Outro dia falei na dona Meireles, quando escrevi sobre a TV Tupy. Sua casa vizinhava com a nossa, separada apenas por uma cerca de arame farpado. Eram nossos únicos vizinhos proximos. Dona Meireles, o marido e seis filhos, as únicas pessoas com quem convivi diariamente, além da minha própria família, dos quatro aos oito anos, quando entrei para o grupo escolar.
Vila Carmem 1948
Esta parte da Vila Carmen era um grande descampado onde brincávamos e brigávamos livres, leves e soltos. A diferença de idade era grande entre os filhos mais velhos de dona Meireles e nós, assim, tínhamos nas moças uma epécie de tias, como se diria hoje. A Quita, a mais velha, aprendeu corte e costura e fazia de mim sua cobaia nos primeiros modelitos, o que era muito bom. Mais tarde, por ocasião do meu Crisma, pediu à minha mãe para ser minha madrinha. Foi uma grande alegria. Ainda hoje, quando possível nos visitamos.
Lembrança do meu Crisma – 24 de junho de 1956
Quando chegava a Semana Santa, toda a família de dona Meireles – filha de portugueses muito católicos – participava da procissão do Senhor Morto na Sexta Feira Santa e, sempre me convidavam para acompanhá-los.
Não era acostumada a sair de casa, muito menos à noite – muito escura sem a iluminação pública – assim, era uma sensação estranha, estar ali, no imenso cortejo, naquele tempo as procissões eram muito concorridas, segurando a vela acesa protegida por um aparador de papel, ouvindo os cantos solenes e acompanhando a Via Sacra do Senhor, até sua morte, e morte de cruz.
Na estação em que a Verônica enxuga o rosto de Jesus e entoa seu canto pungido de dor, era uma soprano do coro que a representava, tudo parava e acho que eu ficava até de boca aberta, atenta, sem entender nada, mas gostando muito. Na volta, vendo o Senhor morto no andor, todo ensanguentado, sentia até certo medo.
Sexta feira, dia 15, como faço em todos os anos, participei e fotografei para o site e informativo da paróquia , uma das Vias Sacras que percorrem as ruas do bairro, durante a Quaresma e, passando pelas mesmas ruas, hoje muito diferentes, pensava na infância, na religiosidade do povo do bairro, na procissão com alguns quarteirões de comprimento e me perguntava: será que não é isso que falta neste mundo com tão pouco calor humano, onde os vizinhos mal se conhecem e a vida, por necessidade ou opção, nada mais é do que uma busca desenfreada pelo ter?
Via Sacra nas ruas do Brooklin 15 de abri de 2011
Muito lindo ver teu comprovante de Crisma. Com certeza é de um valor espiritual incalculável! Não tenho nada parecido. Cresci em outra igreja onde não existe Crisma, só batismos sem nenhuma espécie de comprovante. Mas a mim sobrou uma foto de um batismo feito no rio, por um pastor com traje branco. A foto foi publicada com meu nome em uma revista de Curitiba, e guardei um exemplar como comprovante de meu batismo nas águas. O que farão nossos filhos com tais documentos?
ResponderExcluirCamilo Roberto
Rio Preto
Posto aqui a resposta à pergunta do Camilo. Meus filhos, os dois, o filho e a filha, têm essa coisa de guardar recordações de tudo. Assim, acho que eles vão querer as poucas coisas que mantenho como recordações, poucas, por que não sou muito apegada e guardo o mínimo possível, exceto fotos, que tenho aos montes em papel e aos Gigas no micro. O tempo dirá...
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