domingo, 15 de março de 2020

O surto de meningite em São Paulo



Na década de 70 lecionava na EEPG Antônio Olegário dos Santos Cardoso, na zona rural de Mogi das Cruzes – SP. Uma escola construída pela comunidade nipônica do Bairro da Porteira Preta, mais conhecido como Adachi.  Eram 5 salas de aula, ensino fundamental I, conforme a denominação atual, com cerca de 35 alunos por sala.

As notícias do surto de meningite que grassava em São Paulo colocavam a comunidade em alerta e aumentava a responsabilidade da escola, único elo de ligação com as famílias ali na roça.  Como agora, com o COVID-19, as orientações eram sobre os hábitos de higiene e cuidado nos contatos pessoais. 

Mas havia algo mais naquela situação: era recomendado a todos que após as aulas, ao chegar em casa fizessem gargarejo com água e sal. Também, foi recomendado pelas autoridades sanitárias da cidade que todos portassem uma pedra de cânfora,  o que fazíamos colocando-a numa espécie de bolsinha de pano pendurada ao pescoço com um cordão.

Certo dia um aluno da minha classe – 2ª série - pôs-se a chorar. Reclamava de fortes dores de cabeça e náuseas. Queimava em febre e estava cambaleante.  Retirei-o da sala, comuniquei ao diretor da escola, que me autorizou a levar a criança imediatamente à Santa Casa, enquanto a família seria avisada, no distante sítio em que morava.

Na Santa Casa fomos imediatamente isolados e atendidos. Exames de praxe e o temido exame de liquor das meninges, que tive que acompanhar, como responsável pela criança no momento. O menino estava tão mal que nem gemeu. Os pais chegaram e fui para casa assustada. Três filhos, marido e empregada me aguardavam e não tinha como avisá-los para ficarem longe de mim quando chegasse. O que fazer?

Do portão, chamei a empregada e de longe pedi que levasse as crianças para o  quintal e ficassem bem longe de mim. Segui direto para o banho, afundei as roupas num balde com água e Lysoform (todos tinham em casa naquela época). Fiz o gargarejo com salmoura e rezei muito.

No dia seguinte, o pai do menino foi à escola para comunicar que o exame dera positivo para meningite e que ele estava internado no Hospital Emilio Ribas em São Paulo.  Felizmente se recuperou sem sequelas e foi nosso único caso.

Quando a vacina chegou, todos na escola foram vacinados e foi a primeira vez que vimos uma vacinação feita com pistolas. 

Ainda tenho meu porta cânfora e acho que, por via das dúvidas, vou ativá-lo.

Um comentário:

  1. Eu tenho até hoje as marcas no braço, da vacina contra meningite, as pistolinhas deixaram suas marcas.

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