sábado, 5 de setembro de 2020

Eleições - 1982


Houve um tempo em que morei em Mogi das Cruzes. 
Dessa época quero deixar aqui minhas memórias

Meu esposo tinha paixão pela política e sonhava um dia candidatar-se a vereador. Muito bem relacionado na empresa e na comunidade, entendeu que a hora havia chegado. Era o ano de 1982 e em 15 de novembro o eleitorado brasileiro seria chamado a eleger os governadores que administrariam seus estados pelo período de quatro anos, a contar de 15 de março de 1983. Uma eleição histórica:  a primeira eleição direta para governadores de estado desde os anos 1960. Era o período da ditadura militar.

Neste pleito valeria o "voto vinculado": o eleitor teria que escolher candidatos de um mesmo partido para todos os cargos em disputa (governador, prefeito, senador, deputado federal, deputado estadual e vereador), sob pena de anular seu voto.

Candidatura consolidada era hora de fazer a campanha. Confesso que nunca achei uma boa ideia essa decisão, mas era a escolha dele e se não o fizesse passaria o resto da vida imaginando, e se....

Comícios feitos de cima do caminhão de um conhecido, distribuição de material de campanha e de “favores”. Raros aqueles que se propunham a ajudar por idealismo ou mesmo amizade. Os interesses falavam mais alto a coisa estava ficando cara.

Não fui às ruas, trabalhava em casa confeccionando faixas e cartazes com a ajuda das crianças maiores. Uma agitação até que interessante, até o dia em que resolveram realizar uma reunião em casa para organizar os grupos de trabalhos nas ruas.  Esse foi meu primeiro estresse da campanha.

Chovia muito naquela noite e a Rua Taiaçupeba embora desse acesso à Usina de Asfalto do “Boy”, ainda era uma lama só. As pessoas que chegavam recebiam o lanche que preparamos e acomodavam-se em nossa sala como podiam.

De repente, a sala estava lotada!  Havia gente sentada em cadeiras, em mesinhas, degraus, nos sofás e no encosto dos sofás com os pés cheios de lama no assento. Uma cena que jamais imaginaria ver. E pior: ter que limpar!

Com a perspectiva de uma votação expressiva para o candidato do partido ao Governo do Estado – André Franco Montoro, os peemedebistas achavam que o voto vinculado levaria à vitória um dos seus três candidatos a prefeito: Rubens Magalhães,  presidente do Diretório Municipal do PMDB, Aécio Yamada (que tiraria dividiria votos da colônia japonesa com Junji Abe) e o professor Waltely Aquino de Oliveira cujo vice era  o promotor público e professor universitário Antônio Carlos Machado Teixeira (advogado da Elgin Máquinas).

Devido à força política do prefeito Waldemar Costa Filho, meu marido, como boa parte dos cidadãos mogianos, não punha fé no PMDB e embarcou numa canoa furada, completando como um dos vereadores, a chapa da ARENA:

Governador - Reinaldo de Barros
Senador - Adhemar de Barros Filho
Deputado Federal - Estevam Galvão
Deputado Estadual - Mauricio Najar
Prefeito – Junji Abe

Numa reviravolta de última hora o candidato a prefeito Waltely passou a vice e seu vice o Dr. Antônio Carlos Machado Teixeira a candidato a prefeito que, numa disputa acirrada, surpreendeu e foi eleito, mais pelo prestígio de Franco Montoro e do voto vinculado, do que por si mesmo. 

A chapa conseguiu eleger senador, deputado federal e deputado estadual.

O novo prefeito era o candidato apoiado pela Elgin então, obviamente, meu marido perdeu a eleição, o emprego e por algum tempo o entusiasmo pela política. Era hora de correr atrás do prejuízo.

Notas:
(1) A cédula era a que aparece na foto.
(2) Recorri à memória e à internet para escrever. Possíveis falhas, me corrijam por favor. Lá se vão 38 anos...

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