sexta-feira, 16 de março de 2012

QUERO MORRER LÁ PERTO DE CASA!

Segunda feira, dia 12 de março, levei meu pai ao pronto socorro por conta de dor aguda na face, degeneração dos nervos trigêmeos. PS de um hospital, que não é de primeira linha, mas é tradicional e atende pelo nosso plano de saúde.

Na triagem, depois de explicar tudo ao enfermeiro, ele me olha estranhamente, titubeia e escreve alguma coisa. Entrega o termômetro na mão do meu pai, que treme e com a outra segura a bengala sem saber o que fazer. Mais um pouco e pergunta:

 - A senhora disse que ele tem tri... O quê?!

Encaminhado para o clínico, é acomodado numa maca no pronto atendimento e bem depois a atendente de enfermagem aparece para fazer a punção na veia para colocar um acesso. Espeta a agulha instala o acesso e nada sai nem entra. Ela revira a bandeja cheia de embalagens, luvas, etc, de outro atendimento, em busca de alguma coisa. Olha na maca, olha no chão. Nada. Tenta de novo injetar água destilada nada!

 Comento:

 - Será que perdeu o acesso?

 -É, vou chamar o rapaz.

O rapaz, que devia ser um enfermeiro “mais graduado”, tira o acesso e olha a agulha. A adorável mocinha não havia tirado a parte interna, que fecha a passagem até a colocação do acesso  (Devia ser isso que procurava). Olham um para o outro e disfarçam...

Pergunto ao “rapaz”:

- E as luvas?

Bem, foi tanta justificativa sem propósito, que nem vale a pena comentar.

Nesse momento, lembrei-me do que meu pai sempre diz, quando se fala em internação hospitalar:

 - Quero morrer lá perto de casa!

 Essa experiência levou-me a resgatar um texto que escrevi em setembro de 2005, para o www.vivasp.com, que posto abaixo.

 “Um zero – A diferença entre a vida e a morte


Hoje enquanto fazia o jantar, escutava o Ney Gonçalves Dias berrar naquele seu programa sensacionalista muito apreciado por meu pai, a notícia do caso da menininha que faleceu no Hospital do Mandaqui, após receber soro glicosado a 50% quando deveria ser 5%. Um pequeno engano, apenas um zero a mais que determinou o fim de uma vida. 


Imediatamente lembrei-me de certa vez em 1995, quando de ônibus subia a Avenida Brigadeiro Luiz Antonio e algumas atendentes de enfermagem do Hospital Brigadeiro entraram e duas sentaram-se no banco atrás do meu. 


Chamou-me a atenção quando uma delas perguntou se a outra havia conseguido entender aquelas continhas de regra de três, ensinadas no curso. A outra respondeu que eles tinham ensinado esse negócio, mas que ela não tinha entendido nada. A primeira perguntou então como é que ela calculava a medicação de acordo com a variação do peso do paciente. A segunda simplesmente respondeu que “calculava mais ou menos”. A primeira riu e disse que não podia ser mais ou menos, que ela devia aprender a fazer a regra de três, que dava certinho."

Todas essas ocorrências são resultantes de anos de descaso com a Educação e decadência do ensino público que presenciei acentuar-se expressivamente nos meus últimos anos de carreira e à falta de qualificação profissional. Mais ou menos já está bom demais.

Prioriza-se a quantidade em detrimento da qualidade. A educação é reduzida a números para satisfazer
às estatísticas de erradicação do analfabetismo a ser apresentada aos financiadores estrangeiros.

Convivi, no pouco tempo que trabalhei no setor privado, com diversos funcionários que, com o ensino médio completo, não eram capazes de escrever corretamente uma lista de alimentos e produtos de cozinha.

O pior é quando esses oriundos do ensino público vão parar em setores em que o saber ler, interpretar e calcular faz a diferença entre a vida e a morte.


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