Acho que foi na primeira vez que saímos juntas. Minha irmã Jussara, Marcela e eu. Íamos ao teatro, mas antes, passamos pela casa da Marcela e a trouxemos para um café. Ao dobrarmos a última esquina antes de casa, ela exclama animadíssima: “Nossa! Por aqui tem muito verde, e flores também, que lindo! Que árvores são essas?”.
Depois do café seguimos para o SESC Pompéia, onde assistiríamos a um espetáculo de dança. Não me lembro do nome, nem do espetáculo em si, tornaram-se insignificantes diante da companhia e da desenvoltura da Marcela.
Já estávamos bem próximo do endereço desejado, quando ao depararmo-nos com uma praça, minha irmã, a motorista, viu-se perdida e pensando em voz alta perguntou qual seria o caminho a seguir. Imediatamente a Marcela explicou que ela deveria seguir por tais e tais ruas, que daria certo. E assim foi.
Curiosas, perguntamos como poderia ela conhecer tão bem aqueles caminhos, sendo que a vida toda morou do outro lado da cidade e nunca estivera ali.
- Ah, é fácil. Quando o meu querido Palmeiras joga, fico ouvindo o rádio e os locutores orientam os motoristas, ensinando os melhores trajetos para desviar do trânsito e chegar ao Parque Antártica e um desses caminhos é justamente o que fizemos.
Na entrada do teatro, ela tocava encantada, o trabalho artístico feito em alto relevo e ao entrarmos na sala de espetáculo ela comentou:
- Que pena, veio pouca gente! Realmente ainda era cedo e a sala estava quase vazia.
A Marcela está com 25 ou 26 anos, estudou em escolas especiais, faz faculdade de música, compõe, toca diversos instrumentos, rege o coral da igreja que frequenta, apresenta-se em festas. Tudo sozinha, acompanhada apenas de sua bengala branca. Ah, esqueci! Ela é Deficiente Visual, nasceu prematura e nunca enxergou.
Se você leu até aqui, vai querer voltar ao início da narrativa que achou meio sem sentido, boba, não é?
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