Houve um tempo em que morei em Mogi das Cruzes. Desse tempo quero deixar aqui minhas memórias.
Meu carro ainda era o fusca 66 azul jeans. Saí da Vila
Lavínia, Mogi das Cruzes, em direção ao
centro para ir pegar meu marido, às 18h na Elgin. Estávamos minha sogra, meus
filhos Maria Cristina e José Cláudio e eu no carro.
Seguia pela Rua Ipiranga atrás de um ônibus da Eroles (única
empresa de ônibus urbano em Mogi à época. Não existe mais). Ao chegar no
semáforo com a Dr Deodato, este fechou e o ônibus que ia à minha frente avançou
o sinal e parou bruscamente com a parte da frente no cruzamento das ruas. Parei também, mas muito próximo daquele
veículo que, para sair do cruzamento deu marcha a ré. Foi tudo tão rápido que só o que fiz foi
acionar a buzina, mas já era tarde, ele abalroou meu amado fusca, fazendo um
grande estrago.
Desci do carro feito onça, de bobes nos cabelos (parecia a
dona Florinda, amada do professor Girafales e mãe do Quico, amigo do Chaves) – dali a pouco deveria ir para a faculdade – e
comecei a pedir que chamassem a polícia para fazer o BO. Chamei o motorista de irresponsável por dar ré
sem olhar. “Podia ter matado meus filhos!”. Estava descontrolada e desolada.
Imediatamente, não sei de onde, aparece um policial e o
motorista imediatamente conta a sua versão do que havia acontecido:
- Parei no semáforo e como pode ver, essa louca não parou,
bateu atrás do ônibus e agora quer pôr a culpa em mim – olha para o cobrador e
pergunta: “Não é verdade?” – ao que este, olhar baixo, responde: “É...”.
Só lembro que voei no colarinho daquele infeliz motorista e o
sacudia e dizia que ele não era homem pra assumir o que tinha feito, enquanto o
policial pedia para me acalmar sob pena de ter que me conduzir à delegacia por
agressão. E os curiosos se aglomerando...
A situação era surreal. A frente de um carro dirigido por
uma mulher, com bobes na cabeça, enfiada debaixo da traseira de um ônibus
dirigido por um motorista profissional HOMEM. Um círculo de homens em volta e
nenhuma testemunha que não fossem minha sogra e as crianças. O ano era 1972. Em
quem vocês acreditariam?
Sai dali chorando de ódio e depois de pegar meu marido e
levar os filhos para casa fomos à delegacia e registramos o BO.
No final do processo perdi a causa, pois, “como informado
pelo motorista e TESTEMUNHAS (que assinavam o seu depoimento), eu havia batido
atrás do ônibus” e, portanto, não fazia jus ao ressarcimento por parte da Eroles,
do gasto com o conserto do carro.