Encantava-me o refrão:
“Maracaju, Ponta-Porã
Quero voltar oh meu Tupã
Rever os campos que eu conheci
E a seriema eu quero ouvir”, e lá ficava eu a imaginar um
lugar mágico.
Cantei muito a Seriema com meus alunos, mas sem encanto,
apenas curiosidade.
O tempo passou e, nas voltas da vida, minha filha vai morar
em Maracaju e o neto trabalhar em uma fazenda lá.
Finalmente conheci e Seriema numa situação inusitada.
Gritaria de aves como se estivessem sendo atacadas e mais gritaria ainda das
mulheres, mandando “correr lá”. Corri também.
Duas seriemas aos berros jogavam-se contra uma parede de
vidro que refletia suas imagens e, como me contaram as mulheres, assim ficariam
na luta contra si mesmas até a morte, se não as fossem acudir.
A seriema, Maracaju e os encantos da infância despertaram a
vontade de ver o que era Ponta Porã. E aqui confesso: esta é a parte que tenho
vergonha de contar.
Viajei decidida: vou conhecer Ponta Porã. Todos diziam que
não valia a pena. Mas eu não acreditava. Ela me acompanhava há mais de sessenta
anos! Como não ia valer a pena?
Convidei minha neta caçula que topa tudo. Seria uma viajem
de mais ou menos três horas de ônibus. Três pra ir, três pra voltar... Um dia
seria pouco pra conhecer Ponta Porã. Fiz uma reserva de um pernoite num hotel
naquela cidade e lá fomos nós – eu, de celular em punho para registrar as
belezas dos campos que o compositor conheceu.
Choveu a viagem toda. Chuva fina, fria, daquela que embaça o
vidro e não permite ver um palmo adiante do nariz. Sem campos, sem fotos.
No hotel me informo sobre os passeios que poderíamos fazer.
O gerente sem nenhuma animação nos informa sobre um parque com lagos... uma
reserva ambiental em Pero Juan Caballero – mas com essa chuva.... Ah! O
Shopping China, este também no lado Paraguaio.
Ponta Porã? Uma avenida larga com as bandeiras do Brasil e
do Paraguai, uma de cada lado.
Mas... como quem está na chuva é pra se molhar metafórica e
realmente, abrimos o guarda-chuva e fomos a campo. Shopping China, lanche,
comprinhas... Esfriava cada vez mais e o jeito foi voltar ao hotel, tomar sopa
e banho quente e dormir.
O dia seguinte amanheceu ensolarado e decidimos ir garimpar
quinquilharias nos galpões do camelódromo de Pero Juan Caballhero. Paraguai,
muambeiros, muita gente e esquentava...
O sol à pino parecia que se vingava do frio do dia anterior.
Calor, sede, cansaço, fome. Vamos embora. Última vista das duas bandeiras,
agora visíveis para foto. Passamos no hotel para pegar as malas, só pensando em
ter que encarar a todos com seu “eu não disse?”.
Pelo menos não faltou emoção. Na rodoviária, que se resume
em um espaço com uns vinte assentos, tivemos a chance de participar de um
“Brasil Urgente”, sem Datena, mas com os federais, armados até os dentes,
efetuando o “Teje preso” de uns elementos sentados atrás de nós.
Ponta Porã? Nunca mais!
E quem quiser cantar comigo, aí vai a letra:
Oh! seriema de Mato Grosso
Teu canto triste me faz lembrar
Daqueles tempos que eu viajava
Tenho saudade do teu cantar
Quero voltar oh meu Tupã
Rever os campos que eu conheci
E a seriema eu quero ouvir
Oh! seriema quando tu choras e vai-se embora
choro também
Maracaju, Ponta-Porã
Quero voltar oh meu Tupã
Rever os campos que eu conheci
E a seriema eu quero ouvir
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pela visita. E por favor, deixe seu nome para que possa agradecer individualmente.