sábado, 14 de março de 2020

As chuvas, sempre as chuvas....


Andei ausente do blog,  nada postei em 2019. Muitos afazeres e passeios para lamber as crias. Bom. Muito bom. Hoje deu vontade de passar por aqui. Então, ainda sob o impacto das tragédias ocasionadas pelas chuvas de fevereiro, me veio a lembrança de que por aqui, também nós fomos vítimas de enchentes, sem tragédias pessoais, graças a Deus.

Novembro, 1961.O dia não lembro. Estudava no IE Prof Alberto Conte e fomos em excursão ao Museu do Ipiranga. Um dia especial.

Na volta do colégio para casa, o bonde Santo Amaro – Praça João Mendes parou inexplicavelmente na altura da bifurcação Adolfo Pinheiro com Vereador José Diniz (acho que não tinha esse nome, pois o José Diniz, Zé da Farmácia, era vivo, mas essa é outra história).

A tarde estava quente e ensolarada. Sem energia elétrica, o jeito era caminhar acompanhando os trilhos. Ao chegar na Parada Petrópolis, observei um pouco adiante, uma movimentação inusitada. Olhando barranco abaixo, não vi a vegetação das várzeas do Córrego do Cordeiro. Tudo estava alagado. Não chovia e o sol brilhava intensamente, fazendo exalar daquela água, um odor desagradável.

Corri. Quando cheguei, já o quintal, o galinheiro e a horta estavam submersos. Meu pai, num corre, corre, salvava as galinhas e as lebres.

Troquei-me e ao descer a escada deparei-me com aquela água barrenta e fétida no quarto degrau e ali à frente, cobrinhas d’água e ratos nadavam entre os dejetos, na sala de jantar, num “salve-se quem puder!” Medo. Nojo. Desespero.Era mister ajudar no rescaldo de nossos pertences.

O Córrego do Cordeiro, afluente do Pinheiros, tinha sua nascente na região de Diadema, onde uma tromba d’água arrasara tudo. Sem solo poroso para absorção e com acúmulo de lixo sob a ponte da linha do bonde, a água escoou pelo leito do córrego, invadindo as várzeas. Não se parecia em nada com o córrego, onde há poucos anos eu brincava e pescava lambaris. A enchente se fez, sob o sol daquela tarde. Atingiu, dentro de casa, aproximadamente um metro e meio.

Em 1966, outra, muito maior, aconteceu numa manhã de domingo, no mês de março. Chovia desde a tarde de sábado, uma chuva contínua e pesada. O nível do Pinheiros subiu e a água não escoou, subindo assustadoramente.

Eu morava então na Rua da Prata, no piso superior de um predinho de dois andares. Grávida, ilhada no minúsculo apartamento em companhia das vizinhas que para lá acorreram com os filhos, tentava amenizar a situação servindo cafezinhos.

A água atingiu dois metros de altura deixando as casas térreas submersas até o topo das janelas. Apenas dois degraus nos separavam da água.

Os homens nadando, iam de casa em casa verificando se havia alguém preso, enquanto o socorro dos bombeiros não chegava. Cenas comuns na mídia, hoje em dia. Heróis anônimos, que talvez por força da graça obtida por suas ações, não adoeceram em decorrência delas.

Outras enchentes assolaram a Vila Carmen durante anos, fazendo com que muitas famílias mudassem dali, deixando os amigos e o bairro onde criaram seus filhos. O Ângelo Antonio foi embora bem como o Antonio Marcos e a Vanusa.

Passando pelas ruas da Prata, do Rubi e de outros metais preciosos, encontramos casas com comportas nos portões, pois ainda hoje, apesar da canalização do Córrego do Cordeiro ocorrem enchentes, que embora com menor intensidade, prejudicam o trânsito e o comércio na região do Shopping Morumbi, Roque Petroni e Vicente Rao e deixam os moradores de toda aquela área em sobressalto toda vez que o céu escurece ou se ouve notícias de chuvas fortes em Diadema, Jabaquara e região.


Residência na Rua Meson - travessa da Prof. Vicente Rao




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