sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Contando ninguém acredita...

Houve um tempo em que morei em Mogi das Cruzes.                                                                                    Desse tempo quero deixar aqui minhas memórias.

Meu carro ainda era o fusca 66 azul jeans. Saí da Vila Lavínia, Mogi das Cruzes, em direção ao centro para ir pegar meu marido, às 18h na Elgin. Estávamos minha sogra, meus filhos Maria Cristina e José Cláudio e eu no carro.

Seguia pela Rua Ipiranga atrás de um ônibus da Eroles (única empresa de ônibus urbano em Mogi à época. Não existe mais). Ao chegar no semáforo com a Dr Deodato, este fechou e o ônibus que ia à minha frente avançou o sinal e parou bruscamente com a parte da frente no cruzamento das ruas.  Parei também, mas muito próximo daquele veículo que, para sair do cruzamento deu marcha a ré. Foi tudo tão rápido que só o que fiz foi acionar a buzina, mas já era tarde, ele abalroou meu amado fusca, fazendo um grande estrago.

Desci do carro feito onça, de bobes nos cabelos (parecia a dona Florinda, amada do professor Girafales e mãe do Quico, amigo do Chaves)  – dali a pouco deveria ir para a faculdade – e comecei a pedir que chamassem a polícia para fazer o BO. Chamei o motorista de irresponsável por dar ré sem olhar. “Podia ter matado meus filhos!”. Estava descontrolada e desolada.

Imediatamente, não sei de onde, aparece um policial e o motorista imediatamente conta a sua versão do que havia acontecido:

- Parei no semáforo e como pode ver, essa louca não parou, bateu atrás do ônibus e agora quer pôr a culpa em mim – olha para o cobrador e pergunta: “Não é verdade?” – ao que este, olhar baixo, responde: “É...”.

Só lembro que voei no colarinho daquele infeliz motorista e o sacudia e dizia que ele não era homem pra assumir o que tinha feito, enquanto o policial pedia para me acalmar sob pena de ter que me conduzir à delegacia por agressão. E os curiosos se aglomerando...

A situação era surreal. A frente de um carro dirigido por uma mulher, com bobes na cabeça, enfiada debaixo da traseira de um ônibus dirigido por um motorista profissional HOMEM. Um círculo de homens em volta e nenhuma testemunha que não fossem minha sogra e as crianças. O ano era 1972. Em quem vocês acreditariam?

Sai dali chorando de ódio e depois de pegar meu marido e levar os filhos para casa fomos à delegacia e registramos o BO. 

No final do processo perdi a causa, pois, “como informado pelo motorista e TESTEMUNHAS (que assinavam o seu depoimento), eu havia batido atrás do ônibus” e, portanto, não fazia jus ao ressarcimento por parte da Eroles, do gasto com o conserto do carro.


2 comentários:

  1. Você tinha e ainda tem total razão de ter ficado indignada. Essa pequena tragédia de trânsito, se ocorresse contigo nos dias atuais, poderia ter ter terminado muito pior, dado que a educação dos motoristas não evoluiu, pelo contrario regrediu, e com a facilidade dada de portar arma. Por Deus ! Vamos parar por aqui...

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