quarta-feira, 29 de julho de 2020

De como fui parar em Mogi das Cruzes

Houve um tempo em que morei na cidade de Mogi das Cruzes e 
desse tempo quero deixar aqui minhas lembranças


No final da década de 60 meu marido trabalhava no escritório da Elgin Máquinas, que ficava na Av. Barão de Limeira, na cidade de São Paulo.  Tínhamos uma filha, Maria Cristina, com 3 anos, eu estava grávida, trabalhava como professora substituta numa escola de emergência e havia prestado concurso para o magistério público do estado de SP.

1970. Em maio nasce meu filho José Claudio. Logo depois a Elgin transfere toda parte de escritório para Mogi das Cruzes e quase concomitantemente sai o resultado do concurso. Aprovada, deveria escolher classe como professora efetiva. Marido transferido para Mogi, devíamos nos mudar e a minha escolha seria uma escola daquela cidade.

Nessa época, entrei para a auto escola. Embora não tivéssemos carro, meu sonho era aprender a dirigir.

Num sábado, acho que era agosto, meu marido nos levou para conhecer Mogi. Fomos de trem, que convenhamos não era um bom cartão de visitas, com aqueles vidros quebrados e as portas que não fechavam direito.  O tempo estava quente e seco e ao chegarmos ventava muito levantando poeira e fazendo voar papéis que estavam espalhados. Estava muito desagradável para andar com duas crianças. Demos umas voltas próximo à estação e em uma praça e voltamos para São Paulo. A primeira impressão da nova cidade não foi boa. Mas o que não tem remédio, remediado está.

A data para a escolha de escola aproximava-se. Como escolher sem conhecer nada?  Meu marido falou com a sua secretária na Elgin e ela gentilmente fez uma relação de escolas por ordem “de bom ambiente de trabalho e boa direção”, de acordo com a orientação de uma parente sua que era professora. Nunca conheci nem uma, nem outra, mas sou eternamente grata pela ajuda.

No dia marcado lá vou eu com uma lista de cinco escolas. Estava bem classificada, mas limitada nas possibilidades de escolha. Mas, como o que é do homem o bicho não come, na minha vez, lá estava ela disponível, a primeira opção da minha lista: Grupo Escolar Rural Antônio Olegário dos Santos Cardoso. Bingo!  As coisas começavam a se encaixar.

Finalmente, em setembro de 1970, seguimos de mudança para Mogi das Cruzes. A casa ficava no bairro do Socorro, um sobrado muito confortável. Ali ficamos apenas três meses, pois logo compramos a casa do BNH na Vila Lavínia, para a qual mudamos em dezembro. “Aluguel só é bom para quem o recebe”, dizia meu avô e meu pai.


Nessa casa festejamos em 12 de outubro o 4º aniversário de nossa filha com a presença dos avós e tias; recebemos minha amiga Lúcia de São Paulo para que o noivo que havia passado no vestibular, tomasse banho e tirasse toda tinta jogada nele pelos veteranos. Veio também a minha prima Márcia que apareceu por conta do aniversário de nossa avó que estava conosco.

Nesses dias havia um parque de diversões em Mogi e aproveitamos para dar uma volta por lá. Fomos todos, inclusive a avó e a prima. Foi bem divertido, especialmente por que ganhei um elefante de pelúcia no tiro ao alvo de rolha. Sim, eu tinha boa pontaria. Azul, enorme, sentado o bicho era mais alto que minha filha.

No dia 13 de outubro fiz em São Paulo meu exame de motorista e conquistei a desejada CNH.

Em dezembro mudamos para a casa da Vila Lavínia. Ainda não conhecia a escola onde em fevereiro deveria começar a lecionar. Sabia que ficava na zona rural, que não havia condução regular para lá. Ou se ia de carro, carona com o caminhão do leite ou com o único ônibus da Eroles que saía de Mogi às 6h. 

Logo no começo de janeiro compramos um fusca 66, azul jeans e, por ocasião do aniversário de minha sogra, no dia 16, que sempre passava a data conosco, fizemos um passeio para conhecer a escola. Grupo Escolar Rural Antônio Olegário doas Santos Cardoso - Adachi.

Segui pela Av. Japão como me ensinaram, deixando a cidade para trás pelo caminho que ainda era de terra.  Encantavam-me aquelas imensas áreas de campos, com casinhas aqui e ali. Tudo muito deferente daquilo com que uma paulistana nata como eu estava acostumada.   Depois de certo ponto, a vegetação ficava mais densa e na altura do Oropó, atravessei a pequena ponte sobre o Rio Jundiaí, passei por algumas plantações de pessegueiros e logo estava diante da escola.

Um cenário nunca pensado por mim. Prédio rústico, telhado com madeiramento de eucalipto exposto, em meio a um enorme terreno todo aberto, com outra construção mais adiante, rodeado de plantações e só. Era o período de férias, estava todo fechado. Nem uma alma por ali. O mato crescia próximo ao muro da varanda que tomava toda a frente do prédio.

Desci do carro e fui em direção à escada de acesso ao prédio onde fui recepcionada por uma cascavel que ali tomava sol e, importunada com a minha presença, começou a descer os degraus. Como num passe de mágica estava eu dentro do carro, motor ligado, saindo daquele lugar.

O prédio principal era composto por 5 salas de aula, onde funcionavam classes do pré à 4ª série, apenas no período da manhã, sala dos professores e diretoria. Na lateral direita ficavam dois banheiros rústicos e a cozinha, esta com fogão à lenha e que dava para um galpão coberto.

No primeiro dia de aula encontrei tudo bem cuidado, limpo, mato roçado, nada de cobras. A recepção não poderia ter sido melhor. O diretor, professor Sylvio Takahashi, muito simpático, acolhia as professoras, as crianças e seus pais e apresentava a novata, eu, a todos.

Desse dia lembro da Rose, professora da 1ª série, Stella, do pré, José Fonseca, professor da 4ª série, dona Antônia, a servente, uma senhora gorda e simpática e da Benedita, a merendeira, das mãos de quem comi muitos quitutes naquela escola. Estavam lá outras professoras cujos nomes me fogem. Foi-me atribuída a classe da 2ª série.

Nesse dia encerrava-se o ciclo de minha chegada a Mogi e começava uma nova etapa na minha vida, agora com casa, emprego, carro, habilitação e amigos.









Um comentário:

Obrigada pela visita. E por favor, deixe seu nome para que possa agradecer individualmente.