Todos os anos, ao se aproximar o mês de setembro e o início de mais uma primavera, invariavelmente lembro-me de Michel, meu aluno da primeira série, em 1991, na Escola Estadual César Martinez, em Moema - SP.
Oito anos, mulato, magrinho, pequeno demais para a idade, esperto e agitado, lutava para alcançar seus objetivos, apesar das limitações que a vida lhe impunha. Morava em uma das muitas favelas da cidade. A mãe abandonou o lar e ele morava com o pai e uma irmã adolescente, que era quem comparecia às reuniões de pais e mestres, para saber se o Michel “aprontara alguma”. Não entendia que a reunião não era sinônimo de reclamação, mas diálogo construtivo entre família e escola.
Michel foi o único aluno meu nessa escola que um dia apareceu descalço para a aula. Senti-me ínfima naquele dia, vendo aqueles pezinhos cascudos de tanto andar descalço. Levei-o a uma loja e comprei-lhe um tênis. Acho que nunca em minha vida fiz alguém tão feliz como Michel naquele dia.
Naquele ano desenvolvemos um projeto integrando as diferentes disciplinas, que se compunha de um passeio de Maria Fumaça, uma visita ao MAC, ainda no Ibirapuera e uma atividade musical também no museu. Participavam todas as crianças do então, ciclo básico – umas 200 mais ou menos.
Naquele ano desenvolvemos um projeto integrando as diferentes disciplinas, que se compunha de um passeio de Maria Fumaça, uma visita ao MAC, ainda no Ibirapuera e uma atividade musical também no museu. Participavam todas as crianças do então, ciclo básico – umas 200 mais ou menos.
Fizemos o passeio de Maria Fumaça de Campinas à Jaguariúna, onde focamos os aspectos históricos e geográficos presentes na situação. Passo seguinte, uma visita ao MAC, onde entre outros, estava exposto o quadro “Estação de Estrada de ferro” de Tarsila do Amaral, que deveria ser descoberto pelas crianças e relacionado ao passeio. Diversas crianças logo estabeleceram a relação.
Passo seguinte, no atelier do museu sob a orientação de monitores, alunos da USP, as crianças criaram obras relacionadas ao tema. Uma delícia de oficina!
Passo seguinte, no atelier do museu sob a orientação de monitores, alunos da USP, as crianças criaram obras relacionadas ao tema. Uma delícia de oficina!
Todos cansados foram convidados a descansar em um palco na penumbra, deitados no chão e ouvindo: “Trenzinho Caipira” de Villa Lobos. Essa atividade era realizada com grupos de 40 crianças de cada vez. No final, a monitora pergunta o que eles haviam lembrado enquanto ouviam aquela música. Silêncio. De repente Michel se levanta e fala:
- Parecia a Maria Fumaça do passeio!
Ainda nesse mesmo ano, e aí entra a primavera, a escola realizaria a Festa da Primavera, com diversas atividades. Decidi montar um teatrinho com minha classe. Escolhi a história da “Coleção Disney”, A formiguinha e a neve. Escolhi por que é simples, trata no final da primavera e tem uma seqüência de falas fácil de decorar, pois a última palavra de cada frase chama o personagem seguinte. Além disso, dava bem para trabalhar a alfabetização, pois eram palavras simples: formiga, gato, rato, cão, sol, muro, homem, etc. Não pensei mais nada.
Michel quis ser a formiguinha. Ele já era uma formiguinha, só faltavam as antenas, que fiz de espiral de caderno com enormes bolas de isopor nas pontas. Fantasias prontas, cenário, etc., tudo confeccionado nas aulas, com as crianças, lá vamos nós ensaiando.
- Parecia a Maria Fumaça do passeio!
Ainda nesse mesmo ano, e aí entra a primavera, a escola realizaria a Festa da Primavera, com diversas atividades. Decidi montar um teatrinho com minha classe. Escolhi a história da “Coleção Disney”, A formiguinha e a neve. Escolhi por que é simples, trata no final da primavera e tem uma seqüência de falas fácil de decorar, pois a última palavra de cada frase chama o personagem seguinte. Além disso, dava bem para trabalhar a alfabetização, pois eram palavras simples: formiga, gato, rato, cão, sol, muro, homem, etc. Não pensei mais nada.
Michel quis ser a formiguinha. Ele já era uma formiguinha, só faltavam as antenas, que fiz de espiral de caderno com enormes bolas de isopor nas pontas. Fantasias prontas, cenário, etc., tudo confeccionado nas aulas, com as crianças, lá vamos nós ensaiando.
Não sei se conhecem a história, mas a formiga indo para o trabalho num dia de inverno fica com o pé preso por um floco de neve (olha o disparate, num país tropical, mas eu não pensei nisso, pensei com o coração, pois a história é um encanto e no final a primavera, enviada por Deus, salva a formiga) e vai morrer se alguém não soltá-la. Claro que se era inverno e tinha neve, a formiga estava agasalhada.
Pois bem, num belo dia de calor insuportável, depois de repassarmos o texto umas três vezes, me vira o Michel, todo suado e representando que está morrendo de frio, e pergunta:
Pois bem, num belo dia de calor insuportável, depois de repassarmos o texto umas três vezes, me vira o Michel, todo suado e representando que está morrendo de frio, e pergunta:
- Professora, por que a senhora não fez este teatro quando estava frio de verdade? Eu não agüento mais esse calor!
Reconheci que ele estava com toda a razão, mas concordamos que deveríamos continuar e no dia 23 de setembro apresentamos sob um sol escaldante “A formiguinha e a neve”. Fomos muito aplaudidos e tenho certeza que Michel nunca irá se esquecer daquela primavera.
Flores do quintal fotografadas hoje. Na ordem: Capuchinha ou Chagas (Tropaeolum Majus); Rosa; Flor do Jambeiro.
Reconheci que ele estava com toda a razão, mas concordamos que deveríamos continuar e no dia 23 de setembro apresentamos sob um sol escaldante “A formiguinha e a neve”. Fomos muito aplaudidos e tenho certeza que Michel nunca irá se esquecer daquela primavera.
Flores do quintal fotografadas hoje. Na ordem: Capuchinha ou Chagas (Tropaeolum Majus); Rosa; Flor do Jambeiro.
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