Meus ouvidos parecem antenas parabólicas. De repente alguém por perto começa uma conversa e inevitavelmente escuto e, como na maioria das vezes o assunto é pitoresco, não tem como não registrar. Sem contar que minha memória auditiva é privilegiada, sempre foi assim, aprendia nas aulas, em classe, quase não precisava estudar.
Lembrei de uma, das muitas que tenho arquivadas, por conta da notícia do congestionamento na Brigadeiro Luiz Antonio.
Era dezembro, um calorão e eu em pé no coletivo. Na altura da Batataes (com “e”, como está na placa), o semáforo fecha e vejo o Ari Toledo saindo do flat onde morava. Camisa branca, tipo bata e um longo colar. Sorrio sozinha lembrando quanto ele já nos fez rir e cantarolo mentalmente aquele que foi o seu primeiro sucesso: “puxa vida não tinha uma vida pior do que minha meu Deus quanta moça que fome que eu tinha zanzando na praia pra lá e pra cá...”.
Gargalhadas vindas do fundo do veículo me trazem de volta ao presente e imediatamente me plugam na conversa animada de dois rapazes, e aí, o melhor!
Os dois trabalham em um laboratório de análises clínicas naquela região. Coletam material para exames. Um deles contava um causo do dia. Um cliente, que ele chamava de alemão, viera fazer um exame de sangue junto com a namorada. Quando a menina se ofereceu para acompanhá-lo ele, todo macho, recusa sua companhia dizendo que não precisa disso.
Lá dentro, quando lhe colocam o garrote, pede aflito que chamem outro funcionário, para que lhe segure o braço, pois: “ele se conhece muito bem e sabe do que é capaz!” Feito isso, pálido e trêmulo deixa colher o sangue, sem olhar para a agulha.
Ao terminar, o atendente oferece-lhe o habitual café para quebrar o jejum. O alemão recusa todo macho, dizendo que não precisa disso!
Ao sair, a namorada vem a seu encontro e muito meiga pergunta: “oi, amor, como foi?”, ao que o outro todo macho responde: “bobagem, não foi nada!”
E o narrador, continua: “na frente da namorada o alemão era todo macho, lá dentro parecia menina pedindo para segurar o braço. Ah, eu queria ir ao casamento deles e naquela hora do “se alguém sabe de alguma coisa...”, ia me levantar e gritar pra noiva: “cuidado aí meu, teu guaraná é fanta!”.
Gargalhadas e mímicas ilustravam a narrativa que divertia a platéia e amenizava a viagem.
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