Nasci nesta cidade, quando ainda era da garoa, ruas de terra em Moema, sorveteria da esquina, depósito de bananas, caderneta pra comprar fiado na vendinha, consultas com o farmacêutico, chácara de verduras na Avenida Macuco, com criação de cabras, com direito a comer cocô de cabrita pensando que era azeitona (uma única vez – Arghhh!!).
Encarrapitada sobre o muro, onde um avô que não era avô me colocava, só para rir sacudindo a pança a me ver aos 3 anos, chamar o chacareiro vizinho, com o mais autêntico sotaque lusitano: “Óóó seu José? Bum diiia!”. E ouvir, lá de longe, o bom português responder, todo a sorrire: “Bum diiia, rica menina!”
Depois, Brooklin, Vila Carmen, panelinhas de barro, caça à rã em noite de luar, pesca de lambari no Córrego do Cordeiro, com a peneira do avô, esse verdadeiro.
Uma infância simples, feliz, onde cada dia terminava com gostinho de quero mais, ao mesmo tempo em que se esvaía e ficava para trás, como o romantismo da cidade-província.
Depois, Brooklin, Vila Carmen, panelinhas de barro, caça à rã em noite de luar, pesca de lambari no Córrego do Cordeiro, com a peneira do avô, esse verdadeiro.
Uma infância simples, feliz, onde cada dia terminava com gostinho de quero mais, ao mesmo tempo em que se esvaía e ficava para trás, como o romantismo da cidade-província.
“Crescer é preciso, sofrer não é preciso”. Assim, esta cidade que tanto me deu, foi também quem muito me tirou. Talvez por ciúme, por tê-la abandonado durante 15 longos anos. Mas o que são 15 anos para quem já era quatrocentona?
Quinze anos, nos quais cometi o pecado de ter dois filhos nascidos em outra cidade. Dois paulistanos, dois mogianos. Bem equilibrado. Tão equilibrado quanto o que ela me tirou: um paulistano e um mogiano.
Os que ficaram não moram mais aqui. Escolheram lugares mais humanos para criar os filhos. Lugares onde ainda se pode brincar na praça, andar de bicicleta no parque, com cuidados, mas não traumas. Entendi que fizeram bem suas escolhas e curto os lugares onde moram.
Os que me foram tirados, o foram com toda a violência que o momento que vivemos é capaz, como vemos todos os dias na imprensa sensacionalista.
O paulistano, 18 anos, se foi num típico dia de garoa intensa, próximo a um marco da cidade: o Estádio Cícero Pompeu de Toledo - o Morumbi, do não menos paulistano SP Futebol Clube. Um acidente!
O outro, o mogiano, 21 anos, que pelas minhas contas deveria nascer no dia do aniversário de SP, veio ao mundo em 20 de janeiro, na grande cidade, trilhou caminhos jamais imaginados por mim e foi executado num dia 15 de agosto, o dia em que mais odiei esta cidade.
Lidia querida seu texto é de tirar o fõlego
ResponderExcluirimpossível imaginar o que pode acontecer na alma e coração de uma mãe que perde seus filhos
abraço grande
Por isso Marcia, de vez em quando é preciso compartilhar, por pra fora, é como se aliviasse um pouco a carga. Tem mais....
ResponderExcluir...com certeza, minha amiga é preciso por para fora
ResponderExcluirQuerida tia Lidia,
ResponderExcluirChorei e não tenho o que te dizer, a não ser que te amo e admiro muito.
Grande abraço!
Cidinha Rodrigues
Cidinha, obrigada!!! Cada um tem sua cruz e deve carrégá-la, não arrastá-la. É o que tento fazer. E escrevo. Gosto de escrever memórias, sejam elas boas ou ruins, me faz bem, me ajuda. Com blog encontrei um meio a mais de deixá-las registradas. Te amo também e tenho muita saudades do tempo em que passávamos uns dias das férias na casa de vocês. Tenho não sei unde, umas fotos de um passeio ao museu de Americana, vou achar e escrever sobre aquele tempo. Grande abraço!!!!
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