Tinha dezesseis anos, morava num subúrbio
de São Paulo e trabalhava como office boy no centro da cidade.
Estudava à noite, chegava tarde, saía de
casa bem cedo, carregando a marmita. O salário era pouco, a vida difícil e
ainda não tinham inventado o vale-refeição. Vivia atrasado, correndo pelas ruas
para não perder a condução.
Certo dia, ao se aproximar da estação do
trem, ouviu o apito, aviso sinistro de que a composição já estava para sair.
Disparou desabaladamente em direção à plataforma e, ao colocar os pés ali,
pisou em cheio numa poça d’água, escorregou e estatelou-se no chão.
A marmita voou, desembrulhou-se e a tampa
separou-se dela, fazendo com que o ovo frito, única mistura que levava, saísse
rolando pela plataforma, parando junto a um grupo de pessoas que esperavam a composição
e que ao ver aquele ovo rolando, gritavam:
-
Pega o zoião moleque! Não deixa a
mistura fugir!
Envergonhado, sem olhar para trás,
enfiou-se no vagão maldizendo o ovo artista, que fugiu rodopiando de sua
marmita e evitando encarar os olhares com a sensação de que na face de cada
pessoa, dois enormes ovos fritos marotos o fitavam.
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