sábado, 27 de novembro de 2021

Devaneios da infância

Seriema ou siriema - imagem do google

Com o despontar de Sérgio Reis no bate-boca da política – que além de ter perdido a grande chance de ficar de boca fechada  acaba de perder uma fã, me bateu a saudade dos tempos de criança, quando todos os dias, no final da tarde minha mãe ouvia no rádio músicas de raiz nas vozes de Augusto Calheiros, Inezita Barroso, Cascatinha e Inhana e outros...  Desse tempo, não sei porque, marcou-me a música Seriema, composição de Mario Zan, interpretada naqueles happy hours pela dupla Cascatinha e Inhana.

Encantava-me o refrão:

“Maracaju, Ponta-Porã

Quero voltar oh meu Tupã

Rever os campos que eu conheci

E a seriema eu quero ouvir”, e lá ficava eu a imaginar um lugar mágico.

Cantei muito a Seriema com meus alunos, mas sem encanto, apenas curiosidade.

O tempo passou e, nas voltas da vida, minha filha vai morar em Maracaju e o neto trabalhar em uma fazenda lá.

Finalmente conheci e Seriema numa situação inusitada. Gritaria de aves como se estivessem sendo atacadas e mais gritaria ainda das mulheres, mandando “correr lá”. Corri também.

Duas seriemas aos berros jogavam-se contra uma parede de vidro que refletia suas imagens e, como me contaram as mulheres, assim ficariam na luta contra si mesmas até a morte, se não as fossem acudir.

A seriema, Maracaju e os encantos da infância despertaram a vontade de ver o que era Ponta Porã. E aqui confesso: esta é a parte que tenho vergonha de contar.

Viajei decidida: vou conhecer Ponta Porã. Todos diziam que não valia a pena. Mas eu não acreditava. Ela me acompanhava há mais de sessenta anos! Como não ia valer a pena?

Convidei minha neta caçula que topa tudo. Seria uma viajem de mais ou menos três horas de ônibus. Três pra ir, três pra voltar... Um dia seria pouco pra conhecer Ponta Porã. Fiz uma reserva de um pernoite num hotel naquela cidade e lá fomos nós – eu, de celular em punho para registrar as belezas dos campos que o compositor conheceu.

Choveu a viagem toda. Chuva fina, fria, daquela que embaça o vidro e não permite ver um palmo adiante do nariz. Sem campos, sem fotos.

No hotel me informo sobre os passeios que poderíamos fazer. O gerente sem nenhuma animação nos informa sobre um parque com lagos... uma reserva ambiental em Pero Juan Caballero – mas com essa chuva.... Ah! O Shopping China, este também no lado Paraguaio.

Ponta Porã? Uma avenida larga com as bandeiras do Brasil e do Paraguai, uma de cada lado.

Mas... como quem está na chuva é pra se molhar metafórica e realmente, abrimos o guarda-chuva e fomos a campo. Shopping China, lanche, comprinhas... Esfriava cada vez mais e o jeito foi voltar ao hotel, tomar sopa e banho quente e dormir.

O dia seguinte amanheceu ensolarado e decidimos ir garimpar quinquilharias nos galpões do camelódromo de Pero Juan Caballhero. Paraguai, muambeiros, muita gente e esquentava...

O sol à pino parecia que se vingava do frio do dia anterior. Calor, sede, cansaço, fome. Vamos embora. Última vista das duas bandeiras, agora visíveis para foto. Passamos no hotel para pegar as malas, só pensando em ter que encarar a todos com seu “eu não disse?”.

Pelo menos não faltou emoção. Na rodoviária, que se resume em um espaço com uns vinte assentos, tivemos a chance de participar de um “Brasil Urgente”, sem Datena, mas com os federais, armados até os dentes, efetuando o “Teje preso” de uns elementos sentados atrás de nós.

Ponta Porã? Nunca mais!

E quem quiser cantar comigo, aí vai a letra: 

Oh! seriema de Mato Grosso

Teu canto triste me faz lembrar

Daqueles tempos que eu viajava

Tenho saudade do teu cantar

 Maracaju, Ponta-Porã

Quero voltar oh meu Tupã

Rever os campos que eu conheci

E a seriema eu quero ouvir

 Oh! seriema, quando tu cantas de Mato Grosso a saudade vem

Oh! seriema quando tu choras e vai-se embora

choro também

Maracaju, Ponta-Porã

Quero voltar oh meu Tupã

Rever os campos que eu conheci

E a seriema eu quero ouvir 

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