domingo, 27 de outubro de 2013

Dói, sempre dói...

Hoje completamos um ano do falecimento do meu pai, um dia depois da data de  nascimento da minha mãe, que este ano completaria 90 anos e se foi em fevereiro de 2011.  A vida cumpre seu  ciclo e,  na humildade de nossa impotência, só nos compete aceitar. Dizer amém!

Não quer dizer que seja fácil, que não haja dor, lágrimas, dúvidas, culpas, arrependimentos. Somos humanos. Aos que têm fé em algo além desta passagem terrestre  restam consolo e esperança. Mas dói, sempre dói.

Fui aos cemitérios, sim, cemitérios, são dois, cumprir o preceito  de finados, orar, levar flores àqueles que tanto as amavam em vida e porque não dizer, ter aquela conversa com eles. Avós, pai, mãe e filhos.

Depois da Missa, em intenção de todos da família, vivos e mortos, chego em casa e encontro mortos, os dois peixes  que restaram no tanque do meu pai. Estavam doentes, sendo tratados há alguns dias e morrem justamente hoje.

Senti como se um ciclo se encerrasse e realmente fosse  chegada a hora de dar um rumo no que resta da minha vida, liberta das teias que prendem ao passado. Criar coragem e desfazer-me de animais de estimação – ainda restam as tartarugas e o gato Azambuja - objetos, móveis e até da casa onde vivo, afinal somos apenas passageiros desta existência, nada realmente nos pertence, nem coisas, nem pessoas. Só nascemos e só deixaremos esta vida, então pra que ter tanto para cuidar se o que importa e conta é apenas o ser, e este, está em qualquer lugar ou situação em que estejamos.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O Brooklin que cresceu comigo

Brooklin, década de 60



Balão do Bonde Brooklin

Antonio Marcos e Vanusa, no auge de suas carreiras, vivem num sobrado todo ajardinado, próximo à Fonte Petrópolis.

Marcos Roberto, cabelos loiros e longos, Corcel vermelho e botas, ocupa um apartamento no único edifício da Rua do Níquel e faz sucesso na Jovem Guarda.

Roque Petroni Jr, dono da mais antiga farmácia do bairro, destaca-se com sua esposa e filhos, como membros atuantes na Paróquia do S C de Jesus.


Rita Petroni aos 18 anos

José Diniz, apenas o Zé da Farmácia, muito mais que político, é o socorro certo para os desvalidos que sempre encontram ajuda em sua botica em Santo Amaro.

Guido Caloi, com seu filho Bruno comandam a fábrica de magrelas mais famosa do Brasil, ali, na Av. Santo Amaro. A empresa com seu time de futebol de várzea disputa campeonatos regionais. Além disso, todos os anos, promove uma corrida de bicicletas por ocasião do 9 de julho, que lota as calçadas em seu percurso.

Orlando Gáudio, ainda não é nome de rua e sim professor de Geografia no Alberto Conte e no Ennio Voss.

Vicente Rau é professor e João de Lucca, vereador por Santo Amaro.
Dr. Junqueira e Dr Manoel, primos, são os médicos de família para os afortunados que podem pagar consultas.

Dr Hirata, o dentista das massas, morreu há pouco, num acidente de trânsito, mas ainda morava na Rua Barão do Triunfo.

Julio Simões é o dono do cartório, situado ao lado da papelaria e bazar do Marcos Valente, que também é dono do ônibus escolar que transporta os alunos dos colégios Beatíssima e Meninópolis.


Rua Joaquim Nabuco 1960

Na Joaquim Nabuco, a Casa Facci, única loja de discos e instrumentos musicais por aqui. A loja ainda está lá, sempre reproduzindo música de qualidade, mas será que ainda é da família Facci? 

O sr. Ricardi, dono da loja de chapéus Ramenzoni, (será que alguém ainda usa chapéu?) é o melhor amigo do sr Emílio Toscani, um príncipe italiano, responsável pelo cerimonial durante os ofícios religiosos na Igreja do S C de Jesus. Seu Emílio e a esposa dona Maria, participaram das duas grandes guerras, como membros da resistência italiana.

Artistas, empresários, comerciantes, profissionais liberais, políticos, nomes de ruas, famosos ou esquecidos, compuseram com tantos outros anônimos o elenco do grande espetáculo da formação e consolidação do Brooklin como importante bairro desta nossa metrópole.


Esquina da Av. Morumbi com Av. Santo Amaro - 1960

domingo, 20 de outubro de 2013

Morre o professor Luiz Contier

Todo mês recebo o Jornal do Professor, informativo do CPP - Centro do Professorado Paulista e na última edição, olhei, não sei porquê, a seção de necrologia e lá estava, no dia 29/09, a nota de falecimento do Professor Luiz Contier, diretor por muitos anos do IE Prof Alberto Conte, onde estudei de 1959 a 1964. Uma das instituições de ensino mais conceituadas da cidade à época.

Rigoroso e competente, aquele professor dirigida com braço de ferro nossa escola e nada lhe escapava ao olhar atento.   

Meninos e meninas não podiam comunicar-se nas áreas comuns da escola. Com o tempo, até uma cerca de alambrado foi construída para separar o recreio masculino do feminino. Na hora da entrada, eles eram os primeiros e suas classes ficavam no andar superior.

O uniforme, feito com tecido de sarja cáqui, comprado na Casa Paiva, na rua São Bento, compunha-se de terno, camisa branca e gravata verde oliva, para os rapazes e de saia pregueada até abaixo dos joelhos, blusa de fustão e meia até os joelhos, para as meninas. Os sapatos, de modelo único – colegial – era um mocassin marron adquirido nas Casas Eduardo de Calçados, também na rua São Bento.

Para as meninas, desde o ginásio até o magistério, científico ou clássico, era terminantemente proibido o uso de maquiagem, bijuterias ou adornos espalhafatosos nos cabelos (o coque com recheio de Bom-Bril passava, pois este não aparecia).

Todos passavam por uma rigorosa revista no momento da entrega das cadernetas de freqüência. Era comum ao soar a sirene de entrada, ver-se meninas saindo dos banheiros, enxugando o rosto, levantando os meiões brancos ou desenrolando o cós da saia para encompridá-las.



Lembro-me de uma vez, quando ao subir para a classe, deparei-me com o professor Luiz Contier prostrado à porta do banheiro feminino, impaciente com as mãos na cintura. Curiosa, entrei para ver o que estava acontecendo. Lá dentro, uma colega de classe, do terceiro ano do magistério, lavava apressadamente o rosto e retirava os grandes brincos.

Fui para a sala e logo em seguida ela chega conduzida pelo diretor que lhe aplicava uma reprimenda. Irada, mas triunfante, olha para mim antes de sentar-se e cochicha: “a pintura dos cabelos ele não pode me obrigar a tirar!” (os cabelos dela estavam na cor lilás)

Lendo seu necrológio na Folha de São Paulo, bateu-me a curiosidade e, depois de quase meio século fui informar-me sobre essa pessoa que teve fundamental importância na minha formação. Vejamos:




quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Por onde andará a Rosa Gentile?

“Música é a expressão da alma, o reflexo dos sentidos, a manifestação pura das emoções. A música é um espelho do que sentimos...” 



Domingo passado assistia na TV, à Missa do Santuário do Pai Eterno e, em dado momento, cantaram uma música que gosto bastante, mas não lembrava toda a letra. Peguei meu livro de cantos e depois de por em dia a memória, fiquei ali, folheando aquelas páginas e associando as músicas com pessoas, fatos, locais por onde passei.

Vi minha sogra, com a fita do Apostolado da Oração, na missa do Padre João, lá em Americana, cantando: “Eu quisera, Jesus adorado, teu sacrário de amor rodear de almas puras, florinhas mimosas...”.

Na paróquia de Nossa Senhora Aparecida e São Roque, em Braz Cubas, Mogi das Cruzes, os jovens, um bom grupo de jovens, com seus violões cantavam empolgados: “Vem eu mostrarei o que ainda estás a procurar, a verdade é com sol e invadirá...”.

Meus filhos, coroinhas, lindos em suas túnicas vermelhas e batas brancas, acompanhava m a assembleia, animada pela Conceição e seu acordeão: ”É impossível não crer em ti, é impossível não te encontrar, é impossível não fazer de ti meu ideal.”.

Quando me casei, em 1965, ao meio dia, enquanto almoçávamos, ouvíamos a Rádio 9 de Julho, fechada, logo depois, pela ditadura militar e que está novamente no ar. O programa começava com um forte coral de homens entoando: “Vitória, tu reinarás, ó Cruz tu nos salvarás”.

Década de 70, auge das comunidades eclesiais de base e lá estávamos nós nas celebrações das periferias de Mogi das Cruzes. A opção pelos pobres e a conscientização de que sem pão é difícil ter fé, levava-nos a cantar nas reuniões dos grupos: “Para mim, a chuva no telhado é cantiga de ninar, mas ao pobre meu irmão, para ele a chuva fria...”.

Ainda nessa época todo casal católico engajado devia participar de um dos retiros do Cursilho da Cristandade. Fui também, contra a minha vontade. Estava grávida, passava mal e realmente não me sentia chamada naquele momento. Jamais esqueci o “Vou colher milhões de rosas brancas, para te entregar...” com a melodia de Bridge over troubled water, de Simon e Garfunkel, além do alegre hino oficial dos cursilhos:” De colores, de colores se vistem lós campos en la primavera...”.

De repente, cheguei a uma página que me surpreendeu. Nunca mais ouvi cantar aquela música. “Silêncio, silêncio, olhai o sacrário. A porta se abre já sai o Senhor...”. A Rosa Gentile – Rosinha – italiana, clara, olhos azuis, linda! Cantava-a muito bem. 

Nascida na Etiópia logo depois da 2ª guerra veio com a família para o Brasil e foi minha colega de classe desde a 6ª série até o final do Curso Normal.Era soprano e a queridinha da professora de música, dona Clarice Canabrava.

Em todos aqueles anos que estudamos juntas no IE Prof. Alberto Conte, na missa da Comunhão Pascal do colégio, celebrada na catedral de Santo Amaro, na hora do ofertório, acompanhada apenas pelo órgão, ela se adiantava ao coral e entoava aquela melodia. Era o momento mais esperado da celebração e não havia naquela igreja quem não se emocionasse com sua maviosa voz. 

Por onde andará nossa querida Rosa Gentile?

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Dia do Professor


Dia do Professor. Sim Professor, com P maiúsculo. 

Bons tempos esses em que o magistério era carreira respeitada e a figura do docente sinônimo de autoridade. Autoridade mesmo, emanada da competência no exercício de uma função, que muito mais que profissão, era vocação.

Lembro-me das minhas professoras do curso primário: dona Leonor, dona Adolphina, dona Stella e dona Aurora, cada uma com seu estilo, mas todas bem trajadas, com sobriedade e dignidade; tranquilidade no falar e segurança no ensinar; educadoras dedicadas que me inspiraram a querer imitá-las e lá fui eu fazer o curso do magistério.

Nunca me arrependi, nunca me decepcionei, jamais entendi a sala de aula como um local de trabalho como outro qualquer. Não. Ali era o palco onde a cada dia meus pequenos colegas de cena ensaiavam suas performances para o grande espetáculo da vida.

Os tempos mudaram, foram mudados os rumos da Educação. Sabíamos que não deveria ser assim, mas o que fazer? O resultado está aí, para quem quiser ver. 

Aposentada, lembro com carinho de cada ano do meu magistério. Não lembro dos alunos individualmente, difícil, foram mais de mil, mas a seu tempo, cada um deles foi especial, sem exceção.

Um dia desses, uma aluna me achou no facebook e deixou uma mensagem que hoje considero o presente do dia dos professores e que dedico às minhas colegas de toda uma vida.

"Oi professora Lídia, como vai?

Estou muito emocionada em encontrar a senhora por aqui. Fiz a segunda série com você no Cesar Martinez, em 1989/90. Lembro-me muito bem do nosso livro de pano e das redações em que eu tirei A parabéns. Está tudo guardado. Me tornei jornalista. Hoje sou responsável por uma revista de Filosofia.

Tenho amigos do Cesar, que estudaram comigo desde essa época, seus alunos também, e nos encontramos regulamente. Foi numa dessas buscas de fotos que te encontrei. Estou muito feliz! 

Espero que esteja muito bem. Que bom que tive a oportunidade de te encontrar para te agradecer. Hoje tenho a consciência de que meus professores foram heróis e você, com toda a certeza, teve importância especial na minha formação. Espero que tenha continuado a dar aulas, para que muitos outros possam ter tido a sorte que tive.

Um abraço carinhoso!"  Paula 

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1965 - 3ª Escola de Emergência - Bairro Rio Bonito - SP



1971 a 1980 - EEPG Antonio Olegário dos Santos Cardoso 
 Adachi - Mogi das Cruzes - SP




1981 a 1985 - EEPG Prof. Sylvia Mafra Machado
Mogi das Cruzes - SP


1987 a 1998 - EEPG Cesar Martinez - Moema - SP




Lecionei também
Curso de Alfabetização de Adultos - Brooklin - SP
 EEPG Mario de Andrade - SP - SP
Escola Mista da Praia Azul - Americana - SP
EEPG do Jardim São Paulo - Americana - SP
EEPG Prudente de Morais - SP - SP
Casa D. Macário - Fundação Lar de São Bento - SP - SP
Colégio Fleming - SP - SP

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A satisfação de fazer, por pouco que seja


Em 21/06/2006 publiquei no site vivasp.com, o texto “Árvores, saiam da frente para o progresso passar!”, motivado pela duplicação da Avenida Vereador José Diniz e suas implicações quanto às árvores ali existentes. Na ocasião recebi diversos comentários de apoio e protesto com relação ao corte das árvores. Além disso, o texto provocou uma seqüência de e-mails, que poderão ser lidos, por quem se interessar, no final desta página. 



Além de viabilizar o trânsito, o traçado sinuoso, ora buscando espaço à direita, ora à esquerda, para preservar da melhor forma possível a área, com ajardinamento central, grades de segurança para a travessia em pontos estratégicos e rebaixamento antiderrapante para facilitar a circulação de pessoas com necessidades especiais, deu nova vida à região e, o mais importante: os velhos eucaliptos da minha infância, no corredor atrás do Clube Banespa, foram respeitados e com sua presença valorizam a obra. 

Porque volto ao assunto? 

Há alguns dias, fazendo minha caminhada, passei pelo trecho mencionado. Estava uma linda manhã de sol e não me lembro por qual motivo, estava com a câmera. Com a satisfação de quem fez alguma coisa por aquelas árvores, fotografei-as. Agora posso ilustrar as lembranças que elas me trazem do tempo dos bondes, da minha infância e adolescência. 

Abaixo meu protesto e as mensagens que se seguiram. 

Árvores saiam da frente para o progresso passar! 

Os bondes que me levavam ao colégio, em Santo Amaro, passaram por aqui. Era o trecho entre as paradas Petrópolis e Alto da Boa Vista. Essas árvores, bem menores, ainda eram jovens, como eu. Agora, enquanto eu encontro-me mais velha e mais frágil, elas ao contrário, erguem-se exuberantes em direção ao infinito estendendo galhos à sua volta formando um aconchegante túnel natural. 

De acordo com a ordem natural das coisas, elas deveriam sobreviver à minha geração, para testemunhar às próximas, tudo o que viram do alto de sua ramagem e que registraram em seus troncos contaminados pela poluição, corroídos por cupins e esfolados por acidentes automobilísticos. Mas parece que isso não vai acontecer. Tenho ouvido dizer que serão todas ceifadas para dar lugar à duplicação da Avenida Vereador José Diniz, cujas obras estão vindo a partir da Rua da Fraternidade em direção ao centro e já se encontram no cruzamento com a Américo Brasiliense. 

Falta muito pouco para chegar a esse trecho, que corresponde aos fundos do E.C. Banespa. Será que nenhuma ONG vai levantar uma bandeira com o slogan: “Save the trees of Vereador José Diniz Avenue”? Em inglês, por que em português não dá IBOPE. 

1 - De: britto [mailto: britto@tremembe.com.br] Enviada em: quarta-feira, 28 de junho de 2006 08:25 Para: Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho Assunto: alameda verde na Vereador José Diniz Caro Secretário. Visite a página a seguir: http://www.vivasp.com/texto.asp?tid=4527&sid=10 É um depoimento lindíssimo, no ótimo site Vivasp, sobre a alameda verde da Av. Vereador José Diniz, que ameaça desaparecer. Aquela é simplesmente uma das paisagens mais bonitas de São Paulo, e mais marcantes para certamente milhares de pessoas: o corredor de eucaliptos atrás do clube Banespa. VÃO ACABAR COM A ALAMEDA? INADMISSÍVEL! Qual a sua opinião sobre isso? Abraço e boa sorte! Eduardo Britto 

 2 - Alô Lídia! Veja a resposta do secretário Eduardo Jorge à minha mensagem, sobre os eucalíptos da Vereador José Diniz. Espero que de fato seja uma operação que mantenha aquele ambiente único da avenida. Acho difícil isso acontecer, mas sinceramente torço por isso. Bem, vamos acompanhar. Eu raramente passo ali hoje em dia. Talvez num daqueles passeios que Elisa e eu fazemos de carro nos Sábados, possamos conferir. Aguardo notícias suas do que for acontecendo por lá. Se puder encaminhar a mensagem para alguns que se manifestaram no "comentários" do seu texto... Grande abraço. Britto. 

3 - From: "Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho" To: Cc: "Helio Neves" ; "Joanir Odorizzi" Sent: Tuesday, July 04, 2006 7:57 AM Subject: ENC: alameda verde na Vereador José Diniz Senhor Eduardo Britto, Veja abaixo, nota do Técnico do Depave Sr. Joanir. Foram discussões com a comunidade, Subprefeitura e Secretaria do Verde que possibilitou que a obra viária e de transportes fosse feita com um número muito menor de cortes e transplante em relação ao projeto original. Importante: as árvores da compensação ambiental serão plantadas na região da obra e já com bom porte, DAP 7cm, significa diâmetro a altura do peito 7 cm. São árvores com mais de 3 metros de altura. Atenciosamente Eduardo Jorge 

4 - De: Joanir Odorizzi Enviada em: segunda-feira, 3 de julho de 2006 14:11 Para: Helio Neves Cc: Celia Seri Kawai; Helena Emi Hiraishi; Francisco A. N. Silva; Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho Assunto: RES: alameda verde na Vereador José Diniz Hélio Neves O TCA 02/04inicialmente previa o corte de 204 exemplares e 81 transplantes. No aditivo, foi revisto o projeto e reduziu a intervenção na vegetação para corte de 53 exemplares e transplante de 26 exemplares. A compensação será realizada no próprio local e no entorno com o plantio de 328 mudas Dap 07cm. Joanir

domingo, 13 de outubro de 2013

Bisa Ana

Tenho por hábito dormir com o rádio ligado. Isso remonta ao ano de 1996,  fase difícil... Uma amiga sugeriu que ouvisse o programa do padre Marcelo, era muito tarde, começava a rezar e dormia. Hoje ouço emissoras jornalísticas e o efeito é o mesmo. 

Acordei com o apresentador pedindo que alguém do outro lado da linha informasse qual era a mulher com maior número de filhos naquela cidade. Viajei. Lembranças das conversas da minha mãe, sobre a minha bisavó Ana. Não a conheci, mas é como se assim não fosse. Sei tanto sobre ela, que me surpreendo. 

Casada por arranjo das famílias, aos 13 anos, com Francisco, um guapo mariachi, festeiro na Galicia, Espanha, veio para o Brasil com o marido e três filhos, por causa das reviravoltas políticas de lá. 

Teve catorze filhos, dos quais criou sete. Conta-se que brincava de casinha com a primeira, nascida-lhe aos catorze anos, sofria muito com a vida boemia do marido, que aqui continuou a tocar guitarra em festas. 

A família passou pela cidade de Itápolis, onde meu bisavô se estabeleceu, até com certo conforto. Depois de um período obscuro, com os filhos mais velhos casados e do qual os netos não sabiam quase nada, vieram para São Paulo, morar na Avenida Macuco, 16 - bairro de Moema, em situação de penúria.

Nesta cidade, a bisa passou a lavar roupa para fora pra ajudar no orçamento doméstico e, uma de suas principais freguesas, era uma família que morava na Rua do Ouro, Brooklin, numa propriedade conhecida por “Vila dos Pássaros”. 


                Foto extraída do folheto de propaganda do loteamento do bairro - 1947 

Em 1947 meu pai comprou um terreno na rua dos fundos da mansão e é onde vivemos até hoje. Antes do meu nascimento, numa cidade quase deserta, de carroças e bondes, minha bisavó andava pelos caminhos que eu percorro há muitos anos. 

Apegada à minha mãe, que morou com ela por algum tempo, preocupava-se quando esta engravidou e a visitava, quase todas as tardes quando voltava das entregas de roupas. Lá estava eu para nascer e já ganhava da bisa Ana, recuerdos, entre eles, uma planta, cujos descendentes sempre estiveram presentes na nossa casa, bem como a tijelinha, onde minha mãe tomou a primeira refeição na casa da abuela, nos idos de 1924. 


Mas hoje, ao acordar, a imagem que me veio da bisa Ana, da qual nunca vi uma foto, era a da mulher oprimida, engravidando inúmeras vezes, aceitando e criando com amor os filhos. Mulher que conheci por meio do carinho que minha mãe demonstrava ao referir-se a ela, a ponto de, depois de sua morte e próximo ao meu nascimento, ainda ouvir sob sua janela o arrastar de seus chinelos.