Quando fiz 15 anos, ganhei de meu pai, a pedido, o livro "Poemas para rezar", e, é de lá que compartilho o texto que segue, sempre atual.
"Saí, Senhor.
Lá fora os homens saíram.
Iam,
Vinham,
Andavam,
Corriam.
As bicicletas corriam,
Os automóveis corriam,
Os caminhões corriam,
A rua corria,
A cidade corria,
Todo o mundo corria.
Corriam todos, para não perder tempo:
Corriam no enlaço do tempo,
para recuperar o tempo,
para ganha tempo.
Até logo, doutor, desculpe-me - não tenho tempo.
Passarei outra vez, não posso esperar mais - não tenho tempo.
Termino aqui esta carta - pois não tenho tempo.
Queria tanto ajudar-te - mas não tenho tempo.
Não posso aceitar, por falta de tempo.
Não posso reflectir, nem ler, ando assoberbado - não tenho tempo.
Gostaria de rezar - mas... não tenho tempo.
Compreendes, Senhor, eles não tem tempo.
A criança está a brincar, não tem tempo agora... mais tarde...
O estudante tem os seus deveres a fazer, não tem tempo... mais tarde...
O universitário tem lá as suas aulas, e tanto, tanto trabalho que não tem tempo... mais tarde...
O rapaz pratica desporto, não tem tempo... mais tarde...
O que casou, há pouco, tem a sua casa, deve organizá-la.
Não tem tempo... mais tarde...
O pai de família tem os seus filhos, não tem tempo... mais tarde...
Os avós têm os seus netos, não têm tempo... mais tarde...
Estão doentes.
Precisam tratar-se... não têm tempo... mais tarde...
Estão à morte, não têm...
Tarde de mais... já não têm tempo.
Assim correm todos os homens atrás do tempo, Senhor.
Passam correndo pela Terra,
apressados,
atropelados,
sobrecarregados,
enlouquecidos,
assoberbados.
Nunca chegam, falta-lhes tempo,
apesar de todos os esforços, falta-lhes tempo,
falta-lhes mesmo muito tempo.
Com certeza, Senhor, erraste os cálculos.
Há um engano geral:
Horas curtas de mais,
dias curtas de mais,
vidas curtas de mais.
Tu que estás fora do tempo, Senhor, sorris ao ver-nos assim a brigar com ele.
E sabes o que fazes.
Não Te enganas quando distribuis o tempo aos homens,
a cada um dás o tempo de fazer o que queres que faça.
Mas é preciso não perder tempo,
não esbanjar tempo,
não matar o tempo,
Pois o tempo é um presente que nos dás.
Presente perecível,
Um presente que não se conserva.
"
Michel Quoist em "Poemas para rezar"
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