Na década de 70 lecionava na EEPG Antônio Olegário dos
Santos Cardoso, na zona rural de Mogi das Cruzes – SP. Uma escola construída
pela comunidade nipônica do Bairro da Porteira Preta, mais conhecido como Adachi. Eram 5 salas de aula, ensino fundamental I,
conforme a denominação atual, com cerca de 35 alunos por sala.
As notícias do surto de meningite que grassava em São Paulo
colocavam a comunidade em alerta e aumentava a responsabilidade da escola,
único elo de ligação com as famílias ali na roça. Como agora, com o COVID-19, as orientações
eram sobre os hábitos de higiene e cuidado nos contatos pessoais.
Mas havia
algo mais naquela situação: era recomendado a todos que após as aulas, ao
chegar em casa fizessem gargarejo com água e sal. Também, foi recomendado pelas
autoridades sanitárias da cidade que todos portassem uma pedra de cânfora, o que fazíamos colocando-a numa espécie de
bolsinha de pano pendurada ao pescoço com um cordão.
Certo dia um aluno da minha classe – 2ª série - pôs-se a
chorar. Reclamava de fortes dores de cabeça e náuseas. Queimava em febre e
estava cambaleante. Retirei-o da sala, comuniquei
ao diretor da escola, que me autorizou a levar a criança imediatamente à Santa
Casa, enquanto a família seria avisada, no distante sítio em que morava.
Na Santa Casa fomos imediatamente isolados e atendidos. Exames
de praxe e o temido exame de liquor das meninges, que tive que acompanhar, como
responsável pela criança no momento. O menino estava tão mal que nem gemeu. Os
pais chegaram e fui para casa assustada. Três filhos, marido e empregada me
aguardavam e não tinha como avisá-los para ficarem longe de mim quando chegasse.
O que fazer?
Do portão, chamei a empregada e de longe pedi que levasse as
crianças para o quintal e ficassem bem longe de mim. Segui direto para o banho, afundei as
roupas num balde com água e Lysoform (todos tinham em casa naquela época). Fiz
o gargarejo com salmoura e rezei muito.
No dia seguinte, o pai do menino foi à escola para comunicar
que o exame dera positivo para meningite e que ele estava internado no Hospital
Emilio Ribas em São Paulo. Felizmente se
recuperou sem sequelas e foi nosso único caso.
Quando a vacina chegou, todos na escola foram vacinados e
foi a primeira vez que vimos uma vacinação feita com pistolas.
Ainda tenho meu porta cânfora e acho que, por via das
dúvidas, vou ativá-lo.
Eu tenho até hoje as marcas no braço, da vacina contra meningite, as pistolinhas deixaram suas marcas.
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