Andei ausente do blog, nada postei em 2019. Muitos afazeres e passeios para lamber as crias. Bom. Muito bom. Hoje deu vontade de passar por aqui. Então, ainda sob o impacto das tragédias ocasionadas pelas chuvas de fevereiro, me veio a lembrança de que por aqui, também nós fomos vítimas de enchentes, sem tragédias pessoais, graças a Deus.
Novembro, 1961.O dia não lembro. Estudava no IE Prof Alberto Conte e fomos em excursão ao Museu do
Ipiranga. Um dia especial.
Na volta do colégio para casa, o
bonde Santo Amaro – Praça João Mendes parou inexplicavelmente na altura da
bifurcação Adolfo Pinheiro com Vereador José Diniz (acho que não tinha esse
nome, pois o José Diniz, Zé da Farmácia, era vivo, mas essa é outra história).
A tarde estava quente e
ensolarada. Sem energia elétrica, o jeito era caminhar acompanhando os trilhos. Ao chegar na Parada Petrópolis,
observei um pouco adiante, uma movimentação inusitada. Olhando barranco abaixo,
não vi a vegetação das várzeas do Córrego do Cordeiro. Tudo estava alagado. Não
chovia e o sol brilhava intensamente, fazendo exalar daquela água, um odor
desagradável.
Corri. Quando cheguei, já o
quintal, o galinheiro e a horta estavam submersos. Meu pai, num corre, corre,
salvava as galinhas e as lebres.
Troquei-me e ao descer a escada
deparei-me com aquela água barrenta e fétida no quarto degrau e ali à frente,
cobrinhas d’água e ratos nadavam entre os dejetos, na sala de jantar, num
“salve-se quem puder!” Medo. Nojo. Desespero.Era mister
ajudar no rescaldo de nossos pertences.
O Córrego do Cordeiro, afluente do Pinheiros, tinha sua
nascente na região de Diadema, onde uma tromba d’água arrasara tudo. Sem solo
poroso para absorção e com acúmulo de lixo sob a ponte da linha do bonde, a
água escoou pelo leito do córrego, invadindo as várzeas. Não se parecia em nada
com o córrego, onde há poucos anos eu brincava e pescava lambaris. A enchente se
fez, sob o sol daquela tarde. Atingiu, dentro de casa, aproximadamente um
metro e meio.
Em 1966, outra, muito maior,
aconteceu numa manhã de domingo, no mês de março. Chovia desde a tarde de
sábado, uma chuva contínua e pesada. O nível do Pinheiros subiu e a água não
escoou, subindo assustadoramente.
Eu morava então na Rua da Prata,
no piso superior de um predinho de dois andares. Grávida, ilhada no minúsculo
apartamento em companhia das vizinhas que para lá acorreram com os filhos,
tentava amenizar a situação servindo cafezinhos.
A água atingiu dois metros de
altura deixando as casas térreas submersas até o topo das janelas. Apenas dois
degraus nos separavam da água.
Os homens nadando, iam de casa em
casa verificando se havia alguém preso, enquanto o socorro dos bombeiros não
chegava. Cenas comuns na mídia, hoje em dia. Heróis anônimos, que talvez por
força da graça obtida por suas ações, não adoeceram em decorrência delas.
Outras enchentes assolaram a Vila
Carmen durante anos, fazendo com que muitas famílias mudassem dali, deixando os
amigos e o bairro onde criaram seus filhos. O Ângelo Antonio foi embora bem
como o Antonio Marcos e a Vanusa.
Passando pelas ruas da Prata, do
Rubi e de outros metais preciosos, encontramos casas com comportas nos portões,
pois ainda hoje, apesar da canalização do Córrego do Cordeiro ocorrem
enchentes, que embora com menor intensidade, prejudicam o trânsito e o comércio
na região do Shopping Morumbi, Roque Petroni e Vicente Rao e deixam os
moradores de toda aquela área em sobressalto toda vez que o céu escurece ou se
ouve notícias de chuvas fortes em Diadema, Jabaquara e região.
Residência na Rua Meson - travessa da Prof. Vicente Rao
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