uma prostituta da Rua Rego Freitas, cliente, como tantas outras, do estacionamento onde trabalhavam.

2 comentários:

  1. Que belíssimo gesto de carinho para com quem lhe tratou bem e sem discriminação.
    Quanto á você minha amiga que momento de dor incomparável a tudo o que se possa imaginar.
    abraço grande

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  2. Obrigada amiga! É a vida que se vive, não a que se sonha.

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