Segunda feira, dia 12 de março, levei meu pai ao pronto socorro por conta de dor aguda na face, degeneração dos nervos trigêmeos. PS de um hospital, que não é de primeira linha, mas é tradicional e atende pelo nosso plano de saúde.
Na triagem, depois de explicar tudo ao enfermeiro, ele me olha estranhamente, titubeia e escreve alguma coisa. Entrega o termômetro na mão do meu pai, que treme e com a outra segura a bengala sem saber o que fazer.
Mais um pouco e pergunta:
- A senhora disse que ele tem tri... O quê?!
Encaminhado para o clínico, é acomodado numa maca no pronto atendimento e bem depois a atendente de enfermagem aparece para fazer a punção na veia para colocar um acesso.
Espeta a agulha instala o acesso e nada sai nem entra. Ela revira a bandeja cheia de embalagens, luvas, etc, de outro atendimento, em busca de alguma coisa. Olha na maca, olha no chão. Nada. Tenta de novo injetar água destilada nada!
Comento:
- Será que perdeu o acesso?
-É, vou chamar o rapaz.
O rapaz, que devia ser um enfermeiro “mais graduado”, tira o acesso e olha a agulha. A adorável mocinha não havia tirado a parte interna, que fecha a passagem até a colocação do acesso (Devia ser isso que procurava). Olham um para o outro e disfarçam...
Pergunto ao “rapaz”:
- E as luvas?
Bem, foi tanta justificativa sem propósito, que nem vale a pena comentar.
Nesse momento, lembrei-me do que meu pai sempre diz, quando se fala em internação hospitalar:
- Quero morrer lá perto de casa!
Essa experiência levou-me a resgatar um texto que escrevi em setembro de 2005, para o www.vivasp.com, que posto abaixo.
“Um zero – A diferença entre a vida e a morte
Hoje enquanto fazia o jantar, escutava o Ney Gonçalves Dias berrar naquele seu programa sensacionalista muito apreciado por meu pai, a notícia do caso da menininha que faleceu no Hospital do Mandaqui, após receber soro glicosado a 50% quando deveria ser 5%. Um pequeno engano, apenas um zero a mais que determinou o fim de uma vida.
Imediatamente lembrei-me de certa vez em 1995, quando de ônibus subia a Avenida Brigadeiro Luiz Antonio e algumas atendentes de enfermagem do Hospital Brigadeiro entraram e duas sentaram-se no banco atrás do meu.
Chamou-me a atenção quando uma delas perguntou se a outra havia conseguido entender aquelas continhas de regra de três, ensinadas no curso. A outra respondeu que eles tinham ensinado esse negócio, mas que ela não tinha entendido nada. A primeira perguntou então como é que ela calculava a medicação de acordo com a variação do peso do paciente. A segunda simplesmente respondeu que “calculava mais ou menos”. A primeira riu e disse que não podia ser mais ou menos, que ela devia aprender a fazer a regra de três, que dava certinho."
Todas essas ocorrências são resultantes de anos de descaso com a Educação e decadência do ensino público que presenciei acentuar-se expressivamente nos meus últimos anos de carreira e à falta de qualificação profissional. Mais ou menos já está bom demais.
Prioriza-se a quantidade em detrimento da qualidade. A educação é reduzida a números para satisfazer
às estatísticas de erradicação do analfabetismo a ser apresentada aos financiadores estrangeiros.
Convivi, no pouco tempo que trabalhei no setor privado, com diversos funcionários que, com o ensino médio completo, não eram capazes de escrever corretamente uma lista de alimentos e produtos de cozinha.
O pior é quando esses oriundos do ensino público vão parar em setores em que o saber ler, interpretar e calcular faz a diferença entre a vida e a morte.
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