segunda-feira, 7 de março de 2011

Minha mãe

"Não tinha escola nem dinheiro", como na canção Utopia (Pe. Zezinho), uma de suas favoritas, mas cultura e boa formação não lhe faltavam. Tendo cursado apenas a primeira série do ensino primário, me alfabetizou e ensinou-me os primeiros números, por volta dos quatro anos.

Ouvia e gostava de música clássica. Caruso, Mario Lanza, Christina Maristany, Léa Vinocur Freitag, Villa Lobos, orquestras sinfônicas e filarmônicas famosas e seus maestros, ao som da Rádio Gazeta - "a emissora da elite" - fizeram parte de minha infância junto com as horas de prática de crochê, bordado e tricô que não podiam faltar no currículo de uma menina que já aos oito anos deveria começar a tecer as primeiras peças de seu enxoval.

E era ao som da Rádio Gazeta que minha mãe num passe de mágica transformava parcos e simples ingredientes em saborosas refeições. Nos aniversários de suas meninas, três, o bolo com recheio de morango, coberto com glacê de clara de ovos, côco e confeitos prateados era ansiosamente esperado por todos.

Seu único sonho era ver suas meninas formadas, afinal "o estudo é a coisa mais importante para o pobre". Queria que elas tivessem uma vida mais amena que a dela. Viveu para suas meninas e conseguiu realizar o sonho.

Neste começo de ano ela se foi e na solidão das arrumações de seus pertences, as marcas indeléveis de sua sensibilidade, carinho, habilidades, bom gosto. A coleção de moedas, trabalhos manuais, textos de Garcia Marques, nossas fotos do colégio com as medalhas de honra ao mérito do curso primário, cartões postais de viagens das suas meninas, lembranças de bons momentos, todos os presentinhos ganhos em incontáveis dias das mães.

Ela se foi na hora certa: depois de perder a memória e antes de perder a condição de vida digna. Sempre estará em nossa lembrança, nossos corações e em minhas orações como mãe exemplar e ser humano maravilhoso, cujas últimas palavras foram: "obrigada, Deus a abençõe!"




4 comentários:

  1. Como ela se chamava? Também perdi minha mãe recentemente, e é uma felicidade podermos usar palavras positivas para descrevê-las. Quem sabe dona Maria José fica amiga de sua mãe lá no céu. Abraço. Britto

    ResponderExcluir
  2. Lidia, não sabia que sua mãe havia falecido. Como ela era linda! Chorei...

    Camilo Roberto - Rio Preto

    ResponderExcluir
  3. E assim como a mãe, a filha aprendeu a criar outra super mãe. E que nesta família de "supermães", sejam criados "superpais" para o meu bem.
    Lindo texto pra variar um pouco né?

    Beijos,
    Artur

    ResponderExcluir
  4. Obrigada Britto, obrigada Camilo. A vocês meu abraço de amiga. Artur, meu neto! Obrigada pelo carinho. Beijos 1000! Vó coruja.

    ResponderExcluir

Obrigada pela visita. E por favor, deixe seu nome para que possa agradecer individualmente.